BANQUETE DIGITAL

Sabedoria e loucura disputam sua atenção no mundo digital. Descubra como navegar com discernimento e transformar sua presença online em adoração viva.

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“Quando a sabedoria e a loucura competem por nossos corações.”

“Vinde, comei do meu pão e bebei do vinho que misturei. Deixai os insensatos e vivei; andai pelo caminho do entendimento.” Provérbios 9.5-6.


Imagine, por um momento, duas anfitriãs preparando banquetes na mesma rua, ambas gritando por sua atenção. Uma ergue sua casa sobre sete colunas sólidas, lavra cada pedra com cuidado ancestral, e serve pão genuíno com vinho cuidadosamente misturado. A outra se posiciona estrategicamente numa esquina movimentada, oferecendo águas roubadas e pão escondido, sussurrando que o proibido tem sabor mais doce. Salomão não estava descrevendo apenas duas mulheres de seu tempo — estava pintando um retrato profético de nossa era digital.

Que paradoxo curioso vivemos! A internet foi criada para conectar conhecimento humano, mas construiu também a praça pública onde Sabedoria e Loucura competem mais ferozmente do que jamais competiram. Cada notificação, cada like, cada story assistido representa uma escolha entre dois banquetes eternamente opostos.

O Grito Antigo em Frequências Modernas

A Sabedoria, como nos conta Provérbios, não é uma dama tímida escondida em bibliotecas empoeiradas. Ela grita — e que palavra fascinante Salomão escolhe aqui! Ela brada das alturas, posiciona-se onde as pessoas passam, porque sabe que a vida humana depende de sua voz ser ouvida. Nas redes sociais, ela continua gritando. Nós a encontramos na postagem que chega exatamente quando precisamos de encorajamento, no versículo compartilhado que ilumina nossa escuridão, na mensagem de irmãos distantes que fortalecem nossa fé cambaleante.

John Wesley disse certa vez que Deus faz uso de meios estranhos para alcançar corações necessitados. Quem imaginaria que um smartphone poderia ser instrumento da providência divina? Contudo, quantos de nós já experimentamos esse toque gentil da graça através de uma tela luminosa — uma palavra oportuna que nos lembrou de que não estamos sozinhos nesta jornada?

Mas aqui está o problema que nos deveria fazer perder o sono: a Loucura também descobriu como gritar no mundo digital. Ela não usa tons apocalípticos ou símbolos obviamente malignos. Ela sussurra através de comparações silenciosas enquanto olhamos vidas aparentemente perfeitas; planta sementes de descontentamento quando nossa realidade não espelha os filtros cuidadosamente aplicados que consumimos; faz-nos questionar a bondade de Deus enquanto navegamos por tragédias amplificadas e injustiças apresentadas como se fossem coisa virtuosa.

A Sutil Arte da Destruição

Permita-me ser direto: a loucura digital opera através de uma trindade pecado que destrói nossa alma gradualmente. Primeiro, ela devora nosso tempo, esse recurso que Deus nos concedeu como privilégio sagrado. Quantas horas perdemos rolando infinitamente a tela, tempo que poderia ter sido investido em oração, no estudo das Escrituras, ou no serviço amoroso ao próximo?

Segundo, ela molda nossos pensamentos. “Somos aquilo que comemos”, e isso se aplica tanto ao alimento mental quanto ao físico. “O uso das redes sociais como único ou principal meio de comunicação pode aumentar o estresse, muito por não permitir uma comunicação total com trocas adequadas, cara a cara, mas igualmente por manter o usuário muito tempo utilizando os eletrônicos”, explica o psiquiatra Marcelo Calcagno Reinhardt. Não é coincidência — estamos consumindo um banquete de comparações tóxicas e realidades fragmentadas.

Terceiro, ela nos enreda em tentações sutis. A inveja disfarçada de “inspiração”, o julgamento cruel mascarado de “preocupação cristã”, o descontentamento que se apresenta como “busca por melhorias”. “O diabo sempre manda erros em pares, erros opostos”, e no mundo digital, tanto o isolamento total quanto o envolvimento irreflexivo podem nos desviar do caminho da sabedoria.

A Escolha Que Fazemos Mil Vezes por Dia

Mas aqui está a beleza e o terror de nossa condição: cada momento que passamos online representa uma escolha moral. Não existe neutralidade digital. Cada clique é um voto, cada like uma declaração, cada minuto gasto uma decisão sobre que tipo de pessoa escolhemos nos tornar.

