Êxodo 28:3. “E a todos os sábios de coração, a quem eu tenho enchido do espírito de sabedoria, que façam as vestes de Arão para santificá-lo, para que me sirva no ofício sacerdotal.”
RESOLUÇÃO 2. Resolvo empenhar-me continuamente em descobrir novas maneiras e invenções para promover as coisas acima mencionadas.
Piedade Vrs. Estagnação
“Deus é infinitamente criativo em Sua obra de criação e redenção. Ele não Se limita a métodos antigos ou formas tradicionais. Ele está sempre fazendo coisas novas, e chama Seu povo para participar desta criatividade divina. A inovação piedosa não é rebelião contra Deus, mas imitação de Deus.” Kuyper, Abraham. Lectures on Calvinism, p. 156.
Existe uma heresia sutil que infecta a alma cristã: a crença de que a piedade genuína é inimiga da criatividade, que a santidade exige uniformidade, que seguir a Cristo significa abraçar a inatividade como virtude. Quantos cristãos vivem como se Deus fosse um déspota monótono que se deleita apenas na repetição mecânica de rituais vazios? Quantos reduzem a vida cristã a uma lista de “faça” e “não faça”, desprezando o chamado divino para descobrir “maneiras bíblicas e criativas” de promover Sua glória?
Quando o jovem Jonathan Edwards resolve “empenhar-se continuamente em descobrir novas maneiras e invenções para promover as coisas acima [anteriormente] mencionadas“, ou seja, a glória de Deus e o bem da humanidade, ele está desafiando séculos de cristianismo enrigecido. Não se trata de inovação pela inovação, mas de uma santa inquietação que se recusa a contentar-se com uma rotina religiosa. É a sede de uma alma que compreendeu que servir ao Deus infinitamente criativo gera uma criatividade correspondente.
“A verdadeira piedade não é inimiga da arte, da beleza ou da criatividade. Pelo contrário, ela é a fonte mais pura de toda criatividade genuína. Quando o coração é tocado pela graça de Deus, ele não pode deixar de buscar novas formas de expressar louvor e gratidão.” Edwards, Jonathan. The Nature of True Virtue, p. 234.
“Não devemos pensar que servir a Deus significa fazer sempre as mesmas coisas da mesma maneira. Deus Se deleita na variedade, na criatividade, na inovação piedosa. Ele nos deu mentes para pensar, corações para sentir, e mãos para criar – tudo para Sua glória.” Calvino, João. Comentário sobre Êxodo, Cap. 28, p. 445.
Mas aqui está o paradoxo que deveria nos atormentar: se somos chamados a ser “imitadores de Deus” (Efésios 5:1), e Deus é o supremo Criador, por que nossa piedade é tão frequentemente caracterizada pela estagnação? Por que nossa adoração é tão estática, nossa evangelização tão repetitiva, nosso serviço tão mecânico?
Sempre fizemos assim
“O cristão é chamado a ser um artista da vida, criando constantemente novas formas de expressar fé, esperança e amor. Não devemos nos contentar com formas mortas de piedade, mas buscar sempre novas maneiras de servir ao Deus vivo.” Peterson, Eugene. A Long Obedience in the Same Direction, p. 189.
A resolução de Edwards revela uma verdade teológica profunda: a criatividade não é um ornamento opcional da vida cristã, mas uma expressão natural da imagem de Deus em nós. Quando Deus soprou em Adão o fôlego de vida, Ele não criou apenas um servo obediente, mas um co-criador, alguém capacitado a descobrir, inventar, inovar para a glória do Criador.
Observe a linguagem de Edwards: “empenhar-me continuamente”. Não é um esforço esporádico ou uma inspiração ocasional, mas um compromisso constante com a renovação criativa. Aqui está um homem que entendeu que a rotina espiritual pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição – bênção quando nos ancoramos em verdades eternas, maldição quando nos acomodamos em formulas religiosas.
A palavra “invenções” é particularmente reveladora. Edwards não está falando de meras modificações cosméticas em práticas já estabelecidas, mas de caminhar com Cristo em uma vida que se renova diariamente e se manifesta no seu serviço a Deus. É como se ele compreendesse que o Deus infinito não pode ser honrado adequadamente por um repertório finito de práticas religiosas.
Esta não é a criatividade narcisista da cultura contemporânea, que busca novidade pela novidade. É a criatividade santificada que brota da insatisfação santa, a recusa de se contentar com “sempre fizemos assim” quando há novas montanhas de glória a serem escaladas, novos oceanos de graça a serem explorados.
“A santificação não é apenas abandono do pecado, mas também desenvolvimento de novas capacidades para glorificar a Deus. Inclui crescimento em criatividade, em sabedoria, em habilidade para inventar novas formas de servir.” Bavinck, Herman. Reformed Dogmatics, Vol. 4, p. 267.
“Aquele que é verdadeiramente convertido não se contenta em fazer as mesmas coisas da mesma maneira. Ele busca constantemente novas maneiras de expressar seu amor a Deus e ao próximo. A conversão genuína desperta a criatividade santa.” Lloyd-Jones, D. Martyn. Spiritual Depression, p. 145.
Considere o contexto histórico de Edwards. Ele viveu em uma época de despertar espiritual, quando Deus estava fazendo “coisas novas” na Nova Inglaterra. O próprio Edwards foi um pioneiro – na filosofia, na teologia, na psicologia religiosa. Suas “invenções” incluíam novas estratégias para a pregação, novas maneiras de discernir a obra genuína do Espírito Santo.
