1 João 1:9. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”
RESOLUÇÃO 03. “Resolvo que se alguma vez eu cair e me tornar negligente, a ponto de deixar de observar alguma destas resoluções, arrepender-me de tudo o que me lembrar, quando voltar a mim.”
Arrependimento
“O homem não regenerado busca a santificação para ser justificado. O homem regenerado busca a justificação para ser santificado. O primeiro busca justiça própria; o segundo busca a justiça de Cristo. O primeiro é movido pelo temor servil; o segundo, pelo amor filial. O primeiro trabalha para obter vida; o segundo trabalha porque já tem vida.” Augustus Nicodemus Lopes, Piedade Sem Máscara, p. 127.
Quantas vezes não traçamos resoluções espirituais com a sinceridade de um coração inflamado, apenas para descobrir, dias depois, que nossa carne é mais fraca do que imaginávamos? Jonathan Edwards, um gigante da fé do século XVIII, conhecia bem essa realidade. Em sua terceira resolução, ele não apenas reconhece a inevitabilidade da queda, mas antecipa o caminho de volta: o arrependimento.
Que estranha sabedoria há nesta resolução! Edwards não diz “se eu cair” com a ingenuidade de quem acredita que talvez isso não aconteça. Ele diz “se alguma vez eu cair” com a maturidade de quem conhece a própria fraqueza. Mas então, numa guinada que revela sua compreensão profunda da graça, ele estabelece o protocolo da restauração: “arrepender-me de tudo o que me lembrar, quando voltar a mim.”
“A verdadeira marca da conversão não é a ausência de pecado, mas a presença de uma nova natureza que odeia o pecado e luta contra ele. O cristão genuíno não é aquele que nunca peca, mas aquele que, quando peca, não encontra descanso até que tenha confessado e abandonado seu pecado.” Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 891.
Aqui está a tensão que todo cristão enfrenta: como viver com integridade espiritual sabendo que somos propensos ao fracasso? Como manter a seriedade dos nossos compromissos com Deus sem cair no desespero quando falhamos? Edwards nos mostra que a resposta não está na perfeição, mas na direção, não na ausência de falhas, mas na rapidez com que nos arrependemos.
Arrependimento verdadeiro
O texto de João ecoa no mesmo espírito da resolução Edwards . “Se confessarmos” – não “quando formos perfeitos”, mas “se confessarmos”. A conjunção condicional não sugere incerteza sobre nossa necessidade de confissão, mas certeza sobre a disponibilidade da graça. É como se João e Edwards, separados por séculos, conversassem sobre a mesma verdade fundamental: Deus não se surpreende com nossas falhas, não ignora nossos erros, mas se deleita em nosso retorno.
“O arrependimento não é uma obra que fazemos uma vez por todas; é uma graça que deve ser exercitada todos os dias. Devemos nos arrepender não apenas de nossos pecados grosseiros, mas também de nossos melhores deveres, pois mesmo estes são imperfeitos e contaminados pelo pecado.” B.B. Warfield, Obras Selectas, Vol. 3, p. 234.
“A santificação é uma obra de toda a vida. Nela, o cristão deve morrer diariamente para o pecado e viver para a justiça. Esta morte diária não é uma morte literal, mas uma morte espiritual – um abandono constante do pecado e uma renovação constante da mente e do coração.” Herman Bavinck, Dogmática Reformada, Vol. 4, p. 478.
Edwards compreende que a santificação não é um estado de perfeição instantânea, mas um processo de “voltar a si” repetidas vezes. A expressão “quando voltar a mim” ecoa a parábola do filho pródigo, que “caiu em si” antes de voltar ao pai. Edwards reconhece que há momentos em que perdemos a clareza espiritual, em que nos tornamos “negligentes” – palavra que sugere não rebelião deliberada, mas descuido gradual, uma espécie de sonambulismo espiritual.
Mas note a especificidade de sua resolução: “arrepender-me de tudo o que me lembrar”. Aqui está uma compreensão profunda da natureza do arrependimento verdadeiro. Não é um sentimento vago de remorso, mas um inventário específico e consciente. Edwards entende que o arrependimento genuíno é trabalho árduo da memória e da consciência. É a coragem de olhar para trás e nomear, um por um, os momentos em que nossa devoção esfriou, nossa vigilância relaxou, nossa obediência vacilou.
Esta resolução revela também uma teologia madura do fracasso. Edwards não vê a queda como o fim da jornada espiritual, mas como parte dela. Ele antecipa não apenas a possibilidade da restauração, mas sua necessidade. Há algo profundamente evangélico nesta perspectiva: reconhecer que nossa esperança não repousa em nossa constância, mas na fidelidade de Deus; não em nossa capacidade de manter resoluções, mas em nossa disposição de retornar quando as quebramos.
