Como um garoto criado em uma boa família se torna um assassino frio que mata uma adolescente, sua colega de escola?

A COMPLEXIBILIDADE DO MAL.

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O que a série “Adolescência” nos ensina sobre as influências do mal na vida de nossos filhos.

A complexidade do mal vai além do pecado original, manifestando-se através de múltiplas influências na formação moral dos adolescentes. As portas digitais abrem caminho para que a complexidade do mal adentre nossas casas e molde o caráter de nossos adolescentes sem nossa percepção. Pais vigilantes são chamados a combater a complexidade do mal através do relacionamento ativo e do discipulado intencional. A batalha contra a complexidade do mal na vida dos adolescentes é vencida quando apontamos constantemente para Cristo como o único fundamento seguro para a formação de sua identidade.

O que leva um adolescente a cometer um crime hediondo? Esta pergunta perturbadora ecoa na mente de qualquer pai ou educador cristão. A série “Adolescência” da Netflix, criada por Jack Thorne e Stephen Graham, nos confronta com uma realidade que preferimos ignorar: simplesmente atribuir as ações dos jovens ao pecado inato não basta para compreender a complexidade das influências que moldam suas decisões. Como o apóstolo Paulo nos lembra em Romanos 7:19, “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço”, uma verdade que se manifesta de maneira perturbadora na vida dos adolescentes que, ainda em formação, são bombardeados por influências que competem com os valores cristãos. Na série Adolescência, somos convidados a refletir sobre como o pecado se manifesta através das múltiplas influências que cercam nossos jovens na era digital.

O pecado e suas manifestações na adolescência

Quando observamos o personagem Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, somos forçados a confrontar uma verdade teológica fundamental: o pecado moral existe no coração humano, mas sua manifestação é moldada por influências específicas. Na série Adolescência, vemos como a influência da internet, de conteúdos impróprios e da cultura “redpill” deturpa a compreensão de Jamie sobre masculinidade, levando-o a cometer um ato impensável.

Conforme afirma John Piper: “O pecado não é apenas uma questão de ações individuais erradas, mas de um sistema de corrupção que permeia nossa natureza e que pode ser amplificado ou redirecionado pelas influências ao nosso redor.” (Desiring God, p. 86).

Esta perspectiva nos ajuda a entender que, embora o pecado seja inerente à condição humana caída, como ensina a teologia reformada, o modo como ele se manifesta pode ser profundamente influenciado pelo ambiente. O Catecismo Menor de Westminster nos ensina que “o pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou transgressão desta lei” (Pergunta 14), mas a série Adolescência nos lembra que essa transgressão pode ser fomentada por circunstâncias específicas.

Jonathan Edwards, em sua obra “A Natureza do Verdadeiro Valor”, observou que “as afeições humanas são como rios que podem ser canalizados em diferentes direções”. Quando aplicamos este pensamento ao drama de Jamie, percebemos como suas inclinações pecaminosas foram canalizadas para a violência através da exposição a conteúdos nocivos na internet. O jovem não nasceu determinado a ser um assassino – suas tendências pecaminosas foram moldadas por influências externas que encontraram terreno fértil em seu coração inexperiente.

A insuficiência da proteção passiva na era digital

Na série Adolescência, um dos momentos mais impactantes é quando Ed, o pai de Jamie, descobre que seu filho cometeu um crime brutal, apesar de todos os seus esforços para protegê-lo. Ed acreditava que manter seu filho em casa, longe das ruas, seria suficiente para garantir sua segurança moral. Esta cena nos confronta com uma verdade inquietante: na era digital, o mal não está apenas nas ruas – ele invade nossos lares através das telas.

Imagem ADOLESCÊNCIA-CENA Momento em que o pai descobre que seu filho cometeu um assassinato.

R.C. Sproul, em seu livro “Verdades Essenciais da Fé Cristã”, adverte: “Não basta proteger nossos filhos do mundo exterior; devemos equipá-los para discernir o bem do mal, pois as tentações encontrarão caminhos para alcançá-los” (p. 123).

A teologia reformada sempre enfatizou a importância do discernimento e da sabedoria como proteção contra o pecado. Quando vemos Jamie sendo influenciado por conteúdos nocivos em seu computador, lembramos da advertência de Provérbios 4:23: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida”. O coração de Jamie não foi guardado adequadamente, e as influências digitais conseguiram penetrar suas defesas.

Em um estudo recente da Universidade de Oxford sobre o impacto das redes sociais no desenvolvimento moral dos adolescentes, pesquisadores descobriram que jovens com acesso irrestrito a conteúdos online têm 67% mais chances de desenvolver comportamentos agressivos ou antissociais (Oxford Internet Institute, 2023). Esta realidade contemporânea ressoa com a observação de Augustus Nicodemus: “O mundo digital cria um novo campo de batalha espiritual, onde influências nocivas podem moldar o caráter dos jovens de maneiras que seus pais sequer imaginam.”

