Isaías 40.9: “Tu, que anuncias boas novas a Sião, sobe tu a um monte alto; tu, que anuncias boas novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aí está o vosso Deus!”
“A pregação do evangelho não é simplesmente a transmissão de informação religiosa, mas o anúncio de que Deus agiu decisivamente na história para salvar seu povo. É por isso que Paulo pode dizer que o evangelho é ‘poder de Deus para salvação’. Não são meramente palavras sobre Deus, mas a própria ação de Deus através das palavras.” D. Martyn Lloyd-Jones.
Quando nos Sentimos Esquecidos
Há momentos na vida quando o silêncio parece mais ensurdecedor que qualquer grito. O exílio babilônico era precisamente isso — um silêncio que ecoava por meio de corações partidos, onde as harpas permaneciam mudas e as canções se transformaram em lamentos. Como cantar ao Senhor em terra estranha? A pergunta dos salmistas ressoa ainda hoje em nossas próprias experiências de desterro espiritual, quando as circunstâncias nos fazem questionar se Deus ainda reina, se ainda se importa, se ainda virá.
Contudo, é exatamente nesse momento de aparente abandono que irrompe a voz profética com uma declaração que rasga o véu da desesperança: “Eis aí está o vosso Deus!” Não é uma sugestão tímida ou uma esperança hesitante — é um bradado triunfante que reivindica território nas trevas. As boas novas não são meramente informação; são invasão divina na nossa condição humana. Mas por que essa mensagem continua a ecoar através dos séculos? Por que essas palavras antigas ainda têm o poder de inflamar corações e transformar perspectivas?
Consolai, Consolai o meu Povo
O profeta Isaías não falava para uma audiência abstrata, mas para um povo que conhecia intimamente o sabor amargo da derrota. Jerusalém havia caído, o templo jazia em ruínas, e a promessa davídica parecia ter se desvanecido como fumaça. Era nesse contexto de luto nacional que Deus ordenou ao profeta: “Consolai, consolai o meu povo” (Is 40.1). O imperativo duplo revela a urgência divina — não um consolo superficial, mas um consolo que nasce da certeza inabalável de que a história ainda pertence ao Senhor.
“Cristo não é apenas o exemplo supremo de como viver, mas o substituto supremo por aqueles que falharam em viver como deveriam. Ele não veio principalmente para nos mostrar como fazer, mas para fazer por nós o que não podíamos fazer. Esta é a essência das boas novas: Cristo fez por nós o que a lei exigia, e suportou por nós o que a lei ameaçava.” John Stott.
As boas novas de Isaías transcendem os limites temporais porque apontam para uma realidade que se estende muito além da restauração política de Israel. Quando o profeta clama “Eis aí está o vosso Deus!”, ele não está simplesmente anunciando o fim do cativeiro babilônico, mas revelando o grande tema da redenção que atravessa toda a Escritura: Deus vem ao seu povo. Esta é a essência do evangelho — não que subimos até Deus, mas que Ele desce até nós.
A imagem das trevas e da luz que permeia o livro de Isaías não é meramente poética; é teológica. As trevas representam mais que ignorância — representam a condição de alienação de Deus que caracteriza a humanidade caída. É a escuridão de corações que se voltaram para si, de mentes que rejeitaram a revelação divina, de vontades que escolheram a rebelião. Contudo, a luz que Isaías proclama não é gradual como o alvorecer, mas súbita como o relâmpago — “o povo que andava em trevas viu uma grande luz” (Is 9.2).
“A luz de Cristo não é meramente informativa, mas transformativa. Ela não apenas revela nossa condição, mas altera nossa condição. Quando Jesus disse ‘Eu sou a luz do mundo’, Ele não estava fazendo uma declaração poética, mas uma afirmação de poder redentor. Sua luz não apenas expõe as trevas, mas as dissipa.” R.C. Sproul.
Aqui reside a beleza singular das boas novas bíblicas: elas não dependem de nossa capacidade de produzi-las ou merecê-las. A mensagem “Eis aí está o vosso Deus!” é simultaneamente simples e profunda, acessível e inesgotável. João, o discípulo amado, compreendeu isso quando escreveu que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). A glória que Isaías antecipou encontrou sua manifestação definitiva na pessoa de Jesus Cristo — não como conquista militar ou restauração política, mas como presença encarnada do próprio Deus.
