João 3:27-30. “Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. Vós mesmos sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua.”
A Paradoxal Matemática do Reino
Vivemos numa cultura obsessiva pelo crescimento pessoal, pela expansão do ego, pela multiplicação da visibilidade. Cada dia somos bombardeados com mensagens que nos convidam a crescer mais, brilhar mais, conquistar mais. E então, em meio a este clamor ensurdecedor, ouvimos uma voz que sussurra algo revolucionário: “Convém que Ele cresça e que eu diminua.”

Seria João Batista um fracassado? Um derrotado que se resignou diante da ascensão meteórica do Nazareno? Ou haveria aqui uma sabedoria tão profunda que nossa geração, viciada em autopromoção, sequer consegue compreender?
A canção do grupo Drops declara com ousadia: “É Ele por quem estou gastando a minha vida, perdendo tudo por amor e com alegria.” Mas o que significa, verdadeiramente, diminuir para que Cristo cresça? E por que esta diminuição, paradoxalmente, nos torna verdadeiramente grandes?
O Êxtase do Autoesquecimento
João Batista compreendeu algo que escapa à maioria de nós: a verdadeira grandeza não está em ser visto, mas em fazer com que Outro seja visto através de nós. Quando declarou “Convém que ele cresça e que eu diminua”, não estava pronunciando uma sentença de derrota, mas descobrindo a fórmula secreta da alegria genuína. A canção ecoa precisamente a voz do Precursor quando proclama:
Estou preparando um caminho
Endireitando as veredas
E cada vez mais diminuindo
Porque importa que Ele cresça
E Nele o meu prazer está
Eu não sou digno de desatar
As Suas sandálias
E Nele a minha vida está
Aqui ressoa a própria missão de João Batista conforme Isaías 40:3: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai no deserto as suas veredas.” O Batista sabia que era precursor, não protagonista. Sua alegria estava não em ser o centro, mas em preparar o caminho para aquele que ocuparia o Centro. A canção captura perfeitamente esta verdade radical: nosso prazer não está em nossa própria grandeza, mas na grandeza d’Ele. João não estava sendo masoquista ou autodestrutivo; estava sendo profundamente realista sobre onde se encontra a verdadeira fonte de satisfação humana.
O verso “Eu não sou digno de desatar as Suas sandálias” ecoa diretamente as palavras do Batista registradas em todos os evangelhos. Marcos 1:7 registra: “pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as correias das sandálias.” Esta não era falsa modéstia, mas reconhecimento de uma realidade cósmica: a distância infinita entre o servo e o Senhor.
C.S. Lewis observou com perspicácia: “A humildade não é pensar menos de si mesmo; é pensar menos em si mesmo.” João Batista havia descoberto o segredo do autoesquecimento extático – quando paramos de nos preocupar com nossa própria magnificência, descobrimos algo infinitamente mais magnífico.
O texto nos revela que João se alegrava “por causa da voz do noivo”. Ele havia encontrado sua identidade não em ser o protagonista, mas em ser o amigo que se regozija quando ouve a voz daquele que verdadeiramente importa. A canção expressa esta mesma disposição jubilosa:
E eu caminho com a certeza
De que Ele virá
E é Ele
Por Ele que eu estou gastando a minha vida
Perdendo tudo por amor e com alegria
Dono dos meus dias
Esta certeza de que “Ele virá” era o combustível da pregação de João no deserto. “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 3:2). O Batista pregava não com desespero, mas com a expectativa alegre de quem sabia que a promessa se cumpriria. A canção captura esta mesma antecipação: “E eu caminho com a certeza de que Ele virá.”
Esta é a matemática invertida do Reino: quando diminuímos, crescemos; quando perdemos nossa vida, a encontramos; quando morremos para nós mesmos, verdadeiramente vivemos. João havia descoberto que “gastar a vida” e “perder tudo por amor” não eram sacrifícios amargos, mas investimentos alegres na única eternidade que vale a pena.
