Efésios 2.8-9. “Porque pela graça vocês foram salvos, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se orgulhe.”
A história por trás do hino “Maravilhosa Graça” (Amazing Grace) é tão poderosa quanto a própria canção. A letra foi escrita em 1772 por John Newton, um capitão de navio negreiro que se arrependeu de sua vida e se tornou um pastor anglicano. Após sobreviver a uma violenta tempestade no mar, ele experimentou uma profunda conversão, reconhecendo a graça de Deus por ter salvo “um miserável como eu”. A melodia, no entanto, é uma melodia folclórica americana mais antiga, chamada “New Britain”, que foi associada à letra em 1835. Hoje, a música é um dos hinos mais famosos e gravados do mundo, um testemunho eterno do poder do perdão e da redenção.


O Paradoxo da Liberdade
Por que somos tão atraídos por histórias de libertação? Desde os contos épicos de prisões aos relatos de transformação pessoal, algo em nosso âmago ressoa profundamente com narrativas de resgate. Talvez porque reconheçamos, ainda que inconscientemente, nossa própria condição de cativos. Maravilhosa graça não é apenas um conceito teológico; é a única realidade capaz de quebrar as correntes que nos mantêm prisioneiros de nós mesmos.
Vivemos numa era que celebra a autonomia, mas paradoxalmente experimenta níveis crescentes de ansiedade, depressão e vazio existencial. Como explicar essa contradição? A resposta pode estar no fato de que a verdadeira liberdade não vem da ausência de limites, mas do reconhecimento de nossa dependência da maravilhosa graça divina.
A Anatomia da Libertação
O apóstolo Paulo, em Efésios 2.8-9, não fala em termos abstratos sobre salvação. Ele descreve uma operação de resgate cósmico, onde a maravilhosa graça de Deus intervém numa situação humanamente impossível. O termo grego charis (graça) carrega consigo a ideia de favor imerecido, mas também de poder transformador. Não é apenas perdão; é regeneração.
Quando Paulo escreve que fomos salvos “pela graça”, ele emprega uma construção que indica nossa completa dependência da ação divina. Estávamos “mortos em nossos delitos e pecados” (Efésios 2.1), condição que João Calvino descreve como “total incapacidade espiritual”. A morte espiritual não é um estado de fraqueza, mas de absoluta impotência.
“A graça não encontra nada no homem que a mereça, mas cria no homem aquilo que ela requer.” Essa perspectiva bíblica e reformada, revela que a maravilhosa graça não apenas nos liberta da condenação, mas nos capacita para uma nova vida.
A canção que nasce em condições tão inesperadas inspira nossa reflexão com essa verdade: “Liberto eu fui de uma prisão / Meu salvador me resgatou”. Esta não é linguagem metafórica; é descrição teológica precisa. O pecado cria uma prisão existencial da qual não podemos escapar por nossos próprios esforços.
“O homem caído tem vontade livre para pecar, mas não tem vontade livre para não pecar. Somente a graça de Deus pode quebrar essa servidão e conceder verdadeira liberdade.” Agostinho de Hipona.
A Eternidade da Graça
A maravilhosa graça não é um evento pontual, mas uma realidade eterna que permeia toda nossa existência. “E se o meu mundo acabar / E o Sol não mais brilhar / O Deus que um dia me chamou / Será pra sempre meu”. Esta não é esperança ingênua, mas confiança teológica fundamentada na imutabilidade do caráter divino.
Cristo não apenas nos liberta da prisão; Ele se torna nossa habitação permanente. A obra da redenção é completa, mas seus efeitos se desdobram ao longo de nossa peregrinação terrena. Portanto, a maravilhosa graça é simultaneamente decisiva e progressiva, histórica e escatológica. “Se alguém me provasse que Cristo está fora da verdade, e se a verdade realmente excluísse Cristo, eu preferiria permanecer com Cristo a permanecer com a verdade.”
Esta não é irracionalidade, mas o reconhecimento de que a maravilhosa graça transcende nossos sistemas lógicos limitados, oferecendo-nos uma verdade que abraça todo nosso ser.
E agora, como viveremos?
A maravilhosa graça exige resposta existencial. Se fomos verdadeiramente libertos da prisão do pecado, como essa realidade deve moldar nossa vida diária?
Ela nos liberta da necessidade de auto justificação. Não precisamos mais provar nosso valor através de conquistas, status ou performance moral. Nossa identidade está segura em Cristo.
Ela capacita para relacionamentos autênticos. Quando reconhecemos que somos recipientes de misericórdia imerecida, tornamo-nos menos propensos ao julgamento e mais inclinados ao perdão. Isso transforma não apenas nossos lares, mas nossas comunidades.
Ela redefine nosso propósito. Não vivemos mais para nós mesmos, mas como “nova criação” (2 Coríntios 5.17). Cada dia torna-se oportunidade de refletir a glória daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.
Isso significa começar cada manhã reconhecendo nossa dependência da maravilhosa graça. Significa confessar nossos pecados sem desespero, porque sabemos que “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar” (1 João 1.9). Significa servir aos outros não por obrigação, mas por gratidão transbordante.
Oremos
Pai celestial, reconhecemos que somos recipientes de tua maravilhosa graça. Obrigado por nos libertar da prisão do pecado e da morte. Que essa realidade transforme nossos corações e renove nossas mentes a cada dia. Ajuda-nos a viver dignamente da vocação para a qual fomos chamados, refletindo tua glória em todas as áreas de nossa vida. Em nome de Jesus, nosso libertador. Amém.
Para refletir
- De que “prisões” específicas a maravilhosa graça de Deus te libertou, e como isso impacta sua identidade atual?
- Como a compreensão da graça como “dom imerecido” desafia nossa tendência natural de tentar conquistar o favor divino através de obras?
- De que maneiras práticas você pode refletir a maravilhosa graça que recebeu em seus relacionamentos familiares, profissionais e comunitários?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!