Filipenses 1:21-23. “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.”
RESOLUÇÃO 07. “Resolvo nunca fazer algo que teria medo de fazer, se fosse a última hora da minha vida.”
Vivendo sem medo da morte
“A morte é o grande teste da sinceridade de nossas profissões religiosas. É fácil falar de Cristo quando tudo vai bem conosco; mas quando a morte se aproxima, então descobrimos se nossa religião é real ou fingida. O homem que pode olhar a morte no rosto e dizer: ‘Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?’ – esse homem tem uma religião que vale a pena ter.” J.C. Ryle, Expository Thoughts on the Gospels, p. 187
“Resolvi nunca fazer coisa alguma, seja no que for, que eu tivesse medo de fazer se fosse a última hora de minha vida. Resolvi nunca dizer palavra alguma, nem expressar coisa alguma, nem agir de modo algum, exceto aquilo que eu julgasse melhor para a glória de Deus.” Jonathan Edwards, Resoluções, p. 45
Passamos a vida inteira fugindo da morte, mas é precisamente o medo dela que nos impede de verdadeiramente viver. Jonathan Edwards, aos dezenove anos, percebeu essa tensão espiritual quando escreveu sua sétima resolução: “Nunca fazer algo que teria medo de fazer, se fosse a última hora da minha vida.” Que provocação! Que desafio ao nosso coração covarde!
Quantas vezes deixamos de amar genuinamente porque tememos a vulnerabilidade? Quantas palavras de perdão ficaram presas em nossa garganta porque o orgulho sussurrou: “Você tem tempo”? Quantos atos de coragem foram adiados para um “momento mais oportuno” que nunca chegou? Edwards nos confronta com uma verdade incômoda: se nossa vida presente não resiste ao teste da eternidade, talvez não estejamos vivendo de todo.
O jovem teólogo de Connecticut compreendeu algo que nossa época ansiosa e distraída esqueceu: a consciência da morte não paralisa a vida autêntica – ela a liberta. Mas como? Como podemos viver com tal ousadia que nem mesmo a sombra da morte consegue nos intimidar?
“O cristão deve sempre viver como se estivesse morrendo, e morrer como se estivesse vivendo. Pois aquele que vive bem não pode morrer mal, e aquele que morre bem não pode ter vivido mal.” Agostinho de Hipona, Confissões, p. 298
Vivendo com consciência da mortalidade
“A perspectiva da eternidade deve colorir todos os nossos pensamentos e moldar todas as nossas ações. Quando um homem está verdadeiramente convencido de que pode morrer a qualquer momento, e de que deve comparecer diante do tribunal de Cristo, isso tem um efeito maravilhoso em fazer com que ele seja circunspecto em sua conduta.” Charles Hodge, Systematic Theology, p. 432
“Cristo não morreu para tornar a morte confortável, mas para tornar a vida corajosa. Quando compreendemos que nossa vida está escondida com Cristo em Deus, descobrimos que não há nada neste mundo que possa verdadeiramente nos ameaçar.” D. Martyn Lloyd-Jones, Spiritual Depression, p. 156
Paulo de Tarso conhecia essa liberdade radical. Quando escreveu aos filipenses desde uma prisão romana, suas palavras transbordavam de uma confiança desconcertante: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” Não era bravata retórica ou estoicismo filosófico. Era a confissão de um homem que havia descoberto o segredo da vida destemida: quando Cristo se torna o centro de nossa existência, a morte perde seu aguilhão de terror.
Edwards mergulhou nessa mesma fonte de coragem. Sua resolução não nasceu de imprudência juvenil ou desejo de aventura, mas de uma compreensão profunda do evangelho. Se Cristo morreu e ressuscitou, se nossa vida está escondida com Ele em Deus, se nossa cidadania está nos céus, então o que pode nos ameaçar verdadeiramente? A morte física? Ela se tornou apenas uma porta estreita para a glória infinita.
Mas observemos a sabedoria pastoral de Edwards: ele não diz “nunca ter medo”, mas “nunca fazer algo que teria medo de fazer na última hora”. Há uma diferença crucial. O medo pode visitar nosso coração – somos humanos, afinal. Mas não pode governar nossas decisões. A pergunta que devemos fazer diante de cada escolha não é: “Sinto-me corajoso agora?”, mas: “Se soubesse que esta é minha última oportunidade de amar, servir, perdoar ou testemunhar, faria isso mesmo assim?”
“A verdadeira piedade se manifesta não na ausência do medo, mas na presença da coragem que vem da fé. O cristão maduro não é aquele que nunca sente medo, mas aquele que age corretamente apesar do medo.” John Owen, The Mortification of Sin, p. 89
Esta perspectiva eterna transforma radicalmente nossa ética cotidiana. Suponha que você descobrisse ter apenas uma semana de vida. Você gastaria tempo com rancores mesquinhos? Adiaria aquela conversa difícil com seu filho? Guardaria perdão como se fosse um tesouro escasso? Deixaria palavras de amor não ditas porque “já sabem que os amo”? Claro que não. Você viveria com urgência santa, com clareza cristalina sobre o que realmente importa.
