COMO HOMENS DE DEUS PODEM SER PAIS FRACASSADOS

Como evitar ser um pai fracassado através das lições bíblicas da casa de Davi, o caminho para uma paternidade segundo o coração de Deus.

COMO HOMENS DE DEUS PODEM SER PAIS FRACASSADOS

“Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas cousas aos que lhe pedirem?” Mateus 7:9-11.


As palavras de Jesus ressoam com uma ironia devastadora quando consideramos quantos homens cristãos, zelosos em suas vocações ministeriais, inadvertidamente oferecem pedras aos próprios filhos quando estes pedem o pão. A verdade é incômoda: é possível ser um homem segundo o coração de Deus e, simultaneamente, um pai fracassado.

Esta não é uma acusação leviana, mas uma realidade bíblica que deveria nos manter acordados à noite. Davi – aquele que dançou diante da arca com santa alegria, que compôs salmos que ainda aquecem nossos corações, que enfrentou Golias com apenas uma funda e uma fé inabalável – este mesmo homem presidiu sobre uma das mais disfuncionais famílias da história sagrada.

O Paradoxo do Coração Dividido

O provérbio diz que “a estrada do inferno está pavimentada com boas intenções”, e talvez em lugar algum isso seja mais evidente que na vida do pai fracassado que genuinamente ama a Deus, mas não consegue traduzir esse amor em uma paternidade eficaz. Davi ilustra esse paradoxo doloroso: um homem capaz de liderar exércitos, mas incapaz de liderar sua própria casa.

O amor não é um sentimento que temos, mas sim algo que fazemos, quantos pais cristãos sinceros confundem o amor que sentem por seus filhos com o amor que efetivamente demonstram? Um pai raramente odeia seus filhos; frequentemente, ele simplesmente não sabe como amar de forma que eles possam entender e receber.

A tragédia de Davi não foi falta de coração espiritual, mas falta de tradução desse coração para a linguagem cotidiana da paternidade. Enquanto cantava sobre a bondade de Deus nos salmos, seus filhos experimentavam a ausência paterna em casa, então de que adianta proclamar a paternidade de Deus se nossos próprios filhos não conseguem ver esse caráter paternal refletido em nós?

A Síndrome da Provisão Substituta

O primeiro e mais sutil pecado de um pai é a ilusão de que provisão material substitui presença emocional. Davi tinha um reino para administrar, batalhas para vencer, um povo para liderar – todas causas legítimas e até mesmo santas. Mas no processo de construir um legado público, negligenciou o legado privado mais importante: o coração de seus filhos.

Nossa cultura amplifica essa tentação de forma devastadora. Vivemos numa época que sussurra constantemente: “Você precisa se estabelecer profissionalmente primeiro. Você merece investir em si mesmo. Sua realização pessoal é fundamental.” O pai fracassado moderno gasta horas “se atualizando” – assistindo noticiários, fazendo cursos, construindo redes sociais profissionais – sempre à custa do tempo com os filhos.

Nos tornamos especialistas em tudo, exceto na arte mais importante da vida – ser pai. Conhecemos estatísticas de mercado, mas não sabemos os sonhos de nossos filhos. Dominamos técnicas de liderança corporativa, mas falhamos em liderar uma conversa significativa à mesa de jantar.

O Silêncio Mortal da Comunicação Ausente

“Fale cada um a verdade com o seu próximo” (Efésios 4:25) – um mandamento aparentemente simples que se torna monumentalmente difícil para um pai. Como Davi, muitos pais cristãos desenvolvem uma surdez seletiva para as vozes mais importantes em suas vidas: seus filhos e esposa.

Nos tornamos estrangeiros em nossa própria casa, capazes de conversas profundas com colegas de trabalho, mas mudos diante das necessidades emocionais de nossa família. O pai reserva suas melhores energias conversacionais para fora de casa, chegando ao lar já exausto demais para qualquer interação genuína.

O perigo espiritual dessa dinâmica é que quando nossos filhos não conseguem falar conosco sobre assuntos importantes, eles encontrarão outros conselheiros. E se esses conselheiros não compartilham nossos valores cristãos, estaremos entregando a formação espiritual de nossos filhos aos “maus conselheiros” que “corrompem os bons costumes” (1 Coríntios 15:33).

A Permissividade Disfarçada de Amor

Existe uma forma de negligência que se disfarça de compaixão: a permissividade excessiva do pai fracassado que, movido pela falsa piedade de “dar aos filhos tudo o que não tive”, jamais estabelece limites saudáveis. Esta não é paternidade amorosa, mas covardia espiritual disfarçada de bondade.

