LIÇÃO Nº 03: O CONCEITO BÍBLICO DE CONVERSÃO.
A Bíblia ensina sobre conversão como transformação radical que reorienta toda a existência do indivíduo, não apenas suas opiniões religiosas. onversão é simultaneamente obra soberana de Deus e resposta livre do ser humano – mistério da graça que preserva tanto a iniciativa divina quanto a responsabilidade humana.
Texto básico: Atos 26:12-18. “Com isto em mente, parti para Damasco, levando autorização dos principais sacerdotes e por eles comissionado. Ao meio-dia, ó rei, enquanto eu seguia pelo caminho, vi uma luz no céu, mais resplandecente que o sol, que brilhou ao redor de mim e dos que iam comigo. E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: “Saulo, Saulo, por que você me persegue? É duro para você ficar dando coices contra os aguilhões!” Então eu perguntei: “Senhor, quem é você?” Ao que o Senhor respondeu: “Eu sou Jesus, a quem você persegue. Mas levante-se e fique em pé. Eu apareci a você para constituí-lo ministro e testemunha, tanto das coisas em que você me viu como daquelas pelas quais ainda lhe aparecerei. Vou livrar você do seu próprio povo e dos gentios, para os quais eu o envio, para abrir os olhos deles e convertê-los das trevas para a luz e do poder de Satanás para Deus, a fim de que eles recebam remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim.”
Leituras complementares:
- Ezequiel 36:25-27;
- João 3:1-8;
- 2 Coríntios 5:17;
- Romanos 8:28-30;
- Efésios 2:1-10;
- 1 Tessalonicenses 1:9-10;
- 1 Pedro 2:9-10.
EXPLICAÇÃO DO TEXTO BÁSICO
O texto de Atos 26:12-18 registra o testemunho de Paulo diante do rei Agripa, uma narrativa profundamente significativa sobre conversão genuína. Paulo não estava simplesmente defendendo-se das acusações dos judeus, mas aproveitava a oportunidade para apresentar o evangelho a uma autoridade política.
Contexto Histórico
Este relato ocorre durante o período de detenção de Paulo em Cesareia, após sua prisão em Jerusalém. O apóstolo apresenta sua defesa perante o rei Agripa II (filho de Herodes Agripa I), que visitava o procurador Festo. Esta é a terceira vez que o livro de Atos narra a conversão de Paulo (após os capítulos 9 e 22), com ênfases diferentes conforme o contexto e a audiência.
Paulo organiza sua narrativa de modo a destacar não apenas um evento pessoal, mas a intervenção divina soberana que transformou completamente sua vida e missão. Nesta versão, ele omite a participação de Ananias (mencionado nos outros relatos) e apresenta diretamente as palavras de Jesus, reconhecendo-o como a verdadeira fonte da mensagem.
Análise Geográfica
A narrativa menciona Damasco, importante cidade síria localizada aproximadamente 240 km ao norte de Jerusalém. Era um centro comercial e cultural significativo, com expressiva comunidade judaica. O texto indica que Paulo já havia expandido sua campanha de perseguição para “cidades estrangeiras” antes de dirigir-se a Damasco, demonstrando a intensidade de seu zelo persecutório.
Termos Específicos
- “Recalcitrar contra os aguilhões” (v.14): Provérbio conhecido da época, relacionado à prática agrícola. Os animais de tração eram conduzidos com uma vara pontiaguda (aguilhão), e ao resistir ou chutar contra ela, causavam a si mesmos ferimentos mais profundos. Cristo usa esta metáfora para mostrar a Paulo que sua resistência à verdade do evangelho era, na realidade, uma luta contra o próprio Deus.
- “Constituí-lo servo e testemunha” (v.16): Termos que denotam a comissão apostólica. “Servo” (hyperetes) refere-se a um subordinado que executa ordens de um superior. “Testemunha” (martys, raiz da palavra “mártir”) indica alguém que viu diretamente e pode testificar sobre o que presenciou – qualificação fundamental para o apostolado.
- “Trevas para a luz” e “potestade de Satanás para Deus” (v.18): Contrastes absolutos que descrevem a natureza radical da conversão. “Trevas” simboliza ignorância espiritual, pecado e afastamento de Deus; “luz” representa verdade, santidade e comunhão com Deus. A conversão implica uma transferência de domínio – da autoridade de Satanás para a autoridade divina.
