NUNCA ABANDONE A ORAÇÃO
“Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.” Romanos 10:10-11.
O Paradoxo dos Encontros Inconvenientes
Há algo deliciosamente irônico na forma como Deus opera. Aqui estamos nós, com nossas agendas cuidadosamente planejadas, nossos compromissos alinhados como soldados em formação, e então interrupção. O telefone toca no momento menos oportuno. Um vizinho aparece na porta quando você já está atrasado. Um colega de trabalho faz uma pergunta existencial justamente quando você tem uma reunião em cinco minutos.
George Whitefield, aquele pregador incansável do século XVIII, conhecia bem esse paradoxo. Certa vez, enquanto proclamava o evangelho ao ar livre, um homem embriagado começou a perturbá-lo. Whitefield poderia ter ignorado a interrupção, afinal, tinha um sermão para terminar, almas para alcançar. Mas, com aquela sabedoria que só nasce da oração constante, ele parou, fitou o perturbador e disse: “Amigo, você veio aqui para zombar, mas Deus o trouxe para ser salvo.” O homem foi transformado naquele instante.
A pergunta que nos confronta é esta: O que você vê quando olha para suas interrupções? Aborrecimentos divinos ou compromissos celestiais?
Quando Deus Marca Sua Agenda
“Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação” (Romanos 10:10-11). Paulo não está simplesmente descrevendo uma transação teológica; ele está pintando um quadro da vida cristã onde oração e proclamação se entrelaçam como fios de um mesmo tecido. A oração nos prepara para confessar, e a confissão brota da oração.
Mas aqui está o paradoxo que nos desarma: quanto mais oramos por oportunidades de testemunhar, mais inconvenientes elas se tornam. É como se Deus tivesse um senso de humor peculiar, ou talvez uma sabedoria que transcende nossa compreensão de conveniência.
O ministério pastoral “pode ser muitas coisas, porém, ‘conveniente’ não é o melhor termo para descrevê-lo”. Esta verdade se estende a todo cristão que leva a sério o chamado para ser testemunha. A oração nos ensina que os compromissos de Deus raramente coincidem com os nossos horários preferidos.
Pense em Filipe, aquele evangelista zeloso de Atos 8. Estava em pleno avivamento em Samaria, multidões se convertendo, demônios sendo expulsos, aleijados sendo curados. Era o tipo de ministério que gera relatórios missionários empolgantes e convites para conferências. Então veio a interrupção: “Levanta-te e vai para o lado do sul, pelo caminho que desce de Jerusalém para Gaza, o qual está deserto” (Atos 8:26).
Gaza? Deserto? Sozinho? Que desperdício de talento ministerial! Mas Filipe havia aprendido na oração a reconhecer a voz do Senhor, mesmo quando ela contrariava sua lógica ministerial. E foi naquela estrada poeirenta e aparentemente improdutiva que encontrou um etíope sedento de Deus, pronto para levar o evangelho a um continente inteiro.
A Geometria Sagrada das Interrupções
Quando oramos por encontros divinos, estamos pedindo para que nossa agenda seja submetida à agenda celestial. E Deus, que não desperdiça nada, usa até mesmo nossos atrasos e contratempos para seus propósitos eternos.
João Crisóstomo aprendeu isso de forma dolorosa. Exilado duas vezes por sua pregação destemida, poderia ter visto suas interrupções como desastres ministeriais. Em vez disso, seus escritos durante o exílio tornaram-se alguns dos tesouros mais preciosos da tradição cristã. Suas maiores contribuições vieram não dos púlpitos dourados de Constantinopla, mas das celas frias do desterro.
A oração nos prepara para essa realidade desconcertante: que Deus frequentemente nos usa mais em nossos momentos de inconveniência do que em nossos momentos de preparação. “A vida espiritual não é sobre conseguir o que queremos de Deus, mas sobre prestar atenção ao que Deus está fazendo em nós e através de nós”.
O Evangelismo das Pequenas Coisas
Há uma tendência moderna, talvez uma obsessão, de pensar grande. Grandes eventos, grandes campanhas, grandes números. Mas a oração nos ensina a teologia das pequenas coisas, dos encontros aparentemente insignificantes que Deus usa para mover montanhas.
Corrie ten Boom, nossa irmã holandesa que transformou os horrores do Holocausto em oportunidades de graça, entendia que mesmo nos campos de concentração nazistas, cada interação era um milagre providencial de Deus. Sua irmã Betsie, morrendo de desnutrição, ainda sussurrava palavras de esperança para outras prisioneiras. Eram encontros de cinco minutos que ecoaram por décadas.
A oração nos convida a esse tipo de visão sacramental da vida cotidiana. O caixa do supermercado que parece exausto, o colega que faz uma pergunta existencial no elevador, o vizinho que passa por uma crise, todos se tornam oportunidades potenciais para a graça quando filtrados pela oração.
A Liberdade de Falhar
Mas há uma verdade consoladora que precisa ser dita: você não é o Salvador. Esta frase, simples como parece, carrega o peso de toda a doutrina da graça. A oração nos lembra que nossa eficácia evangelística não determina nossa posição diante de Deus. Somos salvos pela graça, através da fé, não por obras evangelísticas, incluindo nossa habilidade de reconhecer compromissos divinos.
“A boa notícia do evangelho é que Jesus morreu e ressuscitou por pecadores, incluindo os que falham em seu compromisso com Deus.” Esta verdade nos liberta do fardo insuportável da performance espiritual. Podemos arriscar porque nossa identidade está segura. Podemos falhar porque nossa salvação não depende de nosso sucesso.
A oração se torna, assim, tanto um meio de preparação quanto um meio de restauração. Quando perdemos oportunidades, e todos perdemos, retornamos a Deus em oração, encontrando não condenação, mas renovação para novas oportunidades.
Vivendo na Expectativa Sagrada
“Senhor, que teu serviço divino interrompa minha agenda hoje.” Esta deveria ser nossa oração matinal, tão natural quanto respirar. Mas que tipo de pessoa ora assim? Alguém que aprendeu a ver as interrupções não como obstáculos, mas como oportunidades; alguém que descobriu que Deus frequentemente trabalha melhor quando nossos planos são desfeitos.
A oração nos ensina a viver em expectativa sagrada. Não a expectativa nervosa de quem teme perder algo, mas a expectativa alegre de quem sabe que Deus tem um plano santo e perfeito traçado para nós. Como diz o salmista: “Os meus olhos se elevam continuamente ao Senhor…” (Salmo 25:15).
Esta é a vida de oração que Paulo tinha em mente quando escreveu sobre crer no coração e confessar com a boca. A confissão brota naturalmente de um coração que vive em constante comunhão com Deus, preparado para falar d’Ele a qualquer momento, mesmo nos momentos mais inconvenientes.
“Pai celestial, perdoa nossa preferência pela conveniência sobre Teus propósitos eternos. Ensina-nos a orar por interrupções sagradas, por encontros divinos que desarrumem nossa agenda mas cumpram a Tua. Dá-nos olhos para ver cada pessoa como um compromisso potencial marcado por Ti. E se falharmos, lembra-nos de que nossa identidade repousa não em nossa performance, mas em Tua graça imerecida. Por Jesus Cristo, nosso Senhor, que deixou o céu para nos alcançar. Amém.”
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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