Mas aqui está o que diferencia a criatividade de Edwards da inovação mundana: suas invenções eram sempre subservientes às “coisas acima mencionadas” – a glória de Deus e o bem da humanidade. Sua criatividade não era autônoma, mas teonômica1; não era um fim em si mesma, mas um meio para fins mais elevados.
Conclusão
“Deus não nos salvou para que fôssemos cristãos medíocres, mas para que fôssemos cristãos criativos. Ele nos deu nova vida para que pudéssemos descobrir novas maneiras de viver para Sua glória. A salvação é o início da criatividade, não seu fim.” Piper, John. Don’t Waste Your Life, p. 234.
A resolução de Edwards confronta nossa tendência de transformar a fé em rotina, a adoração em hábito, o serviço em obrigação. Ela nos lembra que servimos a um Deus que “faz novas todas as coisas” (Apocalipse 21:5), e que nossa resposta a Ele deve refletir essa novidade criativa.
O evangelho não nos chama para uma vida de repetição monótona, mas para uma aventura criativa sem fim. Cristo não morreu para nos dar uma religião estagnada, mas para nos libertar para descobrir incessantemente novas dimensões de Sua glória, novas formas de expressar Seu amor, novas maneiras de servir Seu reino.
Mas cuidado: esta não é uma licença para abandomar a ortodoxia em nome da originalidade. A criatividade cristã autêntica sempre opera dentro dos limites da verdade revelada, sempre visa à glória de Deus, sempre serve ao bem da humanidade. É criatividade santificada, não criatividade secularizada.
“A Igreja de Cristo deve ser a comunidade mais criativa do mundo, porque serve ao Deus mais criativo do universo. Quando a Igreja se torna rotineira e previsível, ela deixa de refletir a natureza de seu Senhor.” Kuyper, Abraham. Our Worship, p. 89.
“O fim principal do homem é glorificar a Deus e desfrutar dele para sempre. Mas há infinitas maneiras de glorificar a Deus e infinitas formas de desfrutar dele. A vida cristã é uma eterna descoberta de novas dimensões da glória divina.” Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 1, Comentário Expandido, p. 23.
E agora, como viveremos?
Como, então, aplicamos a resolução criativa de Edwards em nossa vida diária?
Examine sua rotina espiritual. Sua vida devocional se tornou mecânica? Sua adoração se tornou previsível? Sua forma de servir se tornou repetitiva? Peça a Deus sabedoria para descobrir novas maneiras de se conectar com Ele, novas formas de expressar louvor, novos métodos de servir.
Observe as necessidades ao seu redor. Que problemas em sua família, igreja, comunidade ou trabalho poderiam ser abordados de maneiras inovadoras? Como você pode usar seus talentos únicos, seus recursos específicos, sua posição particular para promover a glória de Deus de formas ainda não exploradas?
Estude a Escritura com fome de descoberta. Não se contente com interpretações superficiais ou aplicações óbvias. Peça ao Espírito Santo para ampliar sua compreensão da Palavra de Deus e as implicações para a vida cristã. A Bíblia é um tesouro inesgotável que recompensa quem tem fome e sede dela.
Colabore com outros cristãos em projetos que servem a Deus. Edwards não era um inovador solitário, mas trabalhava em comunidade. Reúna-se com irmãos na fé para compartilhar sobre como sua igreja pode alcançar a comunidade de maneiras novas, como seu grupo pequeno pode aprofundar sua comunhão, como sua família pode expressar fé de formas criativas.
Mantenha-se sempre ancorado no propósito: tudo para a glória de Deus e o bem da humanidade. Suas invenções devem sempre servir a estes fins elevados, não à sua própria glória ou entretenimento.
Oremos
Pai de amor, que no princípio criaste os céus e a terra e ainda hoje continuas fazendo novas todas as coisas, perdoa-me por quantas vezes reduzi minha fé a rotinas vazias e minha adoração a hábitos mecânicos. Perdoa-me por me contentar com a mediocridade espiritual quando Tu me chamaste para ser Teu co-criador. Desperta em mim a santa inquietação de Jonathan Edwards. Dá-me sabedoria para descobrir novas maneiras de Te glorificar, novas formas de servir ao próximo, novas invenções para promover Teu reino. Que eu nunca me acomode com “sempre fizemos assim” quando há territórios inexplorados de piedade esperando para serem descobertos. Enche-me do Espírito de sabedoria e criatividade. Ajuda-me a ver as necessidades ao meu redor com olhos puros e santos. Capacita-me a usar meus talentos únicos de maneiras que jamais imaginei possíveis. Guarda-me de buscar novidade pela novidade, criatividade pela criatividade. Que minha vida como seu discípulo, sirva ao Teu propósito eterno e ao bem da humanidade. Que eu seja um pioneiro santo, um canal de tua graça, um jardineiro cultivando uma santa vida de adoração. Em nome de Jesus, o supremo Criador e Redentor, amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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- A palavra Teonomia é composta pelas partículas “Teo” e “Nomia”. “Teo” aponta para o termo grego “Theos” que significa, literalmente, “Deus”. E a partícula “Nomia” remete ao grego “Nomos” que, literalmente, significa “Lei”. Logo, o termo Teonomia deve ser entendido como “Lei de Deus”. Ao contrário da Autonomia, que supõe que moral, política, filosofia, bioética e outras áreas do conhecimento são estabelecidas a partir do indivíduo, a Teonomia coloca Deus no centro e propõe glorificá-lo em todo campo de estudo humano. A Teonomia é uma visão ética cristã que afirma que a Lei de Deus revelada na Escritura, tanto no Novo quanto Antigo Testamento, é o único padrão de autoridade, verdade e justiça. ↩︎

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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