Na obra-prima literária “Os Irmãos Karamazov” de Dostoiévski, o personagem Ivan representa a fé puramente intelectual – ele reconhece a existência de Deus, mas não o abraça com o coração. Em contraste, seu irmão Alyosha personifica uma fé que transcende o mero conhecimento – uma fé que ama, abraça e transforma. Esta poderosa distinção literária nos convida a refletir sobre a natureza da verdadeira fé descrita nas Escrituras, particularmente quando consideramos o que significa verdadeiramente crer em Jesus como o Filho de Deus.
A Fé que ama e vence
“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são difíceis de guardar. Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” 1 João 5:3-5.
Estes versículos apresentam uma conexão profunda entre amor, obediência e fé vitoriosa que merece nossa atenção cuidadosa. O pastor e teólogo do século 18, Jonathan Edwards, analisou este texto e concluiu: “A fé salvífica implica… amar… Nosso amor a Deus nos capacita a superar as dificuldades que acompanham o cumprimento dos mandamentos de Deus — o que mostra que o amor é a principal coisa na fé salvífica, a vida e poder dela, pelo qual a fé produz grandes efeitos”.
Edwards captou algo essencial sobre a natureza da fé genuína. Ela nunca é meramente intelectual, mas sempre amorosa e transformadora. Charles Spurgeon reforçou esta verdade quando disse: “A fé e o amor são preciosas pedras preciosas; encontre-as e você tem encontrado o coração de Cristo.” O amor não é um acessório opcional da fé, mas seu componente vital.
Na teologia reformada, a verdadeira fé que salva, chamada de fé salvífica, é mais do que apenas saber sobre Deus ou concordar com certas verdades. Ela envolve três partes importantes: O conhecimento dos fatos do evangelho, a aceitação de que esses fatos são verdadeiros e, o mais essencial, a confiança pessoal em Deus. É nesse terceiro aspecto, que a fé se torna algo vivo: não apenas entender ou admitir, mas abraçar a Cristo de todo o coração. É confiar Nele como nosso Salvador, descansar em sua graça e entregar nossa vida nas suas mãos com amor e segurança.
Jonathan Edwards está certo, e muitos textos bíblicos confirmam o que ele afirma. Podemos dizer de outra forma: a fé em Cristo não é apenas aceitar intelectualmente quem Deus é para nós, mas é também abraçar de coração tudo o que Ele é para nós em Cristo. Edwards explica que “a verdadeira fé abraça a Cristo de toda forma como as Escrituras O oferecem aos pecadores necessitados”. Esse ato de “abraçar” é, na verdade, uma expressão de amor — um amor que reconhece o valor de Cristo como maior e mais precioso do que qualquer outra coisa neste mundo.
Fé é o ato de abraçar Cristo como o nosso maior tesouro. Quando falamos em “abraçar Jesus”, estamos falando de algo que vai além de simplesmente concordar com verdades sobre Ele. É um movimento do coração, uma entrega pessoal e amorosa, onde recebemos quem Cristo é e tudo o que Ele fez por nós. Não é apenas saber sobre Jesus, mas acolhê-lo de todo o coração como a nossa esperança, alegria e salvação.
Portanto, não há contradição entre 1 João 5.3, por um lado, que diz que o nosso amor por Deus nos capacita a guardar os seus mandamentos, e o versículo 4, que, por outro lado, diz que a nossa fé supera os obstáculos do mundo que nos impedem de obedecer aos mandamentos de Deus. O amor por Deus e por Cristo está implícito na fé.
O versículo 5 define a fé que obedece como aquela “que crê ser Jesus o Filho de Deus”. Esta fé está “abraçando o dom que é Jesus Cristo” como a gloriosa pessoa divina que ele é. Isso não é simplesmente concordar com a verdade de que Jesus é o Filho de Deus, porque os demônios concordam com isso, “Você crê que Deus é um só? Faz muito bem! Até os demônios creem e tremem.” Tiago 2:19. Crer que Jesus é o Filho de Deus significa “abraçar” o significado dessa verdade, ou seja, ser satisfeito com Cristo como o Filho de Deus e com tudo o que Deus é para nós nele.
A glória do Filho de Deus
Durante a Reforma Protestante, Martinho Lutero articulou uma distinção vital entre conhecer Cristo como um fato histórico versus conhecer Cristo como Senhor e Salvador. Ele escreveu: “A verdadeira fé não pergunta se há boas obras a fazer, mas antes que a pergunta seja feita, já as realizou.”
“Filho de Deus” significa que Jesus é a maior pessoa no universo, ao lado do seu Pai. Portanto, tudo o que ele ensinou é verdadeiro, tudo o que prometeu permanecerá firme e toda a sua grandeza que satisfaz a alma nunca mudará. Logo, crer que ele é o Filho de Deus inclui confiar nisso tudo e estar satisfeito com isso.
Esta verdade profunda nos convida a considerar: estamos meramente concordando intelectualmente com doutrinas sobre Jesus, ou estamos verdadeiramente abraçando Jesus como nosso supremo tesouro? A diferença não é apenas teológica, mas profundamente prática, afetando cada aspecto de como vivemos.
Abraçando Jesus diariamente
Como podemos viver esta realidade de abraçando Jesus como o Filho de Deus em nossa experiência diária?
- Reconheça a diferença crucial entre concordância intelectual e amor transformador. Examine seu coração: você apenas conhece fatos sobre Jesus, ou o valoriza acima de tudo?
- Cultive o deleite em Cristo através da meditação regular em quem Ele é. Dietrich Bonhoeffer escreveu: “A Bíblia não nos oferece meros conceitos, mas uma pessoa viva.” Dedique tempo diariamente para contemplar sua beleza nas Escrituras.
- Veja a obediência como expressão de amor, não mera conformidade. Os mandamentos de Deus não são penosos quando amamos a Deus que entregou os mandamentos. Pergunte-se em momentos de tentação: “Como posso expressar meu amor a Cristo neste momento?”
- Identifique os obstáculos mundanos que desafiam sua fidelidade a Cristo. A fé genuína recebe poder para vencer o mundo, suas tentações, filosofias e valores contrários aos de Cristo.
- Pratique a comunhão íntima com Jesus na vida de oração e meditação na Escritura. Andar com Deus não é apenas pedir coisas, mas cultivar um profundo relacionamento.
O reformador João Calvino observou: “A verdadeira piedade consiste em amar a Deus como Pai e temê-lo como Senhor.” Esta dupla realidade de amor e reverência caracteriza aqueles que estão verdadeiramente abraçando Jesus como o Filho de Deus.
Pai Celestial, te agradecemos por revelar Jesus como teu Filho amado. Perdoa-nos pelos momentos em que reduzimos nossa fé ao mero conhecimento ou concordância intelectual. Ajuda-nos a ir além da simples concordância para verdadeiramente abraçarmos Jesus de todo nosso coração, mente e força. Que nosso amor por Cristo nos capacite a guardar teus mandamentos não como um fardo, mas como uma expressão de alegria e satisfação. Dá-nos a fé que verdadeiramente vence o mundo, aquela fé que encontra em Jesus seu maior tesouro. Em nome de Cristo, o glorioso Filho de Deus, amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!