Edwards nos desafia: por que esperar? Por que não viver sempre assim? A consciência da mortalidade não deve nos aterrorizar, mas nos santificar. Ela nos liberta das trivialidades que nos consomem e nos direciona para as realidades eternas. Quando compreendemos que cada dia é um dom imerecido, cada momento uma oportunidade sagrada, então começamos a viver não apenas com coragem, mas com reverência.
Vivendo a eternidade hoje
A resolução de Edwards ecoa o coração do evangelho: Cristo nos liberta não apenas da culpa do pecado, mas do medo paralisante que nos impede de viver em plenitude. Na cruz, Ele enfrentou nossa morte para que pudéssemos enfrentar nossa vida. Na ressurreição, Ele destruiu o poder da morte para que pudéssemos viver com ousadia santa.
“A vida cristã é vivida no limiar da eternidade. Cada momento é sagrado porque cada momento é uma oportunidade de glorificar a Deus e servir ao próximo com a urgência de quem conhece a brevidade do tempo.” John Piper, Don’t Waste Your Life, p. 174
Quando Jesus caminhava em direção a Jerusalém, sabendo o que O aguardava, Ele “afirmou o rosto para ir” (Lucas 9:51). Não porque não sentisse o peso da cruz que se aproximava, mas porque Sua missão era maior que Seu medo. Assim também nós: não porque sejamos naturalmente corajosos, mas porque pertencemos Àquele que venceu a morte e nos chama para viver como vencedores.
A eternidade não é uma realidade distante que aguardamos; é uma perspectiva presente que deve moldar cada escolha, cada palavra, cada ato de amor. Quando vivemos sob a luz da eternidade, descobrimos que não precisamos esperar a última hora para viver com a coragem que ela demanda. Podemos viver assim agora, hoje, neste momento, porque Cristo já nos deu tudo o que precisamos para uma vida verdadeiramente destemida.
E agora, como viveremos?
Tome a resolução de Edwards como uma lente através da qual examinar sua vida presente. Identifique áreas onde o medo tem governado suas decisões: talvez relacionamentos que precisam de restauração, conversas difíceis que você tem evitado, ou atos de serviço que adiou por timidez.
Pergunte-se honestamente: “Se soubesse que tenho apenas uma semana de vida, como abordaria essas situações?” Então aja com essa urgência santa. Procure aquelas pessoas de quem se afastou. Tenha aquela conversa difícil com amor e humildade. Sirva naquele ministério que tem tocado seu coração. Perdoe completamente, ame generosamente, viva corajosamente.
No trabalho, deixe que a perspectiva eterna molde sua integridade. Nas finanças, que a consciência da mortalidade cure sua avareza. Nos relacionamentos, que a brevidade da vida inspire maior generosidade emocional. Na piedade pessoal, que o conhecimento de sua fragilidade o conduza a uma dependência mais profunda de Cristo.
Estabeleça o hábito de fazer essa pergunta diariamente: “Se hoje fosse meu último dia, como viveria?” Não para criar ansiedade mórbida, mas para cultivar clareza espiritual. Deixe que a consciência da eternidade não o aterrorize, mas o liberte para viver com a ousadia que convém a um filho de Deus.
“A consciência da mortalidade é o que nos separa dos animais e nos aproxima dos anjos. É o que nos faz humanos no sentido mais profundo da palavra – capazes de transcender o momento presente através da contemplação da eternidade.” Liev Tolstói, Guerra e Paz, p. 1247.
“A vida cristã é vivida no limiar da eternidade. Cada momento é sagrado porque cada momento é uma oportunidade de glorificar a Deus e servir ao próximo com a urgência de quem conhece a brevidade do tempo.” John Piper, Don’t Waste Your Life, p. 174.
Oremos
Pai celestial, Tu conheces a fragilidade de nosso coração e como o medo nos paralisa diante das realidades eternas. Perdoa-nos por vivermos como se fôssemos eternos nesta terra e mortais no céu. Concede-nos a sabedoria para compreender que a consciência da morte não é nosso inimigo, mas nosso professor. Ensina-nos a viver com essa mesma coragem.
Que possamos fazer todas as coisas como se fosse nossa última oportunidade de glorificar-Te. Espírito Santo, liberta-nos das prisões invisíveis do medo e da procrastinação espiritual. Ajuda-nos a viver cada dia com a urgência santa que convém àqueles que conhecem sua mortalidade e Tua eternidade. Que nossa vida presente seja um reflexo fiel de nossa esperança futura. Em nome de Jesus, que venceu a morte e nos deu vida abundante. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- RESOLUÇÃO 03 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 04 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 05 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 06 – Jonathan Edwards

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!