Salmos 90:12. “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.”
RESOLUÇÃO 09. “Resolvo pensar frequentemente em minha própria morte, e nas circunstâncias comuns que acompanham a morte”
Porque você deve pensar na morte?
“A vida do homem sobre a terra é uma tentação contínua. Ninguém deveria estar tão seguro de si mesmo nesta vida, que é toda tentação, que aquele que pôde passar de pior para melhor não possa também passar de melhor para pior. Nossa única esperança, nossa única confiança, nossa única promessa firme é a Tua misericórdia.” Agostinho de Hipona, “Confissões”, Livro X.
Todos nós caminhamos pelas estradas poeirentas desta vida com a desenvoltura de quem possui tempo infinito, quando na verdade carregamos em nosso peito um relógio que conta regressivamente para o último suspiro. Jonathan Edwards, compreendeu esta tensão com uma clareza que nos constrange. Em sua nona resolução pessoal, ele se propôs a “pensar frequentemente em sua própria morte, e nas circunstâncias comuns que acompanham a morte.” Que proposta mais desconcertante para nossa época que foge da mortalidade como quem foge de uma praga!
Por que um jovem de vinte anos dedicaria tempo precioso de sua juventude para contemplar o fim? Seria morbidez? Pessimismo teológico? Ou talvez Edwards havia descoberto algo que nossa cultura anestesiada pela ilusão da perpetuidade perdeu: que pensar na morte é, paradoxalmente, aprender a viver. Sua resolução nos confronta com uma pergunta incômoda: se soubéssemos que hoje seria nosso último dia, como isso transformaria nossa oração matinal, nosso abraço no cônjuge, nossa paciência com os filhos, nossa fidelidade a Cristo?
A sabedoria de contar os dias
O salmista Moisés, esse ancião que conheceu a fragilidade humana como poucos, derrama sua alma numa súplica que ecoa através dos milênios: “Ensina-nos a contar os nossos dias.” A palavra hebraica para “contar” (manah) não sugere uma matemática fria, mas uma avaliação cuidadosa, como quem examina pedras preciosas sob a luz. Cada dia deve ser pesado, medido, considerado em sua singularidade irrepetível. Edwards compreendeu que esta contagem não é tarefa para amadores espirituais, mas disciplina para santos maduros.
“É a perspectiva da morte que torna os homens sérios; é isso que os desperta da sonolência e os faz pensar com seriedade. Quando um homem sabe que deve morrer em breve, quão poderosa motivação isso se torna para a preparação! Quão zelosamente ele redime o tempo! Como ele se separa das vaidades e se dedica aos negócios eternos!” Richard Baxter, “O Descanso Eterno dos Santos”, Cap. 1.
A morte, essa visitante democrática que não distingue entre rei e mendigo, sábio e tolo, jovem e ancião, possui um ministério pedagógico que nossa cultura secularizada desperdiça. Edwards não propunha uma obsessão mórbida, mas uma meditação santificada. Há uma diferença gigantesca entre o medo pagão da morte e a contemplação cristã da mortalidade. O primeiro paralisa; a segunda liberta. O primeiro gera desespero; a segunda produz sabedoria.
Quando Edwards falava das “circunstâncias comuns que acompanham a morte”, estava se referindo àquelas realidades universais que acompanham o último suspiro: a separação inevitável dos entes queridos, o abandono forçado de todas as posses terrenas, o encontro solitário com o Juiz eterno. Estas circunstâncias não são acidentais; são providenciais. Deus as ordenou para nos ensinar lições que só podem ser aprendidas à sombra da mortalidade.
“Muito em breve terás chegado ao fim aqui; considera, pois, como estão as coisas contigo. O homem é hoje, e amanhã já não aparece; e quando é tirado da vista, logo é tirado também da memória. Oh, estupidez e dureza do coração humano, que só pensa no presente e não provê mais para o futuro!” Thomas à Kempis, “Imitação de Cristo”, Livro I, Cap. 23.
A tradição puritana, da qual Edwards bebeu profundamente, entendia que a meditação sobre a morte era vitamina espiritual, não veneno existencial. Como John Owen observou, é impossível viver piedosamente sem morrer diariamente. Esta morte diária não é suicídio espiritual, mas ressurreição contínua. Cada vez que contemplamos nossa finitude, ressuscitamos para uma nova apreciação da eternidade; cada vez que reconhecemos nossa fragilidade, descobrimos a força inesgotável de Cristo.