- “Remissão de pecados” (v.18): O termo “remissão” (aphesis) significa literalmente “liberação” ou “envio para longe” – o cancelamento da culpa e da pena pelo pecado, possível somente através do sacrifício de Cristo.
- “Herança entre os santificados” (v.18): A “herança” refere-se à participação no Reino de Deus e nas bênçãos espirituais prometidas. Os “santificados” são aqueles separados para Deus, purificados pelo sangue de Cristo e progressivamente transformados pelo Espírito Santo.
A Bíblia ensina sobre conversão não apenas como evento histórico na vida de Paulo, mas como realidade necessária para todos. O texto apresenta a conversão como transformação radical que envolve “abrir os olhos” espirituais, resultando na transição das trevas para a luz e da autoridade de Satanás para a autoridade de Deus.
INTRODUÇÃO
Na sala de reuniões empresarial, um consultor financeiro cristão mencionou casualmente que pregaria no domingo seguinte. Seu gerente, sorrindo, comentou que pregadores são “ótimos contadores de histórias” e que a religião servia principalmente para “motivar as pessoas a serem melhores”. Quando o consultor tentou explicar que a pregação cristã era mais do que isso – era sobre ajudar as pessoas a reconhecerem sua condição diante de Deus e direcioná-las ao evangelho de Cristo – seu gerente reagiu com perplexidade: “Você não está realmente tentando converter as pessoas, está?”
Esta reação revela uma realidade cultural contemporânea: para muitos, a própria ideia de conversão se tornou incômoda, até mesmo ofensiva. Em nossa sociedade pluralista, falar em conversão religiosa frequentemente evoca suspeitas de intolerância, arrogância ou desrespeito pelas crenças alheias. O que antes era compreendido como o cerne da mensagem cristã – a necessidade de arrependimento e fé em Cristo – agora é frequentemente descartado como ultrapassado ou prejudicial.
No entanto, a Bíblia ensina sobre conversão como elemento central do evangelho. Através da dramática experiência de Paulo na estrada de Damasco, registrada em Atos 26, encontramos um modelo de conversão autêntica que continua relevante e necessário em nossos dias. Diante das pressões culturais para diluir esta mensagem, somos chamados a examinar o que a Escritura realmente ensina sobre este tema vital.
1. A CONVERSÃO COMO TRANSFORMAÇÃO RADICAL
A conversão autêntica representa uma mudança completa de direção na vida do indivíduo. Não se trata de mera reforma comportamental ou aprimoramento moral, mas de transformação profunda que afeta todas as dimensões da existência humana.
a) Uma mudança de lealdade fundamental
O relato de Paulo ilustra como a conversão envolve a transferência de lealdade. Antes, ele dedicava sua vida à perseguição dos cristãos, pensando servir a Deus através do zelo pela tradição judaica. Após o encontro com Cristo, sua lealdade foi redirecionada para o verdadeiro Senhor.
Como escreveu João Calvino: “A fé genuína invariavelmente produz arrependimento. Não é possível voltar-se de coração para Deus e ao mesmo tempo não se desviar das inclinações perversas da carne. Entre estes dois impulsos existe um conflito irreconciliável.” As Institutas da religião cristã. Livro III. Capítulo III. Seção 5.
A mudança de lealdade na conversão não é parcial ou negociável – quando Cristo chama, exige dedicação completa. Jesus frequentemente enfatizou o custo do discipulado: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”, Mateus 16:24.
Para refletir: Como a mudança de lealdade se manifesta concretamente na vida do convertido? Quais áreas da vida são mais resistentes a esta transferência de autoridade?
b) Uma transformação de identidade
A conversão não apenas muda o comportamento, mas reformula profundamente a identidade pessoal. Paulo passou de perseguidor a apóstolo, de inimigo a embaixador de Cristo.
Em 2 Coríntios 5:17, Paulo declara: “Se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” Esta linguagem de nova criação ecoa o poder transformador que opera na conversão – não mera modificação, mas recriação.
John Piper observa: “A conversão cristã não é apenas uma mudança de opinião ou uma nova filiação religiosa, mas uma completa reorientação do coração. Seus afetos são reorganizados de modo que o que antes você amava, agora odeia, e o que antes você odiava, agora ama.” -“Deus é o Evangelho: Meditações Sobre a Pessoa e a Obra de Deus”, p. 57.
