MANDAMENTOS AO JOVEM CRISTÃO
Jovens, escrevi a vocês, porque são fortes, e a palavra de Deus permanece em vocês, e vocês já venceram o Maligno. 1 João 2:14.
João não está sendo condescendente com os jovens cristãos; está reconhecendo uma força espiritual real, quase tangível. Mas força sem fundamento vira fúria sem direção. E é aí que muitos jovens cristãos naufragam,não por falta de zelo, mas por falta de uma âncora.
O Paradoxo da Oração Juvenil
“Jamais despreze a oração diária” – este é o primeiro fundamento, mas também o mais desafiador para qualquer jovem cristão. Por quê? Porque a juventude pulsa com energia imediata, enquanto a oração exige quietude disciplinada. É como pedir a um rio impetuoso para parar e refletir suas águas em espelho.
Mas aqui está o paradoxo delicioso: quanto mais um jovem cristão pensa que não tem tempo para orar, mais desesperadamente precisa fazê-lo. A oração não é uma pausa na vida real, é o que torna a vida real possível. Como disse Eugene Peterson, “a oração é a linguagem em que aprendemos a prestar atenção ao que Deus está sempre fazendo”.
Em Life Together (Vida Juntos), Dietrich Bonhoeffer deu a um de seus capítulos o título de “O Dia Juntos”, e com percepção intitulou o capítulo seguinte “O Dia Sozinho”. Ambos são fundamentais para o êxito espiritual. Escreveu ele:
“Aquele que não pode estar sozinho, tome cuidado com a comunidade… Aquele que não está em comunidade, cuidado com o estar sozinho… Cada uma dessas situações tem, de si mesma, profundas ciladas e perigos. Quem desejar a comunhão sem solitude mergulha no vazio de palavras e sentimentos, e quem busca a solitude sem comunhão perece no abismo da vaidade, da arrogância e do desespero.” Para o jovem cristão, a oração diária se torna o lugar onde aprendemos a estar sozinhos com Deus antes de enfrentarmos o mundo com Ele.
A oração não é apenas falar com Deus; é permitir que Deus nos refaça nos momentos silenciosos de oração. É onde a força juvenil se torna força espiritual, onde a impaciência natural se transforma em urgência santa.
A Palavra Que Nos Faz Fortes
“A palavra de Deus está em vós” – João está descrevendo uma realidade, não uma aspiração. Mas como essa Palavra se estabelece em nós? Através da leitura diária das Escrituras, não como obrigação religiosa, mas como encontro transformador.
Aqui está uma verdade que pode soar severa, mas é libertadora: “Toda apostasia (renúncia, abandono da fé) começa em se negligenciar a leitura bíblica diária”. Não é dramatização; é observação pastoral. O jovem cristão que para de ler a Bíblia não perde apenas conhecimento teológico, perde sua bússola moral, sua identidade espiritual, sua força interior.
C.S. Lewis, em sua típica perspicácia, observou que “na leitura das Escrituras, devemos nos perguntar não apenas ‘o que isso significa?’ mas também ‘o que isso está fazendo comigo?'” A Bíblia não é apenas informação divina; é transformação divina em ação. Para o jovem cristão, cada página das Escrituras é uma oportunidade de se tornar mais parecido com Cristo ou mais distante d’Ele.
A juventude questiona tudo e deve questionar. Mas o jovem cristão sábio descobre que as Escrituras não temem seus questionamentos; elas os refinam. Como disse João Calvino, “as Escrituras são as lentes através das quais vemos a Deus claramente”. Sem elas, até o jovem cristão mais zeloso vive numa visão embaçada da realidade.
Servir Enquanto o Coração Ainda Arde
“Jamais passe um dia sem fazer algo para Jesus“ – este terceiro fundamento confronta a tendência juvenil de adiar o serviço até se sentir “mais preparado”. Mas aqui está a ironia: raramente nos sentimos prontos para servir a Deus. Se esperarmos pela perfeita preparação, nunca começaremos.
Eric Liddell, o corredor escocês imortalizado em “Carruagens de Fogo”, descobriu isso quando recusou correr nas Olimpíadas de 1924 no domingo por convicção religiosa. Era jovem, talentoso, com o mundo aos seus pés. Poderia ter racionalizado: “Vou comprometer agora e servir a Deus depois”. Em vez disso, escolheu servir na juventude e acabou impactando gerações como missionário na China.
O jovem cristão carrega uma vantagem única: energia não contaminada pelo cinismo. Sua indignação com a injustiça ainda é pura, sua compaixão pelos perdidos ainda é intensa, sua disposição para sacrifícios ainda não foi erodida pelas “responsabilidades adultas”. Esta é a força que João reconhece, não apenas vigor físico, mas paixão espiritual não domesticada.