O fim da jornada
“Para o cristão, a morte não é o fim, mas o cumprimento da vida. A morte não é a última palavra, mas a penúltima. A última palavra pertence a Deus, e essa palavra é vida, ressurreição, nova criação. Por isso, o cristão pode olhar para a morte sem medo, não porque a menospreze, mas porque sabe que ela foi vencida.” Dietrich Bonhoeffer, “Resistência e Submissão.
“A morte é o grande destruidor de conexões mundanas, mas também é o grande revelador de significados eternos. Na morte, todas as máscaras caem, todas as pretensões se desfazem, toda a vaidade se dissipa. O que resta é aquilo que realmente somos diante de Deus.” C.S. Lewis, “O Problema da Dor”, Cap. 6.
A resolução de Edwards nos convida a uma inversão radical de valores. Numa época que adora a juventude e teme o envelhecimento, que acumula tesouros terrestres e ignora os celestiais, que vive para o momento e esquece a eternidade, pensar na morte torna-se ato profético. É declarar que há mais na existência humana do que os prazeres fugazes e as conquistas temporárias.
Cristo, aquele que venceu a morte e lhe tirou o aguilhão, não nos chama para negar nossa mortalidade, mas para redimi-la. Ele mesmo contemplou sua morte com antecedência, preparou-se para ela com oração, e a enfrentou com a certeza da ressurreição. Quando pensamos frequentemente em nossa morte, não estamos nos rendendo ao pessimismo, mas nos alinhando com a realidade bíblica: somos peregrinos, não residentes permanentes; somos viajantes, não proprietários.
“A morte é o salário do pecado, mas para o cristão ela se torna a porta da glória. Cristo transformou a maldição em bênção, o julgamento em libertação, o fim em começo. Por isso, o crente pode dizer com Paulo: ‘Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” R.C. Sproul, “A Santidade de Deus”, Cap. 8.
A morte, vista através das lentes do evangelho, perde seu terror e ganha novo significado. Torna-se não o fim da história, mas o último capítulo do primeiro volume. Para o cristão, morrer é como um prisioneiro que é finalmente libertado, como um exilado que enfim retorna à pátria, é a igreja finalmente encontrando o noivo.
E agora, como viveremos?
Estabeleça momentos regulares para esta meditação santificada. Não se trata de alimentar medos mórbidos, mas de cultivar perspectiva eterna. Quando acordamos pela manhã, lembremo-nos de que este dia é presente de Deus, não direito adquirido. Quando nos deitamos à noite, agradeçamos por mais um dia de graça concedida.
Permita que esta consciência da mortalidade transforme seus relacionamentos. Se soubéssemos que nossa esposa, nosso marido, nossos filhos, nossos pais teriam apenas mais alguns dias conosco, como isso mudaria nossa paciência, nossa gentileza, nossa disposição para perdoar? A morte ensina-nos a valorizar o presente porque nos lembra da brevidade da vida.
Reavalie suas prioridades. Que projetos consumem nosso tempo? Que ambições dirigem nossos esforços? Que preocupações roubam nosso sono? Vistas à luz da mortalidade, muitas de nossas ansiedades revelam-se fúteis, muitos de nossos objetivos mostram-se inuteis.
Deixe que esta contemplação da morte o dirija para Cristo com maior urgência. Se nossa vida é vapor que aparece por pouco tempo e logo se desvanece, então cada momento sem Cristo é momento perdido para sempre. A mortalidade não deve gerar desespero, mas firmeza; não pessimismo, mas urgência santa.
Oremos
Senhor da vida e da morte, Tu que és o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, concede-nos a graça para contemplar nossa mortalidade com sabedoria, não com medo. Ensina-nos a contar nossos dias não como o avarento conta suas moedas, mas como o jardineiro conta suas estações. Que a consciência de nossa fragilidade nos conduza à rocha da Tua força; que o conhecimento de nossa temporalidade nos dirija à fonte da vida eterna.
Perdoa-nos por vivermos como se fôssemos imortais, desperdiçando os dias que graciosamente nos concedes. Liberta-nos da ilusão de que sempre haverá um amanhã para o arrependimento, sempre haverá tempo para amar melhor, sempre haverá oportunidade para servir com maior fidelidade.
Que meditemos na morte não para nos entristecer, mas para nos purificar; não para nos aterrorizar, mas para nos santificar. E quando chegue nossa hora derradeira, que a encontremos não como inimiga, mas como amiga que nos conduz finalmente ao lar eterno.
Em nome de Jesus, que morreu para que pudéssemos viver, e que vive para que pudéssemos morrer em paz. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- RESOLUÇÃO 05 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 06 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 07 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 08 – Jonathan Edwards

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!