Daniel 1:8 – “Daniel, porém, resolveu firmemente não se contaminar com as iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar.”
Coragem para ser Diferente
“Não há nada mais importante na vida cristã do que a resolução. Sem ela, nossa piedade não passa de mera intenção; com ela, nossa fé torna-se ação transformadora. A resolução é o ponto onde a eternidade toca o tempo, onde os propósitos de Deus se tornam nossos propósitos.” Charles Hodge, Teologia Sistemática.
Há momentos na história humana em que uma alma jovem se ergue diante do império do mundo e, com voz serena mas inabalável, declara: “Não”. Daniel, ainda adolescente, enfrentou o esplendor babilônico com uma resolução que ecoaria através dos séculos. Mas que força misteriosa habita no coração humano capaz de resistir às seduções mais refinadas? Que tesouro escondido vale mais que todos os prazeres de uma corte real?
Jonathan Edwards, aos dezenove anos, compreendeu este mesmo mistério quando escreveu suas setenta resoluções – não como mero exercício moral, mas como âncoras lançadas na eternidade. “Estando ciente de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus”, escreveu ele, reconhecendo que as firmes resoluções nascem não da força humana, mas da graça divina que transforma jovens cativos em príncipes do Reino.
Vivemos tempos em que as resoluções se tornaram piadas de ano novo, promessas frágeis que se desfazem ao primeiro vento contrário. Mas Daniel nos ensina que existe um tipo de resolução que não conhece recuo – aquela forjada no altar da consciência e temperada no fogo da devoção a Deus.
Conectado com a Eternidade
A resolução de Daniel sugere algo mais profundo que uma simples decisão: é um estabelecimento do coração, uma ancoragem da alma em princípios eternos. Daniel não apenas “decidiu” – ele se posicionou com toda a força de seu ser diante de uma linha que jamais cruzaria.
“O cristão não pode viver uma vida dividida. Ou Cristo é Senhor de tudo, ou não é Senhor de nada. A fé verdadeira sempre produz frutos visíveis, e estes frutos se manifestam em todas as áreas da vida – família, trabalho, relacionamentos, uso do tempo e dos recursos.” Abraham Kuyper, Calvinismo.
Observe a sabedoria desta resolução: Daniel não confrontou diretamente o sistema, mas “pediu” permissão para não se contaminar. Era uma firmeza vestida de mansidão, uma resistência que não precisava gritar para ser ouvida. Edwards captou esta mesma essência ao combinar “exercício mental e intelectual de um gigante com piedade quase infantil” – a verdadeira firmeza não é arrogância disfarçada, mas humildade que conhece seus fundamentos.
As iguarias do rei representavam mais que alimento; eram símbolos de assimilação cultural, convites sedutores para que Daniel se tornasse indistinguível dos filhos de Babilônia. Toda geração enfrenta suas próprias “iguarias do rei” – ofertas brilhantes que prometem sucesso, aceitação e conforto em troca de pequenas concessões na integridade.
Edwards percebia que “o Deus que criou o mundo em toda a sua beleza, também é perfeito em sua santidade”. Esta visão integrada da realidade permitia-lhe firmes resoluções que não dividiam o sagrado do secular, mas viam toda a vida como arena para a glória divina. Suas resoluções nasciam da compreensão de que servimos a um Deus simultaneamente “infinitamente complexo quanto maravilhosamente simples”.
A resolução de Daniel revela uma verdade paradoxal: quanto mais nos ancoramos no eterno, mais livres nos tornamos no temporal. Sua recusa em se contaminar não o tornou irrelevante para Babilônia, mas sim indispensável. Deus honrou sua firmeza concedendo-lhe sabedoria que superava todos os magos e encantadores do reino.
“A liberdade não consiste em fazer o que se quer, mas em ter o direito de fazer o que se deve. A verdadeira liberdade é a capacidade de escolher o bem mesmo quando o mal se apresenta mais atrativo. É a força interior que nos permite dizer não aos nossos impulsos inferiores e sim aos nossos ideais mais elevados.” Victor Hugo, Os Miseráveis.
