Apocalipse 21:2. “E vi a cidade santa, a Nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como noiva adornada para o seu esposo.”
O Anseio Que Habita em Nós
Por que o coração humano anseia por algo além desta existência?
A Nova Jerusalém representa mais que um destino futuro; ela revela nossa verdadeira pátria espiritual. Em uma época marcada por urbanização desenfreada, violência urbana e desigualdade social, a visão de uma cidade perfeita parece utópica. No entanto, será que compreendemos que esta cidade celestial não é mera consolação escapista, mas a realização definitiva do plano redentor de Deus? Como esta esperança transforma nossa experiência presente?
A Nova Jerusalém simboliza a culminação da aliança entre Deus e seu povo. Portanto, João não apenas contempla uma cidade física, mas testemunha a restauração completa da comunhão perdida no Éden. Assim, quando o hino declara ter lido “da bela cidade situada no reino de Deus”, conecta-se com uma tradição bíblica que atravessa toda a Escritura.
A tradição reformada, por sua vez, sempre enfatizou a continuidade entre a igreja militante e a igreja triunfante. Veja como Bavinck compreendeu essa verdade bíblica e teológica:
“A Nova Jerusalém não é uma cidade literal de pedras preciosas, mas a comunidade dos eleitos em sua glorificação final. É a Igreja de Cristo em sua forma perfeita e consumada, quando toda lágrima for enxugada e toda imperfeição removida pela graça transformadora de Deus.”
Herman Bavinck, Dogmática Reformada – Volume 4: Escatologia, Editora Cultura Cristã, 2012, p. 847.
A história da Igreja testemunha esse anseio constante. Durante as perseguições romanas, quando cristãos enfrentavam o martírio nos anfiteatros, historiadores registraram sua esperança inabalável:
“Os mártires cristãos dos primeiros séculos não morriam apenas por uma doutrina abstrata, mas pela certeza de que a cidade celestial os aguardava. Esta esperança da Nova Jerusalém transformava o sofrimento presente em antecipação gloriosa, demonstrando que a escatologia cristã não é fuga da realidade, mas sua mais profunda interpretação.”
Jaroslav Pelikan, A Tradição Cristã: Uma História do Desenvolvimento da Doutrina, Editora Shedd, 2014, Volume 1, p. 156.
Há em todo coração humano — ainda que obscurecido pela queda — uma nostalgia silenciosa por essa morada divina. Sentimos essa saudade quando olhamos para o horizonte e percebemos que nenhuma conquista, nenhum amor, nenhuma beleza criada consegue satisfazer plenamente a alma. Somos peregrinos em um mundo que não é o nosso lar, viajantes que, mesmo cercados de ruínas e promessas quebradas, continuam sonhando com uma cidade “que tem fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus.”
“E como eu vi aquela região sacra de luz e amor, compreendi que nenhuma linguagem terrena poderia jamais expressar completamente a glória que ali habita. Pois o que os olhos mortais contemplam da cidade eterna é apenas um reflexo pálido da realidade que nos aguarda na presença do Altíssimo.”
Dante Alighieri, A Divina Comédia – Paraíso, Editora 34, 2018, Canto XXXIII, versos 55-60, p. 542.
As civilizações terrenas erguem monumentos em busca de permanência, mas suas pedras se desfazem. Os impérios se levantam em nome da glória, mas suas coroas enferrujam. Somente na Cidade Celeste a glória é eterna, porque ali não há sombra de mudança, nem lágrimas de despedida. É o lar que o Criador preparou para os que O amam, onde cada aspiração humana será finalmente purificada e satisfeita n’Ele.
E, enquanto caminhamos neste vale de sombras, nossa esperança não é fuga, mas direção. Pois quem contempla, ainda que de longe, a luz daquela cidade, já começa a ser transformado por ela. A fé é o mapa; a graça, o caminho; e Cristo, a porta. Quem O segue, mesmo entre espinhos e desertos, carrega dentro de si um lampejo da eternidade — uma centelha da própria luz que um dia nos envolverá por completo.
Assim, ansiamos não por um lugar distante, mas pelo reencontro com Aquele que é a própria morada da alma. A Cidade Celeste não é apenas o fim da jornada; é o coração de Deus aberto para acolher os Seus filhos. E quando enfim a contemplarmos face à face, descobriremos que todas as nossas aspirações humanas — de beleza, de justiça, de amor e de verdade — sempre apontaram para lá.
Cristo, o Arquiteto da Esperança
A tensão entre o anseio presente e a realização futura encontra sua resolução em Cristo. No entanto, Ele não é apenas o caminho para a Nova Jerusalém; Ele é o próprio fundamento da cidade celestial. Assim, nossa esperança não reside em uma geografia espiritual, mas na pessoa do Redentor que preparou lugar para nós.
E agora, como viveremos?
A Nova Jerusalém transforma nossa perspectiva presente de três maneiras práticas. Primeiramente, redefine nossa relação com as cidades terrenas: não as desprezamos, mas as vemos como campos missionários que antecipam a cidade perfeita. Além disso, a esperança celestial nos liberta do materialismo: sabendo que possuímos herança incorruptível, podemos usar recursos terrenos com generosidade e desprendimento. Finalmente, a certeza da consumação futura nos capacita para perseverar através das tribulações presentes. Assim, vivemos como cidadãos de duas cidades: servindo fielmente na terrena enquanto aguardamos a celestial. Portanto, nossa conduta deve refletir os valores da pátria que nos aguarda.
Oremos
Pai celestial, obrigado pela esperança da Nova Jerusalém. Que esta certeza transforme nosso coração, cure nossa ansiedade e nos motive ao serviço fiel. Vem, Senhor Jesus. Amém.
Perguntas para Reflexão
- Como a esperança da Nova Jerusalém pode transformar minha atitude em relação aos desafios e injustiças da vida presente?
- De que maneiras posso viver hoje como cidadão da cidade celestial, refletindo seus valores em minha comunidade terrena?
- Como a certeza da consumação futura pode me libertar do materialismo e do apego excessivo às coisas temporais?
“Tenho lido das vestes brilhantes,
Das coroas que os salvos terão,
Quando o Pai os chamar, proclamando:
“Tereis eternal galardão”.
Tenho lido que os santos na glória
Pisam ruas de ouro e cristal;
Mas metade da glória celeste
Jamais se contou ao mortal!Tenho lido da história bendita
De Jesus, o fiel Redentor,
Que por nós padeceu no Calvário
E aceita o mais vil pecador.
Tenho lido do sangue vertido
Que a todos redime do mal;
Mas metade da glória celeste
Jamais se contou ao mortal!”
Jonathan Burtch Atchison.
Este devocional se baseia na canção 187 – “Cidade Celestial” do Hinário Novo cântico.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!