QUAL SERÁ SUA PRÓXIMA POSTAGEM?

Uma pergunta simples expõe motivações ocultas na vida digital, convidando cristãos a viver com autenticidade, humildade e temor diante de Deus.

QUAL SERÁ SUA PRÓXIMA POSTAGEM?

O altar invisível: Quando o coração se revela através de uma tela.

“E tudo quanto fizerdes, fazei de coração, como se fizésseis ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor a herança como recompensa; servi a Cristo, o Senhor.” Colossenses 3.23-24.


Há uma pergunta simples que pode revolucionar completamente sua vida digital — uma questão tão penetrante que muitos de nós preferimos evitá-la: “Você faria isso se não pudesse postar sobre isso?”

Como uma pedra que agita a água tranquila, essa pergunta mexe com o que há dentro de nós e revela motivações que talvez preferíssemos esconder. Hoje, com a tecnologia, temos o poder de transformar cada momento da nossa vida em uma apresentação planejada para os outros verem.

Nossa geração, que com razão critica a hipocrisia religiosa do passado, acabou criando novas formas de mostrar espiritualidade só para impressionar. Os fariseus faziam isso nas ruas e nas sinagogas; nós fazemos nas redes sociais, para o mundo todo ver.

A Anatomia de um Coração Exposto

Paulo, escrevendo aos colossenses, estabeleceu um princípio que transcende todas as épocas e tecnologias: “Tudo quanto fizerdes, fazei de coração, como se fizésseis ao Senhor e não aos homens.” Uma declaração devastadoramente simples! Ele não está sugerindo que ignoremos completamente as pessoas, afinal, fomos chamados para amar e servir uns aos outros. Mas está nos alertando sobre a diferença fundamental entre servir as pessoas porque amamos a Deus e tentar agradar a Deus apenas para impressionar as pessoas.

A diferença é sutil, mas eternamente significativa. É a diferença entre a adoração genuína e a performance religiosa. Entre a compaixão real e a caridade teatral. Entre postar uma reflexão porque ela edificou seu coração e postar porque você quer ser visto como alguém que tem reflexões edificantes.

O pecado habita tão próximo de nossas melhores ações que podemos detectar sua respiração. Nossas motivações raramente são puras como cristal, frequentemente são uma mistura complexa de desejos genuínos de servir a Deus, necessidades humanas normais de conexão e aprovação, e aquela sede antiga e familiar de sermos admirados.

O Teatro Digital e Seus Atores Involuntários

Permita-me ser direto: não há nada intrinsecamente errado com as redes sociais, assim como não há nada essencialmente errado com um palco de teatro. O problema surge quando começamos a viver como se nossa vida inteira fosse uma peça, e nossa audiência digital fosse o que determinasse nosso valor.

Jesus nos alertou sobre aqueles que “praticam as suas obras para serem vistos pelos homens” (Mateus 23.5). Quantos de nós já capturamos um momento de devoção matinal não por reverência, mas por estética? Quantas vezes compartilhamos um versículo não porque ele nos transformou, mas porque queríamos que outros soubessem que lemos a Bíblia? Quantas orações foram compostas com um olho voltado para Deus e outro para os likes?

C.S. Lewis nos lembrava que “a humildade não é pensar menos de si mesmo; é pensar menos em si mesmo.” Nas redes sociais, o desafio não é desenvolver baixa autoestima, mas desenvolver uma preocupação menor com nossa imagem e uma preocupação maior com o reino de Deus. A diferença é transformadora.

A Questão Que Revela Tudo

Retornemos àquela pergunta incômoda: “Você faria isso se não pudesse postar sobre isso?” Esta não é uma questão legalista para nos paralisar com culpa, mas um instrumento cirúrgico para examinar nossos corações. Como diz o salmista: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos” (Salmo 139.23). Considere algumas variações desta pergunta transformadora:

  • Você leria a Bíblia se não pudesse compartilhar suas reflexões?
  • Você serviria os necessitados se ninguém soubesse sobre isso?
  • Você passaria tempo em oração se não houvesse hashtags para acompanhar?
  • Você buscaria crescimento espiritual se ele fosse completamente invisível aos outros?