A conexão com 1 João 1:9 é ainda mais profunda quando consideramos que João escreve para cristãos, não para incrédulos. A confissão não é o primeiro passo da vida cristã, mas um ritmo constante dela. “Ele é fiel e justo” – aqui está o fundamento da resolução de Edwards. Nossa esperança não está em nossa capacidade de lembrar de todos os pecados (pois nossa memória é falha), mas na fidelidade de Deus em perdoar e purificar.
“Há apenas uma coisa pior do que ter uma alma perversa, e é ter uma alma perversa e estar contente com ela. Pois ao menos enquanto sabemos que somos perversos, há esperança de melhoria; mas quando estamos satisfeitos com nossa perversidade, então verdadeiramente estamos perdidos.” C.S. Lewis, O Grande Abismo, p. 89.
Erguidos pela graça
“Não há pecado maior do que não reconhecer o pecado; não há virtude maior do que reconhecer a própria falta de virtude. O homem que se conhece verdadeiramente é o homem que mais se aproxima da verdade, pois a verdade sobre nós mesmos é o primeiro degrau para a verdade sobre todas as coisas.” Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamázov, p. 894.
Edwards não resolve nunca cair – isso seria presunção. Ele resolve sempre voltar – isso é graça. Há uma humildade profunda em antecipar o próprio fracasso, mas há uma fé ainda mais profunda em antecipar o perdão de Deus.
Cristo é tanto o modelo quanto o meio desta resolução. Ele é o modelo porque nunca precisou “voltar a si” – sua obediência foi perfeita. Ele é o meio porque sua obra perfeita torna possível nosso retorno imperfeito. Na cruz, Jesus carregou não apenas nossos pecados deliberados, mas também nossa negligência, nosso esquecimento, nossa tendência à sonolência espiritual.
A resolução de Edwards nos convida a uma espiritualidade realista e esperançosa. Realista porque reconhece nossa propensão ao fracasso. Esperançosa porque estabelece o caminho de volta. Não somos chamados a ser perfeitos, mas a ser penitentes. Não a nunca cair, mas a sempre nos levantarmos pela graça de Cristo.
“A graça de Deus não apenas nos perdoa quando confessamos nossos pecados, mas também nos capacita a confessar pecados que nem mesmo lembramos ou reconhecemos. O Espírito Santo trabalha em nós tanto para nos dar consciência do pecado quanto para nos dar fé na suficiência do perdão.” Joel R. Beeke, Teologia Experimental Reformada, p. 311.
E agora, como viveremos?
Como você pode viver esta resolução hoje?
Reconhecer que haverá fracassos não é pessimismo, mas maturidade espiritual. Estabeleça ritmos regulares de autoexame – pergunte-se recorrentemente: “Em que momentos me tornei negligente com Deus?”
Cultive a arte de relembrar sua história. Edwards fala em “tudo o que me lembrar” – isso sugere um trabalho intencional da memória, não uma confissão genérica.
Mude sua perspectiva sobre o fracasso espiritual. Em vez de vê-lo como evidência de que você não é um “bom cristão”, veja-o como oportunidade de experimentar a graça de Deus de forma mais profunda, de subir um pouco mas na escalada da santificação.
Conecte sua prática do arrependimento com a comunidade cristã. Edwards viveu numa época em que a prestação de contas espiritual era natural. Encontre alguém com quem você possa compartilhar suas lutas e seus retornos.
Lembre-se de que a resolução de Edwards não é um fardo adicional, mas um alívio. Ela nos liberta da pressão de ser perfeitos e nos convida à liberdade de sermos perdoados. Não seja negligente em suas resoluções, mas quando for, não seja negligente em seu arrependimento.
“A verdadeira grandeza não consiste em nunca cair, mas em se levantar cada vez que se cai. O homem verdadeiramente grande não é aquele que nunca precisa de perdão, mas aquele que nunca se cansa de buscá-lo e oferecê-lo.” Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão, p. 421.
Oremos
Pai celestial, obrigado por Jonathan Edwards e por sua sabedoria realista. Obrigado por ele ter nos mostrado que podemos ter consciência de que iremos falhar sem nos entregarmos ao desespero, porque podemos ter certeza de tua graça. Senhor, Tu conheces nossa tendência à negligência, nosso coração dividido, nossa memória seletiva. Mas Tu também conheces nosso desejo sincero de Te servir com integridade. Concede-nos a humildade para reconhecer nossa fraqueza, mas também sua fé para confiar em tua fidelidade. Quando cairmos – e sabemos que cairemos – dá-nos a graça de “voltar a nós” rapidamente. Ajuda-nos a lembrar de nossos fracassos específicos para que nosso arrependimento seja genuíno. Obrigado porque nossa esperança não está em nossa constância, mas em tua. Não em nossa capacidade de manter resoluções, mas na segurança de que sempre podemos recomeçar em Cristo. Em nome de Jesus. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- AS FIRMES RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- RESOLUÇÃO 01 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 02 – Jonathan Edwards

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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