Resolva Firmemente
No final, descobrimos que as firmes resoluções não são grilhões que limitam nossa liberdade, mas asas que nos elevam acima das correntes mesquinhas da conformidade. Daniel nos mostra que é possível viver em Babilônia sem ser de Babilônia, servir em palácios terrenos sem esquecer nossa cidadania celestial.
“A santificação é obra do Espírito Santo livre e gracioso de Deus, pela qual somos renovados segundo a imagem de Deus em todo o nosso ser, e capacitados mais e mais a morrer para o pecado e viver para a justiça.” Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 75.
“Não podemos separar o que Deus uniu. A fé verdadeira sempre produz obras verdadeiras; as obras verdadeiras sempre fluem da fé verdadeira. Uma fé sem obras é morta; obras sem fé são vãs. Mas quando ambas se unem pela graça de Deus, produzem uma vida que glorifica ao Criador.” João Calvino, Institutas da Religião Cristã.
Cristo, nosso maior exemplo, “resolveu firmemente” ir a Jerusalém (Lucas 9:51), mesmo sabendo que O aguardava a cruz. Suas firmes resoluções não O pouparam do sofrimento, mas O conduziram através dele até a glória. Em Cristo, nossas resoluções mais nobres encontram não apenas modelo, mas poder para sua realização.
Como Edwards proclamava, servimos a um Deus que “exigia arrependimento e fé das suas criaturas humanas” – Ele nos chama a resoluções que correspondam à grandeza de Sua chamada. Não somos chamados a viver vidas medíocres pontilhadas por boas intenções, mas a lançarmos nossas âncoras na rocha eterna de Sua Palavra.
E agora, como viveremos?
Examine hoje as “iguarias do rei” em sua própria Babilônia. Onde sua cultura oferece conforto, aceitação ou vantagem em troca de pequenas concessões na integridade? Como Daniel, comece não com confronto, mas com oração e pedido de sabedoria.
Estabeleça resoluções específicas e concretas, ancoradas não em sua força, mas na graça de Deus. Como Edwards, reconheça humildemente sua incapacidade e lance-se sobre a suficiência divina. Escreva suas próprias resoluções – não como lei legalista, mas como lembretes de quem você é em Cristo.
No trabalho, resista à tentação de pequenos compromissos éticos que “todos fazem”. Nos relacionamentos, mantenha pureza mesmo quando isso significar solidão temporária. Nas finanças, pratique generosidade mesmo quando a prudência mundana aconselha avareza.
Lembre-se: firmeza sem mansidão torna-se arrogância; mansidão sem firmeza torna-se fraqueza. Daniel combinou ambas porque sua resolução nascia não do orgulho humano, mas da reverência a Deus. Busque esta mesma combinação em suas próprias resoluções, sabendo que Aquele que começou boa obra em você a completará.
“A vida não é medida pelo número de respirações que tomamos, mas pelos momentos que tiram nossa respiração. E os momentos mais extraordinários são aqueles em que escolhemos o caminho difícil por ser o certo, quando dizemos sim ao dever e não ao prazer, quando nossa pequena luz brilha contra as trevas do mundo.” Maya Angelou, Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola.
Oremos
Deus soberano e gracioso, como Daniel diante das tentações babilônicas, apresento-me diante de Ti reconhecendo minha fraqueza e necessidade de Tua graça. Concede-me firmeza de caráter que não se dobra diante das pressões deste mundo, mas também a mansidão que sabe pedir sabedoria antes de confrontar.
Ajuda-me a discernir as “iguarias do rei” em minha própria vida – aquelas ofertas sedutoras que prometem conforto em troca de compromissos na integridade. Fortalece-me para dizer “não” quando necessário, e “sim” quando Tu me chamares a caminhos difíceis, mas justos.
Como Edwards em suas resoluções, eu me lanço sobre Tua suficiência, sabendo que sou incapaz de qualquer coisa boa sem Tua ajuda. Capacita-me através de Tua graça a viver resoluções firmes que reflitam Tua glória e avancem Teu Reino. Em nome de Jesus Cristo, que resolveu firmemente ir à cruz por minha salvação. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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