Se alguma dessas perguntas causa desconforto, você não está sozinho. Agostinho confessou: “Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti.” Nossa sede de aprovação e reconhecimento é sintoma de uma sede mais profunda — a sede de sermos conhecidos e amados por Deus.

Vivendo Coram Deo na Era Digital

A expressão latina “coram Deo” – diante de Deus, deveria governar não apenas nossos momentos de culto formal, mas cada clique, cada postagem, cada interação digital. Richard Baxter disse certa vez: “Pregue como se nunca fosse pregar novamente, e como um homem moribundo para homens moribundos.” Parafraseando para nossa era: “Poste como alguém que prestará contas a Deus, para pessoas que também prestarão contas a Deus.”

Isso não significa que devemos abandonar as redes sociais ou nos tornar monges digitais. Significa que devemos usá-las de forma redimida. Charles Spurgeon observou que “o discernimento não é conhecer a diferença entre certo e errado, mas entre certo e quase certo.” Nas redes sociais, a linha entre testemunho genuíno e autopromoção espiritual pode ser incrivelmente tênue.

Mas aqui está a beleza do Evangelho: quando falhamos e todos falhamos, temos um Salvador que não apenas perdoa nossa vaidade digital, mas nos transforma de dentro para fora. João Calvino nos lembrava que “o coração humano é uma fábrica de ídolos”, mas o Espírito Santo é um renovador de corações. Ele pode transformar até mesmo nossos impulsos mais egoístas em oportunidades de serviço genuíno.

A Graça Que Nos Capacita à Mudança

Eugene Peterson parafraseou Colossenses 3.23 de forma bela: “Seja qual for o seu trabalho, ponham nele toda a sua alma. Trabalhem de forma calorosa e alegre, como se estivessem trabalhando para seu Mestre, não para seres humanos.” Uma visão transformadora para nossa presença digital!

Imagine se cada postagem fosse oferecida como um ato de adoração. Se cada compartilhamento fosse motivado pelo amor genuíno ao próximo. Se cada interação online fosse uma oportunidade de refletir o caráter de Cristo. Não por legalismo ou perfeccionismo, mas por gratidão àquele que nos amou primeiro.

A pergunta “Você faria isso se não pudesse postar?” não deve nos paralisar, mas nos libertar. Libertar-nos da escravidão da aprovação humana. Libertar-nos da necessidade compulsiva de documentar cada momento para validar sua importância. Libertar-nos para viver de forma plena e presente, servindo a Deus com ou sem uma audiência digital.

Uma Vida Digna do Altar Invisível

Então, que faremos com essa questão perturbadora? Jogaremos nossos smartphones no oceano e nos retiraremos para uma vida analógica? Certamente não. Mas começaremos a ver nossas plataformas digitais como extensões de nossa vocação cristã, não como palcos para nossa performance pessoal.

Antes de sua próxima postagem, faça uma pausa. Examine seu coração diante de Deus. Pergunte-se honestamente: “Por que quero compartilhar isso? Para edificar outros ou para ser edificado pelos outros? Para glorificar a Deus ou para glorificar a mim mesmo?” E lembre-se: as motivações mistas são normais, mas isso não nos dispensa de buscar maior pureza de intenção.

Que nossas redes sociais se tornem janelas para a graça de Deus, não espelhos para nosso ego. Que nossos corações encontrem descanso não nos likes e compartilhamentos, mas naquele que conhece cada motivação secreta e ainda assim nos ama incondicionalmente.

A verdade libertadora é esta: você é profundamente amado por Deus, independentemente de qualquer postagem que faça ou deixe de fazer. Sua identidade não está ancorada em sua presença digital, mas na obra acabada de Cristo. E dessa segurança, apenas dessa segurança, você pode postar ou não postar com verdadeira liberdade.

“Seja, pois, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.” Mateus 5.37.


Pai celestial, perdoa-nos quando transformamos nossas plataformas digitais em altares de autoglorificação ao invés de instrumentos de tua graça. Purifica nossas motivações e liberta-nos da escravidão da aprovação humana. Ajuda-nos a viver coram Deo também no mundo virtual, buscando sempre tua glória acima de nossa reputação. Que nossos corações encontrem descanso em teu amor, não na validação digital. Em nome de Jesus, que viveu perfeitamente diante de ti, oramos. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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