Na perspectiva da Bíblia, a conversão resulta na adoção de uma nova identidade – filhos de Deus, cidadãos do Reino, membros da família divina. Como Paulo enfatiza em Colossenses 1:13, fomos “transferidos do império das trevas para o reino do Filho do seu amor.”
Para refletir: De que maneiras específicas a conversão afeta a forma como você entende sua própria identidade? Como esta nova identidade contrasta com as identidades que o mundo procura nos impor?
c) Um processo sobrenatural
Embora a conversão envolva resposta humana, a Bíblia ensina sobre conversão como obra fundamentalmente divina. O encontro de Paulo com Cristo ressalta o caráter sobrenatural deste processo – não foram argumentos teológicos ou persuasão humana que o transformaram, mas a intervenção direta de Deus.
O Catecismo Menor de Westminster afirma: “A obra eficaz do Espírito de Deus convence-nos de nosso pecado e miséria, ilumina nossas mentes no conhecimento de Cristo, e renovando as nossas vontades, persuade-nos e habilita-nos a abraçar Jesus Cristo, que nos é oferecido de graça no Evangelho”, Pergunta 31.
Jesus enfatizou a obra sobrenatural da regeneração em sua conversa com Nicodemos: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”, João 3:5. Esta linguagem de “novo nascimento” sublinha a impossibilidade de autotransformação.
Para refletir: Como equilibrar a compreensão da conversão como obra divina com a responsabilidade humana de responder ao evangelho? Que implicações isso tem para nossa abordagem do evangelismo?
2. OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DA CONVERSÃO BÍBLICA
A Bíblia ensina sobre conversão através de diversos conceitos interligados que revelam sua natureza completa. Examinando o texto de Atos 26 e passagens complementares, podemos identificar os elementos constitutivos da verdadeira conversão.
a) Iluminação espiritual: “abrir os olhos”
O primeiro elemento mencionado na comissão de Paulo é “abrir os olhos” daqueles a quem seria enviado (v.18). Esta metáfora visual captura a essência da obra divina na conversão – a capacidade de ver verdades espirituais anteriormente invisíveis.
R.C. Sproul comenta: “A cegueira espiritual não é primariamente intelectual, mas moral. Não é que não possamos compreender as palavras do evangelho, mas que, em nossa natureza caída, resistimos a seu significado e implicações”, “Eleitos de Deus”, p. 72.
A experiência de Paulo exemplifica esta transformação da percepção. Em 2 Coríntios 4:3-6, ele relata: “E, mesmo que o nosso evangelho esteja encoberto, está encoberto para os que se perdem[…] o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho[…] Pois Deus disse: ‘Das trevas resplandecerá a luz’, ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo.”
Para refletir: Que verdades espirituais você compreende agora que pareciam incompreensíveis antes de sua conversão? Como esta “iluminação” continua em sua vida cristã?
b) Arrependimento genuíno: “das trevas para a luz”
A conversão envolve movimento “das trevas para a luz” – metáfora poderosa para o arrependimento. Não se trata apenas de sentir remorso, mas de mudança radical de direção.
O termo bíblico para arrependimento (metanoia) significa literalmente “mudança de mente” – transformação profunda da perspectiva que resulta em nova orientação de vida.
Jonathan Edwards escreveu: “O verdadeiro arrependimento consiste em: 1) uma convicção verdadeira da pecaminosidade do coração e da vida; 2) uma dor sincera e contrição diante de Deus por causa dos pecados; 3) um ódio do pecado, um afastar-se dele com total determinação de abandoná-lo; e 4) um engajamento com novas obediências”, “A Vida de David Brainerd”, p. 423.
A conversão de Paulo exemplifica este processo – ele reconheceu sua oposição a Deus na perseguição aos cristãos, abandonou este caminho e dedicou sua vida à obediência a Cristo.
Para refletir: Como o arrependimento se distingue do simples remorso? De que maneiras o arrependimento continua sendo parte da vida cristã após a conversão inicial?
c) Fé em Cristo: “pela fé em mim”
O versículo 18 conclui que todas as bênçãos da conversão – perdão dos pecados e herança entre os santificados – são recebidas “pela fé em mim [Jesus]”. A fé está no centro da experiência de conversão.