Cada dia oferece pequenas oportunidades de servir: um colega desanimado que precisa de encorajamento, um idoso que precisa de ajuda, uma causa justa que precisa de defensores. O jovem cristão que espera por “grandes chamados ministeriais” pode perder as pequenas comissões divinas que Deus coloca diariamente em seu caminho.
A Oração Como Bússola Moral
Quando enfrentamos decisões morais ambíguas, e a juventude está repleta delas, o quarto fundamento oferece uma bússola simples mas profunda: “Dirija-se ao seu quarto, dobre seus joelhos e peça a bênção de Deus sobre aquilo”. O jovem cristão que não consegue orar sobre uma decisão provavelmente já sabe, no fundo, que essa decisão não honra a Deus.
Esta prática desenvolve o que os puritanos chamavam de “consciência esclarecida”, não uma sensibilidade neurótica, mas uma capacidade refinada de discernir entre o que agrada e o que entristece o coração de Deus. É especialmente crucial numa cultura que constantemente pressiona jovens cristãos a comprometerem seus valores em nome da “normalidade” ou “aceitação”.
O Perigo das Comparações Espirituais
“Jamais copie seu cristianismo de outros cristãos” – este quinto fundamento atinge o calcanhar de Aquiles de muitos jovens cristãos: a tentação de medir sua fé pela performance de outros.
A juventude é naturalmente comparativa. Redes sociais intensificam isso, criando uma cultura de “cristianismo performático” onde jovens cristãos competem por quem parece mais espiritual, mais engajado, mais “abençoado”. Mas comparação é o assassino da autenticidade espiritual.
João nos lembra que seguimos a Cristo, não outros cristãos. Sua pergunta não deveria ser “O que fulano faria?” mas “O que Jesus faria?” Esta diferença é crucial porque outros cristãos podem falhar, podem comprometer, podem nos decepcionar. Mas Jesus permanece o mesmo ontem, hoje e eternamente.
O jovem cristão que encontra sua identidade em Cristo, não em comparações com outros, desenvolve uma confiança espiritual que resiste às pressões sociais e às flutuações emocionais típicas da juventude.
Quando Sentimentos Mentem
O sexto fundamento é talvez o mais difícil para a juventude aceitar: “Jamais creia naquilo que você sente, se contradiz a Palavra de Deus”. Por quê é difícil? Porque a juventude vive intensamente através dos sentimentos. Tudo é dramático, urgente, definitivo.
Mas aqui está uma verdade libertadora: seus sentimentos podem mentir, mas a Palavra de Deus nunca mente. Seus sentimentos podem dizer que Deus o abandonou depois de um fracasso moral, mas a Palavra diz que nada pode separá-lo do amor de Cristo. Seus sentimentos podem sussurrar que você não é amado, mas a Palavra proclama que Deus o amou primeiro, incondicionalmente.
“O problema com muitos de nós é que permitimos que nossos sentimentos controlem nossa fé, quando deveria ser o contrário”. Para o jovem cristão, aprender a submeter emoções à verdade bíblica é como aprender a navegar usando as estrelas fixas em vez das ondas inconstantes.
A Força da Palavra Habitando
“A palavra de Deus está em vós” – esta é a fonte da força que João reconhece nos jovens cristãos. Não é força emprestada ou temporária, mas força residente, permanente. É a diferença entre ter uma bateria e ter um gerador.
Quando estes seis fundamentos se tornam hábitos espirituais: oração diária, leitura bíblica, serviço constante, discernimento através da oração, seguir a Cristo diretamente, e submeter sentimentos à Escritura, algo poderoso acontece. O jovem cristão não apenas vence o maligno ocasionalmente; ele já venceu o maligno, como João afirma no presente perfeito.
Esta vitória não é arrogância juvenil, mas confiança bíblica. É saber que, não importa que tempestades venham, seus fundamentos são sólidos. É viver com a tranquila certeza de que a Palavra que habita em você é mais poderosa que qualquer força que se levante contra você.
Oração: Pai celestial, agradecemos pela força que concedes aos jovens cristãos—não a força da carne, mas a força de Tua Palavra habitando em nós. Perdoa-nos quando negligenciamos a oração, menosprezamos Tua Palavra, ou buscamos nossa identidade em comparações com outros. Estabelece em nós estes fundamentos inabaláveis: que oremos sempre, que Tua Palavra seja nossa autoridade suprema, que Te sirvamos diariamente, que busquemos Tua direção nas decisões, que sigamos a Cristo acima de tudo, e que confiemos em Tua verdade mais que em nossos sentimentos. Faz-nos jovens cristãos que já venceram o maligno porque Tua Palavra vive poderosa em nós. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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