A LIBERDADE DE NÃO PERTENCER A SI MESMO.

Descubra o profundo significado teológico de não pertencer a si mesmo, mas a Cristo. Uma reflexão reformada sobre nossa verdadeira identidade e esperança em todas as circunstâncias da vida.

A LIBERDADE DE NÃO PERTENCER A SI MESMO.

Não somos de nós mesmos porque fomos comprados pelo precioso sangue de Cristo, a liberdade de não pertencer a si mesmo transforma cada área de nossa vida. Não sendo de nós mesmos, encontramos nosso verdadeiro propósito em viver para a glória de Deus.

“Fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”, 1 Coríntios 6:20.

Em um mundo obcecado pela autoexpressão e autonomia, a afirmação “não somos de nós mesmos” soa quase como uma afronta cultural. No entanto, esta verdade constitui o próprio cerne da esperança cristã. O catecismo de Nova Cidade nos lembra desta realidade fundamental quando pergunta: Qual é a nossa única esperança na vida e na morte?” A resposta ressoa com clareza: “Que não somos de nós mesmos, mas pertencemos, de corpo e alma, na vida e na morte, a Deus e a nosso Salvador, Jesus Cristo.” Esta afirmação revolucionária redefine nossa compreensão sobre liberdade, propósito e identidade à luz da graça de Deus.

A Verdade Bíblica de Nossa Pertença

Observe a declaração do apóstolo Paulo em Romanos 14.7-8: “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” Este texto não apenas descreve nossa realidade espiritual, mas estabelece o fundamento para toda nossa existência.

“Se nós, portanto, não somos de nós mesmos, mas do Senhor, é claro o equívoco que devemos evitar, e o boato que devemos dar a todos os atos de nossa vida.” Calvino compreendeu que nossa pertença a Deus não é apenas uma questão doutrinária abstrata, mas o princípio orientador de todas as nossas escolhas e prioridades. Ele nos leva a uma conclusão lógica: se não pertencemos a nós mesmos, então nossa razão e vontades não devem governar nossos planos. Não podemos mais viver com o objetivo primário de buscar nossa própria conveniência. Ao contrário, somos chamados a viver e morrer para Aquele a quem pertencemos.

A Graça como Fundamento da Nossa Pertença

A graça de Deus em Cristo não é só o ponto de partida da salvação — ela também é o caminho e o destino. É por meio dela que somos libertos totalmente do domínio do pecado e do impulso de viver para nós mesmos, sendo levados a viver sob o cuidado e a autoridade amorosa de Cristo. Esta perspectiva rompe com a noção moderna de autonomia. Não é por meio de nossa autodeterminação que encontramos identidade e propósito, mas através da surpreendente verdade de que fomos comprados por um preço, 1 Coríntios 6.20: “Porque vocês foram comprados por preço. Agora, pois, glorifiquem a Deus no corpo de vocês”. Nossa vida não é mais nossa porque Cristo pagou por ela com seu próprio sangue.

A Liberdade de Não Pertencer a Si Mesmo

Curiosamente, não viver para si mesmo é a forma mais profunda de liberdade. Ser verdadeiramente livre não significa viver sem regras, mas sim descobrir quem somos e por que existimos em Deus, que nos criou e nos salvou. Pertença a Cristo não nos aprisiona, mas nos liberta do egoísmo que nos destrói por dentro.

“Foste tu quem nos criou, e só em ti nosso coração encontra descanso. Enquanto não reconhecemos que pertencemos a ti, continuamos inquietos por dentro.” Essa frase é inspirada em uma das declarações mais famosas de Santo Agostinho (Confissões, I.1), e expressa a verdade de que nossa busca por sentido só termina quando nos voltamos para Deus, nosso Criador. A ideia é que fomos feitos para Ele, e por isso, todo desejo, vazio ou inquietação interior só encontra paz quando voltamos à nossa origem e propósito em Deus.

Muita gente hoje acredite que o valor mais importante para ter uma vida de sucesso é “ser verdadeiro consigo mesmo”, essa é uma ideia que reflete uma cultura que valoriza profundamente a expressão pessoal e a busca interior por identidade e propósito. No entanto, a sabedoria da fé cristã reformada nos conduz por outro caminho.

Segundo as Escrituras, não encontramos nossa verdadeira identidade ao olharmos para dentro de nós mesmos, mas ao voltarmos os olhos para Deus, que nos criou e nos chama pelo nome. Como afirma Calvino logo no início das Institutas da Religião Cristã, “o homem nunca chega ao verdadeiro conhecimento de si mesmo sem antes contemplar a face de Deus”. Em outras palavras, só entendemos quem somos quando compreendemos quem Deus é e quem Ele diz que somos em Cristo.

Enquanto o mundo diz: “descubra quem você é olhando para seus sentimentos, desejos e sonhos”, O Evangelho diz: “descubra quem você é olhando para Jesus, que te amou e se entregou por você”. “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”, Gálatas 2.20. Nossa identidade não está em nossas emoções voláteis, mas no amor firme de um Deus imutável.

Viva como Propriedade de Cristo

Como vivemos esta verdade em nosso dia-a-dia? Primeiro, reconhecemos que não determinamos por nós mesmos o que é certo ou errado. Entregamos essa prerrogativa à Palavra de Deus. Aceitar a autoridade da Bíblia não significa perder a liberdade, mas reconhecer que pertencemos a Cristo e confiamos que a sabedoria dEle é maior do que a nossa. Segundo, renunciamos ao princípio operacional de nos colocarmos em primeiro lugar. O amor verdadeiro sempre busca o bem do outro, mesmo que isso custe o nosso conforto. Esse foi o exemplo de Jesus, que não veio para ser servido, mas para servir. Terceiro, compreendemos que nenhuma área de nossa vida está isenta desta entrega. Seguir a Cristo envolve renúncia, entrega total e disposição para sacrificar tudo, inclusive a própria vontade. Esta morte para si mesmo abrange cada aspecto de nossa existência.

“Não somos de nós mesmos” – esta verdade constitui simultaneamente um diagnóstico de nossa condição e o anúncio de nossa libertação. Na cultura da autoafirmação, descobrimos o paradoxo transformador: encontramos nossa verdadeira identidade quando reconhecemos a quem pertencemos.

A esperança cristã não está fundamentada em nossa capacidade de autodeterminação, mas na graça de Deus que nos adquiriu para si através do sangue de Cristo. Nesta pertença encontramos nosso verdadeiro lar, nossa autêntica identidade e nossa única esperança segura, tanto na vida quanto na morte.

Como o pregador citado por Timothy Keller observou: “Como é possível lidar com alguém que se entrega totalmente a você sem se entregar totalmente a ele?” Jesus se entregou completamente por nós; agora somos chamados a nos entregar completamente a Ele.

Senhor Jesus Cristo, nossa esperança na vida e na morte, lançamo-nos sobre teu misericordioso cuidado paternal. Tu nos amas porque somos teus. Nenhum bem possuímos senão em ti, e não desejamos dom maior do que o de pertencer a ti. Ajuda-nos a viver cada dia na liberdade de não pertencermos a nós mesmos, mas inteiramente a ti. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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