QUANDO A VOZ DO PASTOR DISSOLVE O MEDO DE TUDO

“O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Salmo 23:1.

Aqueles que proclamam não temer coisa alguma são, frequentemente, os mais aterrorizados de todos. Pois existe um tipo de medo de tudo que não se anuncia com gritos ou tremores, mas sussurra incessantemente nos corredores da alma, transformando até mesmo os momentos mais simples em campos minados de ansiedade. É o medo que faz do lixo na calçada uma catástrofe pessoal, do telefone que toca uma sentença de morte, do amanhã um abismo intransponível.

Você conhece esse medo de tudo? Aquela sensação de estar perpetuamente à beira de um precipício emocional, onde qualquer brisa pode ser o vento que finalmente o empurra para o caos? Se conhece, então você está em boa companhia – a companhia daqueles para quem Davi escreveu as palavras mais revolucionárias já registradas sobre segurança: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará.”

O Pastor Que Conhece o Território do Terror

Quando Jesus declarou “Eu sou o bom pastor” (João 10:11), Ele não estava oferecendo uma metáfora pastoral romantizada. Estava prometendo algo muito mais substancial: Ele conhece intimamente o terreno onde habitam nossos medos. Conhece cada vale sombrio, cada predador à espreita, cada caminho tortuoso que nossa mente ansiosa percorre nas horas escuras da madrugada.

O medo é, em sua essência, a convicção de que estamos fundamentalmente sozinhos num universo hostil – ou pior, indiferente. É a sensação de que, quando o drama de nossa vida chegar ao seu clímax inevitável, não haverá ninguém nos bastidores para nos socorrer. Mas veja a beleza escandalosa desta declaração de Davi: “meu pastor.” Não um pastor distante e genérico, mas meu pastor – pessoal, presente, proprietário de nossa alma.

Agostinho compreendeu isso quando escreveu que nossos corações são inquietos até descansarem em Deus. O medo de tudo é simplesmente a inquietação de um coração que ainda não encontrou seu verdadeiro descanso. É a agitação de uma ovelha que perdeu de vista seu pastor e agora interpreta cada som como ameaça mortal.

A Graça que lança fora o medo

“Nada me faltará” – que matemática extraordinária é essa? Como pode alguém afirmar com tal certeza que nada faltará quando vivemos num mundo onde tudo pode faltar: saúde, segurança, relacionamentos, até mesmo a vida? A resposta está na peculiar aritmética da graça, onde a equação não se baseia em nossos recursos finitos, mas na provisão infinita do Pastor.

O medo opera segundo a lógica da escassez: sempre haverá mais ameaças do que proteção, mais problemas do que soluções, mais razões para temer do que para confiar. Mas o Pastor opera segundo a lógica da abundância. Quando Ele alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes, não estava apenas satisfazendo uma fome física, mas demonstrando uma verdade espiritual: no reino do Pastor, a provisão sempre excede a necessidade.

A maioria de nossos problemas surge quando olhamos para nossas circunstâncias em vez de olhar para Deus. O medo é exatamente isso – um olhar fixo nas tempestades da vida enquanto esquecemos Aquele que tem autoridade sobre os ventos e as ondas. “Por que temeis, homens de pequena fé?” (Mateus 8:26), perguntou Jesus aos discípulos em meio à tempestade. A pergunta ecoa através dos séculos, chegando até nós: por que permitimos que o medo nos domine quando temos um Pastor que acalma tempestades?

A Voz Que Desfaz o Caos

A Escritura é “Deus falando”, não foi Deus falando outrora, mas Deus falando agora, neste momento, para esta situação específica que nos causa tanto medo. Quando lemos “O Senhor é meu pastor,” não estamos recitando uma fórmula antiga, mas ouvindo uma declaração presente, atual, carregada de toda a autoridade do céu.

A voz do Pastor tem uma qualidade única: ela cria aquilo que proclama. Quando Ele disse “Haja luz,” a luz passou a existir. Quando Ele diz “nada me faltará,” nossa escassez se transforma em abundância, nosso medo de tudo se dissolve em confiança inabalável. Não porque nossa situação externa necessariamente muda, mas porque nossa perspectiva interna é radicalmente reorientada.

Lembro-me das palavras do hino de Charles Wesley: “Jesus, lover of my soul, let me to thy bosom fly” – “Jesus, amante de minha alma, deixa-me voar para teu seio.” Este é o movimento necessário para quem sofre com o medo: não um esforço gigantesco para ser corajoso, mas um simples voar para o seio do Pastor, onde o medo se torna desnecessário porque tudo que necessitamos já está presente em Cristo.

O Convite Irresistível

Este texto não é uma doutrina para ser estudada, mas um convite para ser aceito. “O Senhor é meu pastor”, será que você pode pronunciar essas palavras com honestidade? Não como exercício intelectual, mas como rendição pessoal? Não como teoria teológica, mas como realidade transformadora?

O medo de tudo sussurra que você deve ser forte, estar preparado, ter todas as respostas. Mas o Pastor convida à dependência completa. Ele não promete que você nunca enfrentará tempestades, mas assegura que nunca as enfrentará sozinho. Não garante que jamais haverá vales sombrios, mas promete caminhar através deles conosco.

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” (Salmo 23:4). O medo se desfaz não porque as ameaças desaparecem, mas porque a Presença se torna mais real que qualquer perigo.

Que esta verdade penetre sua alma hoje: você tem um Pastor. Ele conhece seu nome, conhece seus medos, conhece exatamente do que você precisa antes mesmo que você saiba. E na economia impossível da graça, quando Ele é verdadeiramente seu Pastor, nada – absolutamente nada – poderá faltar.

Pastor da minha alma, confesso que tenho permitido que o medo seja meu conselheiro mais próximo. Perdoa-me por viver como órfão quando sou filho, por agir como abandonado quando tens estado comigo o tempo todo. Torna-te meu Pastor não apenas em teoria, mas em experiência viva. Que tua voz seja mais alta que todos os sussurros do medo, tua presença mais real que todas as ameaças. Ensina-me a descansar na certeza de que, sendo tu meu Pastor, nada – absolutamente nada – me faltará. Em teu nome precioso, Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.