A fé salvífica não é mera crença intelectual, mas confiança pessoal em Cristo. Como define a Confissão de Fé de Westminster: “A fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual recebemos e repousamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”, Capítulo XIV.
Charles Spurgeon afirmou: “A fé não é meramente crer que Cristo morreu pelos pecadores, mas confiar nele como seu Salvador pessoal. Muitos admitem a doutrina da expiação, mas rejeitam seu poder. A verdadeira fé significa descansar todo o peso de sua alma sobre Cristo, como uma casa repousa sobre seu fundamento”, “Sermões Completos”, Vol. 37, p. 214.
Para refletir: Como podemos distinguir entre fé salvífica e mera concordância intelectual com doutrinas cristãs? De que maneiras a fé se manifesta na vida diária do cristão?
3. A NECESSIDADE DA CONVERSÃO EM UM MUNDO PLURALISTA
Em nossa era de relativismo e pluralismo religioso, a insistência bíblica na necessidade universal de conversão enfrenta resistência crescente. Entretanto, a Bíblia ensina sobre conversão como requisito indispensável para a salvação.
a) A universalidade da condição humana
O relato de Paulo demonstra que a conversão não é necessária apenas para alguns, mas para todos – inclusive para pessoas moralmente exemplares e religiosamente zelosas como ele era.
Como afirma Romanos 3:23, “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” A condição humana universal é de separação de Deus, independentemente de background cultural ou religioso.
Herman Bavinck observou: “O pecado não é meramente um atraso no desenvolvimento humano, nem uma má adaptação social, mas rebelião contra o Criador, uma violação da lei divina que permeia todo o ser humano e afeta todas as suas faculdades”, “Nossa Fé Razoável”, p. 37.
A necessidade universal de conversão fundamenta-se na universalidade do pecado e suas consequências. Conforme Efésios 2:1-3, todos estávamos “mortos em delitos e pecados” e éramos “por natureza, filhos da ira”.
Para refletir: Como podemos afirmar a necessidade universal de conversão sem cair em atitudes de superioridade ou arrogância? De que maneira o reconhecimento de nossa própria necessidade de conversão afeta nossa abordagem ao evangelismo?
b) A exclusividade de Cristo como caminho de salvação
A Bíblia ensina sobre conversão como resposta necessária à exclusividade de Cristo. No texto de Atos 26, Paulo é comissionado a levar as pessoas “da potestade de Satanás para Deus” – não existem territórios neutros ou caminhos alternativos.
Jesus afirmou claramente: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”, João 14:6. Esta declaração estabelece a necessidade da conversão a Cristo para todos os seres humanos.
O teólogo John Frame escreve: “Em nossa era de pluralismo, a particularidade da salvação em Cristo parece escandalosa. Mas a própria particularidade da encarnação – que Deus se revelou definitivamente em uma pessoa histórica específica – implica a particularidade da salvação. Se Deus tornou-se homem em Jesus Cristo para nossa salvação, então a salvação deve vir através deste meio particular que Deus escolheu”, “Doutrina do Conhecimento de Deus”, p. 317.
A exclusividade de Cristo não significa falta de respeito por outras religiões, mas reconhecimento do testemunho bíblico sobre a singularidade da obra redentora de Cristo.
Para refletir: Como comunicar a exclusividade de Cristo de maneira respeitosa em conversas com pessoas de outras religiões? Como a singularidade da encarnação sustenta a necessidade da conversão?
c) A confusão contemporânea sobre a conversão
Em nossos dias, a própria noção de conversão é frequentemente mal compreendida ou redefinida de maneiras incompatíveis com o ensino bíblico.
Alguns reduzem a conversão a mera mudança de afiliação religiosa, sem transformação interior. Outros a concebem como “jornada espiritual” indefinida, sem necessidade de compromisso decisivo com Cristo. Há ainda quem defenda que seguidores de outras religiões possam ser “seguidores anônimos de Cristo” sem conversão explícita.
Timothy Keller observa: “A cultura contemporânea vê a religião primariamente como ferramenta de autorrealização. Nesta visão, a conversão é simplesmente escolher a tradição religiosa que melhor se adapta às suas necessidades e preferências pessoais. A visão bíblica, entretanto, entende a conversão como rendição a uma verdade exterior a nós, que nos confronta e transforma”, “O Deus Pródigo”, p. 78.