Charles Spurgeon observou sabiamente que “o discernimento não é conhecer a diferença entre certo e errado, mas entre certo e quase certo”. Que insight penetrante para nossa era! A loucura digital raramente se apresenta vestida de demônios; ela aparece como progresso, como conexão, como informação necessária. Ela oferece “águas roubadas” que prometem saciar nossa sede de significado, mas nos deixam mais vazios que antes.

Agostinho, em suas Confissões, clamou: “Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti.” Nossa inquietação digital, esse desejo compulsivo de verificar notificações, de consumir mais conteúdo, de buscar validação através de curtidas, precisamos entender que esse é o antigo sintoma de nossa sede por Deus.

O Convite Que Ainda Ecoa

Mas escutem! Por favor, escutem! Em meio ao clamor digital, a Sabedoria ainda grita. Ela ainda convida: “Vinde, comei do meu pão e bebei do vinho que misturei.” Que banquete ela oferece! Não águas roubadas, mas vinho cuidadosamente preparado. Não pão escondido, mas alimento genuíno servido em mesa posta com amor.

A Sabedoria digital existe, meus amigos. Ela se manifesta quando usamos a tecnologia para edificar ao invés de destruir, para conectar ao invés de comparar, para servir ao invés de consumir egoisticamente. Ela aparece quando paramos antes de compartilhar aquela postagem que poderia ferir alguém, quando oferecemos encorajamento sincero ao invés de superficialidades vazias, quando usamos nossa influência digital — por menor que seja — para apontar outros a Cristo.

Como Paulo exortou os filipenses: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, nisso pensai” (Filipenses 4.8). Este filtro apostólico deve governar não apenas nossos pensamentos, mas nossa navegação digital.

Uma Vida Digna do Convite

Então, que faremos? Jogaremos nossos smartphones no mar e retornaremos a uma vida pré-digital? Claro que não. Mas adotaremos a postura do peregrino sábio que reconhece que está atravessando território perigoso e ajusta seus passos adequadamente.

Antes de pegar seu celular pela manhã, faça esta pergunta simples: “Como posso usar este tempo de forma que honre aquele que me amou e se entregou por mim?” Estabeleça limites não como legalismo, mas como liberdade — a liberdade de escolher o melhor ao invés de aceitar passivamente o que é meramente disponível.

Siga vozes que edificam sua fé, que apontam para Cristo, que o desafiam a crescer em santidade. Deixe que sua timeline se torne uma extensão de sua vida devocional, não uma fuga dela.

E quando sentir aquela inquietação familiar — a ansiedade que surge da comparação, a inveja disfarçada, o descontentamento sutil — pare imediatamente. Lembre-se de que você foi comprado por preço, e esse preço não foi pago para que você vivesse escravizado por algoritmos que lucram com sua insatisfação.

O Banquete Que Nos Espera

A batalha entre Sabedoria e Loucura no mundo digital é real, urgente e pessoal. Mas não estamos desamparados. Temos a Palavra de Deus como lâmpada para nossos pés, o Espírito Santo como nosso Conselheiro, e uma comunidade de fé para nos encorajar nesta jornada.

A Sabedoria ainda grita: “Deixai os insensatos e vivei; andai pelo caminho do entendimento.” Sua voz pode parecer mais fraca que o clamor digital constante, mas ela oferece algo que nenhum algoritmo pode proporcionar: vida verdadeira, paz genuína, propósito eterno.

Que possamos escolher, a cada momento, ouvir a voz que nos convida não para águas roubadas, mas para o banquete preparado desde a fundação do mundo. Que nossa presença digital seja um reflexo de nossa cidadania celestial, e que nossos corações encontrem descanso não nos likes e compartilhamentos, mas naquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.

“Porque ele satisfaz a alma sedenta e enche de bens a alma faminta.” — Salmo 107.9


Senhor Jesus, em meio ao ruído constante de nossa era digital, concede-nos ouvidos para ouvir tua voz de sabedoria. Ajuda-nos a usar a tecnologia como mordomos fiéis, buscando sempre o que edifica e glorifica teu nome. Guarda nossos corações da loucura sutil que permeia as redes sociais, e faz-nos instrumentos de tua graça no mundo digital. Que nossa sede seja saciada não por águas roubadas, mas pelo rio da vida que flui de teu trono. Em teu precioso nome, amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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