Romanos 14.7-8: “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.”
Existe esperança
“O cristianismo não é principalmente uma filosofia de vida, mas uma vida. Não é principalmente uma compreensão de Deus, mas um relacionamento com Deus. É por isso que o Novo Testamento fala muito mais sobre ‘conhecer a Deus’ do que sobre ‘conhecer sobre Deus’.”
J. I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 89.
Há uma pergunta que ecoa através dos séculos, atravessando as salas silenciosas dos hospitais, os corações partidos dos enlutados e as mentes inquietas dos que buscam sentido: onde encontrar esperança quando tudo parece fugir de nossas mãos? Em uma cultura que idolatra a autonomia e celebra o controle pessoal, o evangelho nos surpreende com uma resposta paradoxal: nossa esperança não está em sermos senhores de nós mesmos, mas em descobrirmos que nunca o fomos. Como pode a negação da propriedade sobre nossa própria vida ser a fonte de nossa maior consolação? Esta tensão não é acidental – é o próprio coração da fé cristã, onde a entrega total se torna a porta para a liberdade verdadeira.
Nenhum de nós Vive par si
Paulo, escrevendo aos romanos, não está apenas oferecendo uma reflexão filosófica sobre a existência humana. Ele está declarando uma verdade ontológica que redefine completamente nossa compreensão de identidade e propósito. Quando afirma que “nenhum de nós vive para si”, o apóstolo não está sugerindo uma vida de altruísmo moral, mas proclamando uma realidade fundamental: fomos criados para viver em relação com o Deus eterno e não em autonomia.
“O pecado é essencialmente uma tentativa de ser Deus – de colocar a si mesmo no centro do universo, de fazer de si mesmo a medida de todas as coisas, de viver como se fôssemos autossuficientes e autônomos.”
R.C. Sproul, A Santidade de Deus, p. 134.
A palavra grega utilizada por Paulo para “viver” carrega consigo não apenas o conceito de existência biológica, mas de vida plena e significativa. Nossa esperança, portanto, não reside em conquistarmos independência de Deus, mas em descobrirmos nossa verdadeira dependência dele. Esta não é uma escravidão, mas uma libertação – como um peixe que encontra sua liberdade não fora da água, mas dentro dela.
Calvino, com sua precisão teológica característica, compreendeu que esta verdade é tanto descritiva quanto prescritiva. Não somos de nós mesmos porque fomos comprados por alto preço, e esta compra não foi uma transação comercial fria, mas um ato de amor incondicional. Cristo não nos adquiriu para nos explorar, mas para nos libertar da tirania do ego e da angústia da auto-determinação.
Esta perspectiva revoluciona nossa compreensão da esperança. Em vez de buscarmos segurança em nossa capacidade de controlar circunstâncias, encontramos paz em pertencer àquele que governa soberanamente sobre todas as coisas. Nossa esperança não está em sermos capitães de nosso próprio destino, mas em descobrirmos que temos um Capitão que nunca perde uma batalha, nunca abandona seu posto e nunca falha em conduzir seus filhos ao porto seguro.
Na Vida e na Morte, somos do Senhor
A resposta do Catecismo de Heidelberg ressoa através dos séculos como uma sinfonia de consolo: nossa única esperança é que pertencemos, de corpo e alma, na vida e na morte, a nosso fiel Salvador Jesus Cristo. Esta não é uma esperança frágil, dependente de nossa força ou constância, mas uma esperança fundamentada na fidelidade imutável de Deus. Cristo se entregou totalmente por nós, e esta entrega total não foi temporária, mas eterna. Ele não nos salvou para depois nos abandonar à nossa própria sorte, mas para nos manter seguros em suas mãos poderosas.
Na vida, esta esperança nos liberta da pressão de sermos nossos próprios salvadores. Na morte, ela nos assegura que nem mesmo o último inimigo pode nos separar do amor de Deus. Nossa esperança não é uma corda frágil à qual nos agarramos desesperadamente, mas correntes de ouro que nos ligam eternamente ao trono da graça.
Nossa esperança se torna prática quando paramos de tentar escrever nossa própria história e começamos a confiar no Autor da história. Quando deixamos de ser protagonistas ansiosos e nos tornamos personagens gratos na grande narrativa da redenção.
Senhor Jesus, reconhecemos que nossa tendência natural é clamar por autonomia quando deveríamos clamar por dependência. Perdoa-nos por buscarmos esperança em nós mesmos, quando nossa única esperança verdadeira está em ti. Ajuda-nos a viver cada dia na alegria de sabermos que pertencemos a ti, que foste fiel ontem, és fiel hoje e serás fiel amanhã. Que esta verdade transforme nossa ansiedade em paz, nosso medo em confiança, e nossa busca por controle em entrega amorosa. Ensina-nos a encontrar nossa identidade não em nossas conquistas ou fracassos, mas na realidade gloriosa de que somos teus filhos amados. Na vida e na morte, que nossa esperança esteja firmada em ti, nosso Salvador e Senhor. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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