A confusão contemporânea sobre conversão reflete a tendência cultural de privatizar e relativizar a verdade religiosa. A Bíblia, entretanto, apresenta a conversão não como opção estilística, mas como resposta necessária à realidade objetiva da obra redentora de Cristo.
Para refletir: Quais concepções distorcidas de conversão são mais comuns em seu contexto cultural? Como você pode ajudar outros a compreender o verdadeiro significado bíblico da conversão?
4. OS FRUTOS DA CONVERSÃO AUTÊNTICA
A Bíblia ensina sobre conversão não apenas como evento pontual, mas como realidade que produz frutos visíveis e duradouros na vida do convertido.
a) Nova direção de vida
A conversão genuína manifesta-se em reorientação completa da vida. Para Paulo, significou abandonar a perseguição aos cristãos para dedicar-se à proclamação do evangelho.
Em 1 Tessalonicenses 1:9-10, Paulo descreve a conversão dos tessalonicenses: “vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e para aguardardes dos céus o seu Filho.” Esta descrição destaca o movimento “de-para” característica da conversão verdadeira.
O teólogo Wayne Grudem define: “A conversão genuína envolve não apenas um momento de decisão, mas uma mudança duradoura na direção da vida, onde a pessoa passa a amar o que Deus ama e odiar o que Deus odeia”, “Teologia Sistemática”, p. 713.
A nova direção não significa perfeição imediata, mas novo propósito e nova trajetória da vida, agora orientada para agradar a Cristo e não a si mesmo.
Para refletir: Que mudanças de direção ocorreram em sua vida após a conversão? Em quais áreas você ainda percebe necessidade de maior alinhamento com a vontade de Deus?
b) Crescimento em santidade
A conversão inicia o processo de santificação – crescimento progressivo em semelhança a Cristo. O versículo 18 menciona “os santificados pela fé em mim”, ligando conversão e santificação.
J.C. Ryle escreveu: “A santificação é a obra interna do Espírito Santo, pela qual o Senhor, tendo dado vida espiritual ao pecador chamado e justificado, gradualmente o renova à imagem de Seu Filho. Começa no momento da conversão e continua até a morte”, “Santidade”, p. 20.
O crescimento em santidade não é opcional para o convertido, mas resultado natural da nova vida em Cristo. Como afirma Tito 2:11-12: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente.”
Para refletir: Como você tem experimentado crescimento em santidade desde sua conversão? Quais disciplinas espirituais têm sido mais úteis neste processo?
c) Participação na missão de Deus
A conversão de Paulo resultou imediatamente em comissão apostólica (v.16-18). De maneira semelhante, todo convertido é chamado a participar da missão de Deus no mundo.
Jesus disse: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”, João 20:21. Participar desta missão não é responsabilidade apenas de alguns cristãos “profissionais”, mas de todos os convertidos.
A Confissão de Westminster afirma: “As boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são os frutos e evidências de uma fé viva e verdadeira“, Capítulo XVI.
A participação na missão manifesta-se de diversas formas: através do testemunho pessoal, do serviço ao próximo, da proclamação do evangelho, da busca por justiça e da demonstração do amor de Cristo em todas as esferas da vida.
Para refletir: De que maneiras específicas você está participando da missão de Deus? Que oportunidades para testemunho e serviço o Senhor tem colocado em seu caminho?
CONCLUSÃO
Nossa jornada pelo conceito bíblico de conversão nos levou a confrontar uma verdade central da fé cristã: a necessidade universal de transformação radical pela graça de Deus em Cristo. Como vimos através do relato de Paulo em Atos 26, a Bíblia ensina sobre conversão não como opção religiosa entre muitas, mas como resposta necessária à iniciativa divina de redenção.
Em um mundo pluralista onde a própria ideia de conversão é frequentemente questionada ou diluída, somos chamados a reafirmar com clareza e amor o chamado de Cristo para que todos se convertam – das trevas para a luz, do reino de Satanás para o reino de Deus. Esta mensagem não é expressão de intolerância ou arrogância, mas manifestação do amor divino que não deseja “que alguns se percam, senão que todos cheguem ao arrependimento”, 2 Pedro 3:9.
