Mateus 7:3-5. “Por que vês tu o argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho; e eis que uma trave está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho de teu irmão.”
RESOLUÇÃO 08. “Resolvo agir, em todos os aspectos, ao falar e ao fazer, como se ninguém fosse tão vil quanto eu, e como se eu tivesse cometido os mesmos pecados, ou tivesse as mesmas fraquezas e falhas dos outros; e permitir que o conhecimento das falhas dos outros sirva apenas para me humilhar e me levar a confessar os meus próprios pecados e misérias a Deus.”
Admita que é mal
“O orgulho espiritual é o pior dos orgulhos, se não o pior de todos os pecados. Aqui o cristão compete com o próprio diabo. É o pecado que mais facilmente nos assedia, que mais dificilmente é descoberto, e que mais relutantemente é abandonado. É um pecado que cresce em solo santo, que vive de alimento celestial, e que se fortalece pelos próprios remédios pelos quais outros pecados são mortos.” Jonathan Edwards, Religious Affections, p. 278
“Se não fosse pela graça de Deus, cada um de nós seria capaz dos pecados mais hediondos. A diferença entre nós e os piores criminosos não está em nossa natureza, mas na restraining grace de Deus que nos impede de manifestar toda a maldade de nosso coração.” John Owen, Indwelling Sin, p. 142
Há uma perversidade sutil no coração humano que nos faz sentir superiores diante dos fracassos alheios. Quando ouvimos sobre o pecado de um irmão, uma voz sussurra: “Eu jamais faria isso.” Quando testemunhamos a queda de alguém, nos consolamos pensando: “Pelo menos não sou como ele.” Jonathan Edwards, aos dezenove anos, reconheceu essa tendência venenosa e estabeleceu sua oitava resolução como antídoto: “Agir, em todos os aspectos, ao falar e ao fazer, como se ninguém fosse tão vil quanto eu, e como se eu tivesse cometido os mesmos pecados, ou tivesse as mesmas fraquezas e falhas dos outros.”
Em uma época obcecada pela comparação e pela autoestima, Edwards nos convida a abraçar uma humildade que parece quase impossível. Não se trata de falsa modéstia ou autodepreciação neurótica, mas de uma percepção espiritual profunda: diante da santidade infinita de Deus, todos nós somos mendigos na mesma esquina da graça.
Mas como pode isso ser verdade? Como alguém que luta contra a impaciência pode considerar-se igual a um adúltero? Como aquele que apenas mente ocasionalmente pode ver-se no mesmo nível de um assassino? A resposta de Edwards é teologicamente arrojada e pastoralmente sábia: porque a diferença entre nossos pecados e os dos outros não está na essência, mas apenas na manifestação.
Retira a trave do teu olho
“O cristão deve sempre lembrar-se de que ele é o que é pela graça de Deus, e que sem essa graça ele seria pior do que aqueles que ele está inclinado a desprezar. Esta lembrança deve produzir humildade, compaixão e uma disposição para ajudar os que caíram.” Charles Hodge, Princeton Sermons, p. 156
Jesus, o mestre da alma humana, conhecia essa tendência farisaica que habita em todos nós. Por isso contou a parábola da trave e do argueiro – não para desencorajar a correção fraterna, mas para estabelecer a atitude correta com que devemos aproximar-nos dos fracassos alheios. A trave em nosso olho não é metáfora, é diagnóstico espiritual: nossa capacidade de ver com clareza os pecados dos outros é frequentemente proporcional à nossa cegueira em relação aos nossos próprios.
Edwards compreendeu que o orgulho é o pecado raiz de todos os outros pecados. É ele que nos faz acreditar que somos, por natureza ou esforço, melhores que nossos semelhantes. Mas o evangelho nos ensina uma verdade desconcertante: se não fosse pela graça soberana de Deus, cada um de nós seria capaz dos piores crimes que conhecemos. Nossa bondade aparente não é mérito nosso, mas misericórdia divina.
“Nunca devemos olhar para os pecados dos outros como juízes, mas sempre como médicos. Nossa tarefa não é condenar, mas curar; não é destruir, mas restaurar. E isso só é possível quando reconhecemos que somos tão necessitados de cura quanto aqueles que buscamos ajudar.” D. Martyn Lloyd-Jones, Studies in the Sermon on the Mount, p. 267
Considere o adúltero que você despreza. Você, que se orgulha de sua fidelidade conjugal, perguntou-se quantas vezes seu coração adulterou em pensamento? Você, que nunca traiu fisicamente, examinou honestamente os momentos em que seu olhar ou sua fantasia já violaram os votos sagrados? A diferença entre você e ele pode ser apenas oportunidade, temperamento ou, mais humilhantemente ainda, covardia.
Pense naquele que rouba e que você condena. Você, que paga suas contas em dia, já refletiu sobre quantas vezes roubou o tempo de seu empregador, sonegou impostos “insignificantes”, ou apropriou-se de crédito que não lhe pertencia? A linha entre a honestidade e a desonestidade é mais tênue do que nossa consciência tranquila gostaria de admitir.
Edwards nos desafia a uma arqueologia espiritual brutal: escavar nosso coração até encontrarmos a semente de todo pecado que condenamos nos outros. Não porque sejamos masoquistas espirituais, mas porque essa escavação é o caminho para a verdadeira compaixão. Quando reconhecemos nossa própria vileza, começamos a tratar os pecadores não como diferentes de nós, mas como iguais a nós, necessitados da mesma graça que nos sustenta a cada momento.