Esta presença divina dissipa as trevas não por meio de argumentação ou persuasão, mas mediante revelação pura. Quando Jesus declara “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12), Ele não está fazendo uma comparação metafórica, mas uma afirmação ontológica. Ele é a própria luz que Isaías previu, a glória que toda carne veria, as boas novas personificadas.
Ele nos Amou
O evangelho, portanto, não é primariamente sobre o que fazemos, mas sobre quem Deus é e que Ele veio. As boas novas que Isaías proclamou encontram seu cumprimento não em nossa capacidade de escapar das trevas, mas na realidade de que a Luz veio até nós nas trevas. Cristo não esperou que nos tornássemos dignos; Ele veio enquanto ainda éramos pecadores (Rm 5.8).
Esta é a esperança que lança fora o medo — não a esperança baseada em nossa performance espiritual, mas a esperança fundamentada no caráter imutável de Deus e em sua obra consumada em Cristo. Quando contemplamos Jesus na manjedoura, vemos a humildade de Deus que se identifica com nossa fragilidade. Quando O vemos na cruz, testemunhamos o amor de Deus que remove nossa culpa. Quando O vemos ressurreto, celebramos o poder de Deus que quebra nossa mortalidade. E quando O vemos exaltado, adoramos a majestade de Deus que garante nosso futuro.
As trevas podem parecer densas, as circunstâncias podem sussurrar desespero, mas as boas novas ecoam mais alto: “Eis aí está o vosso Deus!” Ele não está distante, indiferente ou ausente. Ele veio, Ele venceu, e Ele vem novamente.
“O evangelho é tanto evento quanto proclamação, tanto fato histórico quanto verdade existencial. Cristo não apenas morreu pelos pecados do mundo; Ele morreu pelos meus pecados. A salvação não é apenas disponível; ela é pessoal. As boas novas não são apenas verdadeiras; elas são minhas.” Sinclair Ferguson.
Como vivemos?
Quando as circunstâncias gritam abandono, lembremo-nos de que nossa percepção temporal é limitada, mas a fidelidade de Deus é eterna. As trevas podem ser reais, mas não são definitivas. A luz de Cristo já rompeu a escuridão fundamental, e nenhuma treva subsequente pode reverter essa vitória.
Não guardamos essa mensagem como tesouro privado, mas a proclamamos “fortemente” e “sem temor”. Em nossos relacionamentos, trabalho e comunidade, carregamos a responsabilidade alegre de anunciar: “Eis aí está o vosso Deus!” Isso pode acontecer por meio de palavras diretas, mas frequentemente por meio de vidas que refletem a realidade da presença divina.
Quando enfrentamos injustiça, respondemos com o amor de Cristo. Quando confrontamos sofrimento, oferecemos a compaixão de Cristo. Quando encontramos desesperança, compartilhamos a esperança de Cristo. Cristo não apenas veio; Ele está conosco hoje através de seu Espírito. Não apenas morreu por nossos pecados; Ele vive para sempre fazer intercessão por nós.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.” João Evangelista, Evangelho de João 1.1-5.
Oremos
Pai celestial, Tu que ordenaste consolação ao Teu povo, agradecemos-Te por teres cumprido Tua promessa de maneira que supera nossa compreensão. Quando as trevas deste mundo parecem prevalecer, lembra-nos de que Cristo é a Luz que não pode ser extinta. Perdoa-nos por tantas vezes buscarmos esperança em lugares que só oferecem desilusão, quando Tu mesmo vieste habitar entre nós. Capacita-nos, Senhor, a sermos fiéis arautos dessas boas novas, proclamando não apenas com palavras, mas com vidas transformadas, que “eis aí está o nosso Deus!” Que nossa esperança seja contagiante, nossa alegria seja genuína, e nosso amor seja reflexo do Teu amor por nós. Fortalece-nos nos dias de dificuldade para lembrarmos que Tu reinas soberanamente sobre toda circunstância. E nos dias de alegria, guarda-nos para não esquecermos que toda boa dádiva vem de Ti. Que sejamos povo que vive à luz da Tua presença, aguardando com expectativa o dia quando Tua glória será plenamente revelada a toda carne. Em nome de Jesus Cristo, nossa Luz e nossa Salvação, amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!