O amor verdadeiro às vezes deve dizer “não” – não porque gosta de negar, mas porque compreende as consequências da indulgência descontrolada. O pai fracassado que evita disciplinar para “não traumatizar” frequentemente cria traumas maiores: filhos sem estrutura emocional, incapazes de lidar com limites na vida adulta.

A Escritura é clara: “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe” (Provérbios 29:15). Um pai não pode pensar que disciplina significa ausência de amor, quando na realidade é uma das expressões mais profundas do amor paternal.

O Contraste com a Paternidade Perfeita

“Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem?” (Mateus 7:11). Jesus usa nossa paternidade imperfeita como ponte para compreendermos a paternidade perfeita de Deus – mas que contraste devastador para nós que reconhecemos nossos próprios fracassos na jornada paterna!

Deus nunca está ocupado demais para Seus filhos. Nunca substitui presença por presentes. Nunca mantém silêncio quando deveríamos ouvir Sua voz. Nunca age com permissividade prejudicial nem com rigidez sem amor. “Deus é o Pai que todos nós precisávamos ter, e que nossos filhos merecem ver refletido em nós.”

Um pai fracassado oferece uma caricatura distorcida dessa paternidade divina. Quando nossos filhos nos veem constantemente preocupados, irritados, ausentes ou desinteressados, que imagem formam do Pai celeste? Podemos estar inadvertidamente dificultando o acesso de nossos filhos ao evangelho através de nossa paternidade deficiente.

A Urgência da Redenção Paternal

Charles Dickens, em “Um Conto de Natal”, capturou uma verdade profunda: nunca é tarde demais para transformação, mas não temos tempo infinito. Scrooge descobriu que suas escolhas egoístas haviam criado um deserto relacional ao seu redor. Muitos pais cristãos enfrentam a mesma realização devastadora: construíram impérios profissionais sobre os destroços de relacionamentos familiares.

Se você reconhece traços de um pai fracassado em sua vida, ouça esta advertência com seriedade: seus filhos não permanecerão crianças para sempre. A janela de oportunidade para influência parental é estreita e está se fechando rapidamente. “Não é tolo que dá o que não pode manter para ganhar o que não pode perder.”

Reavalie suas prioridades com honestidade. Sucesso profissional sem sucesso familiar é fracasso completo. Seus filhos precisam mais de sua presença do que de sua prosperidade, mais de seu tempo do que de seus tesouros.

O Caminho da Restauração

A redenção da paternidade falida começa com arrependimento genuíno – não apenas sentir-se mal pelas falhas, mas mudar concretamente os padrões que as causaram. O pai que deseja transformação deve abraçar três compromissos não-negociáveis:

Primeiro, investimento intencional no relacionamento. Tempo de qualidade não pode ser substituído por presentes ou provisão material. Como Deuteronômio 6:6-7 ensina, a transmissão de valores acontece “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” – ou seja, na vida cotidiana compartilhada.

Segundo, comunicação aberta e consistente. Substitua o silêncio mortal por diálogo genuíno. Seus filhos precisam saber que podem vir a você com qualquer assunto, e que encontrarão não apenas ouvidos abertos, mas um coração compreensivo.

Terceiro, disciplina amorosa e consistente. Estabeleça limites claros motivados pelo amor, não pela conveniência. Lembre-se: disciplina sem relacionamento gera rebelião, mas relacionamento sem disciplina gera desrespeito.

A Esperança da Graça Transformadora

A beleza do evangelho é que mesmo o pai fracassado pode encontrar redenção. Deus não desperdiça nossas falhas; Ele as transforma em oportunidades para demonstrar Sua graça. Quando reconhecemos nossa inadequação paternal e nos voltamos para o Pai perfeito, descobrimos que Ele pode nos ensinar a refletir Seu caráter em nossa paternidade.

Nossos filhos não precisam de pais perfeitos – eles precisam de pais redimidos. Pais que reconhecem suas falhas, buscam perdão, e se esforçam diariamente para crescer na graça de uma paternidade mais semelhante à de Cristo.

Pai celeste, perdoa-nos por tantas vezes termos falhado como pais. Ajuda-nos a aprender com os erros de Davi e a refletir Teu caráter paternal perfeito. Dá-nos sabedoria para equilibrar responsabilidades profissionais com nossa vocação familiar. Ensina-nos a amar nossos filhos como Tu nos amas: com presença constante, disciplina amorosa e comunicação clara. Que nossos lares sejam lugares onde Teu nome seja honrado e Teu amor seja experimentado. Em nome de Jesus, o Filho perfeito do Pai perfeito. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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