“A diferença entre o hipócrita e o verdadeiro cristão não é que um peca e o outro não, mas que um se justifica em seu pecado enquanto o outro o confessa e busca perdão. O verdadeiro cristão é aquele que está mais consciente de sua própria pecaminosidade.” Augustus Nicodemus Lopes, O que Estão Fazendo com a Igreja, p. 89
Esta perspectiva transforma radicalmente nossa abordagem aos que caíram. Em vez de juízes sentenciosos, tornamo-nos médicos feridos. Em vez de críticos distantes, percebemos que de maneira desconcertante, somos todos pecadores semelhantes uns aos aos outros, somos terrívemente falhos cada um a sua maneira pecaminosa. Nossa resposta ao pecado alheio deixa de ser: “Como pôde fazer isso?”, e passa a ser: “Senhor, livra-me de fazer o mesmo” ou “Pela graça de Deus, não fui eu.”
Somos pecadores salvos
A resolução de Edwards ecoa o coração do evangelho: todos pecaram e carecem da glória de Deus. Não há diferença substancial entre o “bom” e o “mau” cristão, entre o crente “maduro” e o “imaturo”, entre o pastor “exemplar” e o fiel “problemático”. Há apenas pecadores salvos pela graça, em diferentes estágios de santificação e com diferentes manifestações da mesma natureza caída.
“A graça de Deus não apenas nos salva de nossos pecados, mas também nos salva de nossa tendência de nos considerarmos melhores que outros pecadores. Quando verdadeiramente entendemos o evangelho, descobrimos que somos mendigos dizendo a outros mendigos onde encontrar pão.” John Piper, What Jesus Demands from the World, p. 243
“A marca de um cristão maduro não é a ausência de pecado, mas a presença de uma consciência cada vez mais aguda de sua própria pecaminosidade. Quanto mais próximos chegamos de Deus, mais claramente vemos nossa necessidade de sua graça.” R.C. Sproul, The Holiness of God, p. 189
Jesus não veio para os justos, mas para os pecadores. E se queremos ser como Cristo, devemos ter o mesmo coração compassivo para com aqueles que tropeçam. Quando vemos alguém lutando contra o alcoolismo, em vez de sentir superioridade, deveríamos pensar: “Ali vai alguém que luta abertamente contra o que eu luto secretamente.” Quando observamos alguém dominado pela ira, deveríamos reconhecer: “Ali está alguém cuja carne se manifesta de forma diferente da minha, mas igualmente pecaminosa.”
A humildade não é autodestrutiva, mas redentora. Ela nos livra da prisão do orgulho e nos abre as portas da verdadeira comunhão cristã. Quando paramos de nos comparar favoravelmente com os outros, começamos a experimentar a liberdade de sermos honestos sobre nossa própria necessidade de graça. E é essa honestidade que nos torna canais da mesma graça que recebemos.
“Cristo morreu não apenas pelos nossos pecados, mas também pelo orgulho que nos faz pensar que nossos pecados são menores que os dos outros. Quando compreendemos a cruz, descobrimos que todos nós estamos no mesmo nível – o nível dos que precisam desesperadamente de graça.” Wayne Grudem, Systematic Theology, p. 567
E agora, como viveremos?
Implemente esta resolução através de uma prática radical de autoexame. Quando você se pegar julgando alguém, pare imediatamente e pergunte: “Onde está a raiz desse pecado em meu próprio coração?” Se alguém mente, examine sua própria relação com a verdade. Se alguém é ganancioso, investigue sua própria atitude em relação ao dinheiro e às posses.
Desenvolva o hábito de transformar críticas em intercessões. Em vez de fofocar sobre os fracassos dos outros, ore por eles com a urgência de quem reconhece: “Eu poderia estar no lugar dele.” Quando testemunhar o pecado de alguém, use isso como lembrança para examinar sua própria vida e confessar seus próprios pecados diante de Deus.
Na igreja, pratique a restauração em espírito de mansidão, lembrando-se da advertência paulina: “Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vocês, que são espirituais, restaurem essa pessoa com espírito de brandura. E que cada um tenha cuidado para que não seja também tentado.” (Gálatas 6:1). Em casa, quando seus filhos errarem, discipline-os com a consciência de seus próprios fracassos como pai ou mãe. No trabalho, quando colegas falharem, responda com a paciência de quem conhece suas próprias limitações.
Cultive relacionamentos onde você possa ser vulnerável sobre suas próprias lutas. A resolução não é para ser vivida em isolamento, mas em comunidade. Quando outros veem nossa honestidade sobre nossos pecados, isso os liberta para serem honestos sobre os deles. Assim, criamos ciclos de graça em vez de ciclos de julgamento.
Orem
Pai misericordioso, Tu conheces a profundidade de nosso orgulho e como ele nos cega para nossa própria pecaminosidade. Perdoa-nos por quantas vezes olhamos para os fracassos dos outros com olhos de juiz em vez de olhos de irmão. Concede-nos a humildade para reconhecermos que não há nada em nós que nos torne superiores a qualquer outro pecador. Senhor Jesus, Tu que não vieste para condenar o mundo, mas para salvá-lo, ensina-nos a ter o mesmo coração compassivo.
Quando olharmos para aqueles que tropeçam, que vejamos não a diferença que nos separa, mas a graça que nos une. Que nossa resposta ao pecado alheio seja sempre: “Senhor, tem misericórdia de mim, pecador.” Espírito Santo, quebra nosso orgulho e sonda nosso coração. Mostra-nos a raiz de todo pecado que condenamos nos outros. Em nome de Jesus, que morreu pelos piores pecadores e nos incluiu entre eles. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- RESOLUÇÃO 04 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 05 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 06 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 07 – Jonathan Edwards

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!