MEDO OU CORAGEM?

Descubra como a fé em Cristo vence o medo habitual e revela a coragem que nasce da presença viva de Deus nas lutas do coração.

MEDO OU CORAGEM?

“Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.” 2 Timóteo 1:7.

A Tirania do Medo Habitual

Em 1947, Thor Heyerdahl, um explorador e etnógrafo norueguês, mais conhecido por sua audaciosa expedição Kon-Tiki, determinado a provar que os povos antigos poderiam ter realizado longas viagens oceânicas, ele construiu uma jangada de balsa usando métodos pré-colombianos e navegou mais de 8.000 quilômetros do Peru até o Atol de Raroia, na Polinésia Francesa. Diante das ondas monstruosas que ameaçavam engolir sua pequena embarcação, ele escreveu algo notavelmente profundo: “O medo é apenas um hábito. Um hábito que podemos dominar.” Que revelação surpreendentemente simples para um homem que poderia ter sido devorado pelo oceano a qualquer momento!

Não é curioso como freqüentemente as coisas mais óbvias nos escapam completamente? Porque o que Heyerdahl reconheceu — e o que muitos de nós custamos a admitir — é que nossos medos mais paralisantes raramente são invasores espontâneos na casa de nossa mente, mas inquilinos de longa data, confortavelmente instalados em nosso subconsciente. São hóspedes que, com o tempo, esquecemos que convidamos para entrar.

O nosso adversário é ardiloso nisso, não é? Ele não precisa nos aterrorizar com confrontos diários. Basta convencer-nos, uma vez, a estabelecer rotas neurais de ansiedade e então deixar que nossa própria natureza humana decaída faça o trabalho por ele. Como Santo Agostinho observou sobre seus próprios hábitos pecaminosos: “A lei do pecado é a força violenta do costume.” Assim também é com o medo que se habitua em nós.

A Verdadeira Anatomia de Nossos Temores

“Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” (Isaías 41:10)

“Aquilo em que você deposita sua confiança é verdadeiramente seu deus.” Quando o medo ocupa o trono de nosso coração, expulsamos silenciosamente o Deus vivo de Seu lugar legítimo. O medo torna-se então nossa divindade perversa, exigindo sacrifícios constantes de paz, alegria e possibilidades não realizadas.

John Owen, com sua penetrante visão puritana, escreveu: “O homem que luta contra seus medos está em constante guerra consigo mesmo.” Que paradoxo extraordinário! O inimigo que nos aterroriza muitas vezes não é externo, mas um fantasma que nós mesmos alimentamos e vestimos com roupas assustadoras.

O Cristo Que Desce Conosco

“No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor.” (1 João 4:18)

A narrativa bíblica está repleta de pessoas comuns que descobriram coragem extraordinária. Moisés, o príncipe egípcio transformado em pastor de ovelhas, que protestou contra Deus: “Ah, Senhor! Nunca fui eloquente, nem ontem nem anteontem” (Êxodo 4:10). No entanto, este mesmo homem enfrentou o faraó e conduziu o povo de Deus pelo Mar Vermelho.

Ou Gideão, escondido numa prensa de vinho quando o anjo o saudou ironicamente como “homem valente” (Juízes 6:12). Que piada cósmica deve ter parecido! No entanto, este homem amedrontado eventualmente liderou um exército reduzido contra forças esmagadoras.

Deus não elimina magicamente o medo de Seus servos como quem apaga uma lâmpada. Em vez disso, Ele segue ao nosso lado, a cada passo do caminho, desafiando cada pensamento distorcido com Sua presença viva.

Não é isso precisamente o que significa a Encarnação? O Verbo eterno, em vez de gritar instruções do céu, desceu para caminhar conosco em nossas estradas poeirentas e assustadoras. Cristo não apenas nos ensinou sobre coragem — Ele a demonstrou no jardim do Getsêmani, onde Seu suor tornou-se como gotas de sangue, ainda assim declarou: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).

O Exercício da Fé Deliberada

“O medo bateu à porta. A fé respondeu. E não havia ninguém lá.” Que imagem poderosa, uma poderosa metáfora sobre o poder desarmador da fé diante das ameaças que o medo projeta.

Quando a fé assume o controle (isto é, quando respondemos à vida com confiança em Deus, e não com desespero), aquilo que parecia assustador revela-se vazio, sem substância. Lembre-se que “o justo viverá pela fé” (Habacuque 2:4; Romanos 1:17). O medo pode bater à porta com força — uma doença, uma perda, uma ameaça futura —, mas quando a fé atende, com os olhos fixos em Cristo, descobre-se que muito do que temíamos era um espectro que se desfaz à luz da confiança em Deus. Como disse Charles Spurgeon:

“A ansiedade não esvazia o amanhã de suas dores, mas apenas o hoje de sua força.”
Morning and Evening, Spurgeon.

Portanto, essa frase não nega a existência do medo, mas revela seu verdadeiro tamanho quando confrontado com a realidade da fé viva. É um lembrete pastoral: a fé não precisa explicar tudo — apenas abrir a porta e confiar que Deus já está lá.

O Caminho da Fé ou o Caminho do Medo

Começamos reconhecendo humildemente nossa necessidade. O salmista clamou: “Eu, porém, invocarei a Deus, e o Senhor me salvará. À tarde, pela manhã e ao meio-dia, farei as minhas queixas e lamentarei; e ele ouvirá a minha voz.” (Salmo 55:16-17). Observe a intimidade desavergonhada aqui, não há pretensão de auto-suficiência, apenas dependência honesta.

Vamos invocar Aquele que acalmou os mares enfurecidos com uma palavra:

“Ó Cristo, que caminhaste sobre as águas tempestuosas que tanto aterrorizavam teus discípulos, vem caminhar sobre as ondas de nossos medos habituais. Tu conheces os recônditos de nosso ser, onde terrores antigos se escondem disfarçados de sabedoria ou prudência. Desmascare nossos medos, Senhor Jesus. E então, com a gentileza de um pai ensinando seu filho a andar, guia-nos a cada passo do caminho com Tua presença viva.

Não pedimos a remoção de todo perigo, pois em um mundo caído, há lobos reais, não apenas imaginários. Pedimos, em vez disso, o dom da coragem autêntica, fundamentada não em nossas capacidades, mas em quem Tu és. Pois Tu não nos deste espírito de covardia, mas dá-nos poder, Teu poder ressurreto fluindo através de nossa fraqueza; dá-nos amor, Teu amor perfeito que lança fora o medo; dá-nos moderação, aquela clareza divina que vê as coisas não como nossos medos as pintam, mas como realmente são.

Em Teu nome, que faz os demônios tremerem e as prisões se abrirem, oramos. Amém.”

Não é a ausência de medo que marca o cristão corajoso, mas a presença de Alguém maior que nossos medos. Hoje, observe não apenas seus medos habituais, mas o Deus que segue conosco pela estrada, passo a passo, então vamos avançando, “de glória em glória” (2 Coríntios 3:18) para um lugar onde o medo não mais controla o roteiro de sua vida.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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