O Desenvolvimento Neurológico e a Vulnerabilidade Adolescente

Um aspecto crucial abordado na série Adolescência é a vulnerabilidade única dos adolescentes devido ao seu desenvolvimento neurológico incompleto. Quando a psicóloga questiona Jamie sobre suas percepções de relacionamentos, suas respostas revelam uma compreensão distorcida da sexualidade, moldada por conteúdos inadequados que consumia online.

Herman Bavinck, em sua obra “Dogmática Reformada”, observa que “o ser humano é formado não apenas pela graça de Deus e por sua natureza pecaminosa, mas também pelas experiências que moldam seu entendimento durante os anos formativos” (Vol. 3, p. 178).

Esta compreensão teológica se alinha com descobertas científicas contemporâneas. O psicólogo Jonathan Haidt em seu livro “Geração Ansiosa” afirma que “o cérebro humano chega a 90% do seu tamanho aos 5 anos de idade, e o desenvolvimento subsequente é uma questão de seletividade dos neurônios e das sinapses que irão privilegiar aqueles que são usados com mais frequência.”

Quando observamos Jamie na série, vemos um jovem cujo cérebro em desenvolvimento foi moldado por experiências virtuais nocivas, criando um descompasso entre sua percepção da realidade e o mundo real. A cena em que Jamie descreve Kate como “uma tábua” revela como sua percepção do valor humano foi distorcida pela exposição a padrões irreais de sexualidade.

Abraham Kuyper, em sua obra “Princípios de Sagrada Teologia”, afirma que “cada aspecto da vida humana, incluindo seu desenvolvimento físico e psicológico, está sob o senhorio de Cristo e deve ser compreendido à luz da revelação divina.” Esta visão integrativa nos ajuda a entender que o desenvolvimento neurológico dos adolescentes não pode ser separado de sua formação espiritual.

A responsabilidade parental na formação moral

Um dos momentos mais comoventes da série Adolescência ocorre quando Ed, devastado pela descoberta do crime de seu filho, abraça o ursinho de pelúcia de Jamie em seu quarto. Esta cena representa o paradoxo entre a inocência infantil e a capacidade para o mal que pode se desenvolver sem a intervenção parental adequada.

Franklin Ferreira, em sua obra “Teologia Sistemática”, observa que “os pais são chamados por Deus não apenas a prover sustento material, mas a ser agentes ativos na formação moral e espiritual de seus filhos” (p. 432).

A série nos confronta com a realidade de que Ed falhou em perceber as influências que transformaram seu filho em um assassino, apesar de suas tentativas de ser um pai presente. Ele lamenta não ter visto os sinais, não ter entendido o que estava acontecendo no mundo interno de seu filho.

John Piper comenta que “a paternidade cristã não é apenas proteger os filhos do mal, mas equipá-los para reconhecê-lo e resistir a ele.” Esta visão reflete o ensinamento de Provérbios 22:6: “Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo quando envelhecer não se desviará deles.”

Quando observamos o desespero de Ed ao perceber tarde demais as influências que moldaram seu filho, somos lembrados das palavras de Dietrich Bonhoeffer: “A responsabilidade dos pais não é criar uma redoma que impeça seus filhos de conhecer o mal, mas prepará-los para reconhecê-lo e resistir a ele pela graça de Deus” (Ética, p. 157).

A série Adolescência nos confronta com uma verdade teológica profunda: embora o pecado habite no coração humano, suas manifestações são moldadas pelas influências que permitimos em nossas vidas e nas vidas de nossos filhos. Como cristãos, somos chamados a reconhecer tanto a realidade do pecado inato quanto a importância das influências formativas na vida de nossos jovens.

A cena final da série, onde um pai lamenta abraçado ao ursinho de pelúcia de seu filho que se tornou um assassino, deve nos despertar para a urgência de um engajamento ativo na formação moral e espiritual de nossos adolescentes. Não basta manter as portas de casa fechadas quando as conexões digitais colocam um mundo imenso de possibilidades que vão daquilo que é excelente ao que é totalmente perveso apenas deslizando os dedos sobre a tela de um celular ou no teclado de um computador.

A graça de Deus é suficiente para transformar corações, mas todos somos chamados a sermos instrumentos dessa graça na vida de nossos filhos. Como pais, educadores e mentores, devemos buscar sabedoria para discernir as influências que moldam os corações daqueles que estão sob nossos cuidados, lembrando que o Cristo que “cresceu em sabedoria, estatura e graça” (Lucas 2:52) é o modelo perfeito para o desenvolvimento integral que desejamos para nossos jovens.

Senhor Jesus, que conheceste a adolescência e cresceste em obediência perfeita ao Pai, concede-nos sabedoria para guiar nossos jovens em um mundo repleto de influências nocivas. Ajuda-nos a discernir o que molda seus corações e mentes, e a ser exemplos vivos de uma vida transformada pela graça. Que nossos lares sejam refúgios de amor e formação cristã, onde a tua verdade prevaleça sobre as mentiras do mundo que espalha seus maus ensinamentos por todos os veículos possíveis. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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