O Governo que Virá
A canção atinge seu clímax profético quando ecoa a própria esperança messiânica que alimentava a pregação de João Batista:
E Ele virá
Soberano em poder, Ele virá
E o governo está n’Ele, vejam, Ele traz
Consigo a sua recompensa
Aqui ressoa Isaías 40:10, texto que certamente moldou a compreensão do Batista sobre sua missão: “Eis que o Senhor Jeová virá com poder, e o seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e a sua recompensa diante dele.” João sabia que preparava o caminho não apenas para um mestre religioso, mas para o Rei dos reis, o Soberano que traria consigo a recompensa final.
A repetição “vale a pena, vale a pena” na canção ecoa o coração de um homem que, como João, descobriu que toda diminuição, toda perda, todo sacrifício por Cristo não apenas vale a pena, mas é a única coisa que verdadeiramente vale a pena:
Perdendo tudo por amor e com alegria
Vale a pena Te amar
Vale a pena gastar meus dias
Vale a pena, vale a pena
João Batista não apenas diminuía; ele antecipava. Não apenas preparava um caminho; ele vislumbrava o destino deste caminho. Esta é a perspectiva que transforma toda diminuição em esperança, toda perda em ganho antecipado. João sabia que seu diminuir não era fim em si mesmo, mas preparação para o crescimento d’Aquele que verdadeiramente importa.
O “É Ele” que ecoa na canção não é apenas identificação, mas adoração; não é apenas reconhecimento, mas submissão jubilosa àquele que é “dono dos meus dias.” E nesta submissão descobrimos não escravidão, mas liberdade; não diminuição, mas a verdadeira magnitude da alma humana quando encontra seu lugar correto no cosmos: apontando para a glória infinita de Cristo.
E agora, como viveremos?
A expressão “É Ele” deve ecoar em cada área de nossa existência, assim como ecoava na vida e pregação de João Batista. Quando as pessoas vinham até ele, João sempre apontava para o Cristo: “É Ele!” Quando questionado sobre sua identidade, respondia sobre quem não era, direcionando a atenção para Aquele que viria. Em nossa carreira, perguntemos: estou buscando que “É Ele” seja conhecido através do meu trabalho, ou estou construindo meu próprio reino? Em nossos relacionamentos, questionemos: estou apontando as pessoas para Cristo, ou para mim mesmo?
A canção nos lembra: “Estou preparando um caminho, endireitando as veredas.” Às vezes, o maior obstáculo para que as pessoas vejam a Cristo, somos nós mesmos, nossa necessidade de ser vistos, reconhecidos, aplaudidos.
Praticamente, isso significa viver como João vivia:
- Celebrar a propagação do nome de Cristo, pois sabemos que “importa que Ele cresça”.
- Aceitar que nossa posição é secundária, ela serve aquele que é muito maior, “não é digno de desatar Suas sandálias”.
- Falar mais de Cristo e menos de nós mesmos, sempre apontando: “É Ele!”
- Encontrar alegria genuína quando Ele é glorificado, mesmo que passemos despercebidos.
- Gastar nossa vida, tempo, recursos e talentos com a convicção de que verdadeiramente “vale a pena Te amar”.
- Caminhar “com a certeza de que Ele virá”, mantendo a esperança escatológica que sustenta todo sacrifício presente.
Oremos
Senhor Jesus, como João Batista, queremos declarar que “Tu és o centro”, o propósito, a razão de nossa existência. Perdoa nossa tendência natural de buscar nossa própria glória. Ensina-nos a matemática invertida do Reino, onde diminuir é crescer, onde perder é ganhar, onde morrer é viver.
Concede-nos a graça de encontrar alegria genuína em Tua grandeza, não na nossa. Que possamos gastar nossas vidas por Ti com a mesma alegria de João, preparando caminhos, endireitando veredas, sempre diminuindo para que Tu possas crescer.
Vem, Senhor Jesus, como Soberano em poder. Estabelece Teu governo em nossos corações, em nossas famílias, em nossa sociedade. Tu és nossa herança, nosso galardão. Em Ti está nossa vida, nosso prazer, nossa esperança. Em Teu santo nome oramos. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- IGREJA PERSEGUIDA: Quando a fé se fortace na tribulação
- A IGREJA PERSEGUIDA
- FRAQUEZA HUMANA, GRAÇA DIVINA
- O Amor Eterno de Deus
- NÃO DESANIMAMOS

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!