A conversão autêntica, como demonstrou Paulo, não se limita a mudança de afiliação religiosa ou aprimoramento moral, mas constitui transformação profunda que afeta todas as dimensões da existência humana – nossas perspectivas, lealdades, identidade e propósito. É obra sobrenatural da graça que nos transfere “do império das trevas para o reino do Filho do seu amor”, Colossenses 1:13.
Diante das pressões contemporâneas para diluir ou reinterpretar a mensagem da conversão, devemos nos perguntar: estamos realmente chamando as pessoas à conversão genuína? Ou temos nos contentado com versões reduzidas do evangelho que não exigem arrependimento radical e fé exclusiva em Cristo?
Como o consultor financeiro da ilustração inicial, talvez enfrentemos incompreensão ou até mesmo hostilidade ao afirmarmos a necessidade de conversão. Porém, como embaixadores de Cristo, não podemos oferecer menos que a verdade completa do evangelho – verdade que confronta mas também liberta, que desafia mas também regenera, que derruba mas também reconstrói.
A Bíblia ensina sobre conversão porque Deus, em sua infinita misericórdia, não nos deixa como estamos, mas nos chama para uma realidade incomparavelmente superior: vida abundante como filhos amados, participantes da natureza divina e herdeiros de seu reino eterno.
APLICAÇÃO PRÁTICA
- Examine sua própria conversão Dedique tempo para refletir sobre sua própria experiência de conversão. Identificou-se nos elementos bíblicos descritos nesta lição? A conversão produziu mudança real de direção em sua vida? Crescimento em santidade? Participação na missão de Deus? Se você tem dúvidas sobre a autenticidade de sua conversão, busque ajuda pastoral e aprofunde-se no estudo das Escrituras sobre este tema.
- Comunique o evangelho completo Comprometa-se a comunicar o evangelho completo, sem omitir os elementos de arrependimento e conversão. Pratique articular o chamado à conversão de maneira clara, amorosa e contextualmente sensível. Evite tanto a confrontação desnecessariamente ofensiva quanto a diluição da mensagem para torná-la mais aceitável.
- Cultive humildade e gratidão Lembre-se que sua própria conversão foi obra da graça imerecida de Deus, não de seus méritos ou esforços. Esta consciência nutri humildade genuína e profunda gratidão, protegendo-o de atitudes arrogantes ao compartilhar o evangelho com outros.
- Desenvolva sensibilidade cultural Busque compreender as objeções culturais contemporâneas à ideia de conversão para comunicar o evangelho de maneira mais eficaz. Identifique pontes de diálogo que permitam apresentar a necessidade de conversão sem reforçar estereótipos negativos.
- Aprofunde-se na doutrina da conversão Estude mais sobre o tema da conversão nas confissões reformadas, tratados teológicos clássicos e contemporâneos. Familiarize-se com as diversas metáforas bíblicas para a conversão (novo nascimento, nova criação, ressurreição espiritual, etc.) para enriquecer sua compreensão e comunicação desta verdade central.
QUADRO EXPLICATIVO: ASPECTOS DA CONVERSÃO
Aspecto | Descrição | Texto Bíblico |
---|---|---|
Dimensão Intelectual | Reconhecimento da verdade sobre Deus, sobre si mesmo e sobre o caminho da salvação | “Abrir os olhos” (At 26:18) |
Dimensão Volitiva | Mudança da vontade, reorientação das intenções e escolhas | “Converter-se das trevas para a luz” (At 26:18) |
Dimensão Afetiva | Transformação dos desejos e afeições, passando a amar o que Deus ama | “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração” (Mt 22:37) |
Dimensão Relacional | Restauração do relacionamento com Deus, de inimizade para reconciliação | “Da potestade de Satanás para Deus” (At 26:18) |
Dimensão Comunitária | Incorporação ao corpo de Cristo, a igreja | “Herança entre os santificados |
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
CALVINO, João. As Institutas da religião cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2001.
KELLER, Timothy. O Deus Pródigo. São Paulo: Vida Nova, 2012.
PACKER, J.I. Entre os Gigantes de Deus. São Paulo: Fiel, 1996.
PIPER, John. Deus é o Evangelho: Meditações Sobre a Pessoa e a Obra de Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2007.
RYLE, J.C. Santidade. São Paulo: PES, 2017.
SPROUL, R.C. Eleitos de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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