1 Coríntios 10:31. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.”
RESOLUÇÃO 1. “Resolvo empenhar-me continuamente em descobrir novas maneiras e invenções para promover as coisas acima mencionadas.”
Qual o tamanho de nossa fé?
Há uma tensão devastadora que assola o coração cristão contemporâneo: a fragmentação entre o sagrado e o secular, entre a eternidade e o tempo presente. Vivemos como se nossas escolhas diárias fossem insignificantes diante do trono de Deus, como se a glória divina fosse apenas um ornamento dominical em nossas vidas compartimentalizadas. Mas quando um jovem de dezoito anos, na solidão de seu quarto em Yale, resolve dedicar cada respiração, cada pensamento, cada ato à glória de Deus “sem considerar o tempo, seja agora ou daqui a milhares de eras”, algo transcendente irrompe na banalidade da existência.
“Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele. Esta é a essência do hedonismo cristão. Deus não é glorificado quando servimos a ele por dever, mas quando servimos a ele por deleite. A única maneira de glorificar a Deus é desfrutar dele. Quando nós desfrutamos de Deus, ele é glorificado em nós.” Piper, John. Desiring God, p. 18.
“Toda a nossa vida deve ser um sacrifício oferecido a Deus. Nossa oração, nossa obra, nosso alimento, nossa bebida, nosso sono, nossos prazeres lícitos – tudo deve ser feito para a glória de Deus. Não podemos dividir nossa vida entre o sagrado e o secular.” Sproul, R.C. The Holiness of God, p. 167.
Jonathan Edwards não estava brincando de santo quando escreveu suas famosas Resoluções. Ele estava declarando guerra contra a mediocridade espiritual, contra a vida cristã morna que se contenta com migalhas de piedade. Suas palavras ecoam como um desafio incômodo: será que nossa fé possui a magnitude necessária para transformar não apenas nossos domingos, mas cada instante da nossa existência temporal em oferenda eterna?
Tudo para glória de Deus
“Não há nada de mais elevado na terra do que a resolução firme. Quando um homem resolve fazer algo para a glória de Deus, ele se torna participante da natureza divina. Suas ações deixam de ser meramente humanas e se tornam colaboração com o próprio Criador.” Dostoiévski, Fiódor. Os Irmãos Karamázov, p. 789.
As Resoluções de Edwards revelam a anatomia de uma alma sedenta de Deus. Quando ele resolve fazer “tudo o que julgar ser mais para a glória de Deus”, não está propondo um ascetismo melancólico, mas abraçando o que Calvino chamaria de “vida como teatro da glória de Deus”. Há uma beleza quase selvagem nessa entrega total – uma santidade que não se envergonha de buscar primeiramente a glória divina, entendendo “próprio bem, proveito e prazer” como consequencia da satisfação em Deus.
Esta não é a religiosidade masoquista que despreza as alegrias terrenas, mas a compreensão profunda de que nossa felicidade mais genuína floresce quando alinhada com os propósitos eternos de Deus. Edwards descobriu o que os puritanos chamavam de “hedonismo santo”, a verdade revolucionária de que glorificar a Deus e desfrutar dele para sempre não são duas atividades distintas, mas uma única realidade espiritual.
Observe a radicalidade temporal de sua resolução: “durante toda a minha vida, sem considerar o tempo, seja agora ou daqui a milhares de eras”. Aqui está um jovem que compreendeu que a eternidade não é simplesmente o que vem depois da morte, mas a dimensão na qual já vivemos. Cada decisão, cada palavra, cada gesto carrega peso eterno. Não existe vida cristã menor ou maior – existe apenas vida cristã integral, onde o presente é vivido sob o olhar ida eternidade.
A sentença seguinte amplia o horizonte: fazer “o que considerar ser meu dever e mais proveitoso para a humanidade em geral”. Edwards não estava cultivando uma piedade narcisista, mas uma santidade que transborda em amor sacrificial. Sua glória pessoal em Deus deveria necessariamente redundar em bênção para o mundo. Aqui está a teologia reformada em sua expressão mais pura: a glória de Deus e o bem da humanidade não competem entre si, mas dançam em harmonia perfeita.
“Devemos entender que a verdadeira religião não consiste em conhecimento, mas em prática. A religião que consiste apenas em conhecimento está morta. A religião que consiste em conhecimento e prática está viva. Não basta saber sobre Deus; devemos viver para Deus.” Edwards, Jonathan. Sermões, p. 123.
“A doutrina da eleição não nos foi dada para nos fazer preguiçosos, mas para nos fazer diligentes. Não nos foi dada para nos fazer presunçosos, mas para nos fazer humildes. Não nos foi dada para nos fazer indiferentes, mas para nos fazer zelosos.” Calvino, João. Institutas da Religião Cristã, Livro III, Cap. 21, p. 456.
E então vem a cláusula que separa os sonhadores dos santos: “quaisquer que sejam as dificuldades que encontrar, quantas forem e quão grandes forem”. Edwards sabia que resoluções piedosas sem determinação férrea são apenas sentimentalismo religioso. A vida cristã autêntica é uma guerra, não um passeio. É escolher a glória de Deus mesmo quando isso significa perda, incompreensão, sofrimento.
Que tipo de cristão você é?
As Resoluções de Edwards não são relíquias de uma época mais devota, mas espelhos que refletem a pobreza de nossa própria resolução espiritual. Elas nos confrontam com uma pergunta terrível e maravilhosa: que tipo de cristão somos quando ninguém está olhando? Que tipo de cristão somos quando a glória de Deus custa caro?
O evangelho não nos oferece uma vida mais fácil, mas uma vida mais plena, uma existência onde cada momento é carregado de significado eterno porque é vivido sob o olhar amoroso e santo de Deus. Cristo não morreu para nos dar uma religião de fim de semana, mas para nos dar uma vida que seja, em cada respiração, um ato de adoração.
“A vida cristã é uma vida de resolução constante. Não uma resolução feita uma vez, mas uma resolução renovada a cada manhã, a cada hora, a cada momento. É uma vida de escolhas deliberadas e constantes pela glória de Deus.” Lloyd-Jones, D. Martyn. Sermões sobre a Montanha, p. 234.
“Aquele que conhece a Deus não pode viver para si mesmo. O conhecimento de Deus produz necessariamente amor a Deus, e o amor a Deus produz necessariamente dedicação a Deus. Não há conhecimento verdadeiro de Deus sem consagração total.” Kuyper, Abraham. Lectures on Calvinism, p. 78.
Edwards nos convida a uma santidade que não teme a alegria, que não se envergonha da ambição santa, que não recua diante das dificuldades. Ele nos convida a viver como se a glória de Deus fosse realmente a coisa mais importante do universo – porque é.
E agora, como viveremos?
Como, então, vivemos as Resoluções de Edwards em nosso século?
Pare de separar a vida em compartimentos sagrados e seculares. Seu trabalho, seus relacionamentos, suas decisões financeiras, seus momentos de lazer – tudo deve passar pelo crivo da pergunta: “Isto glorifica a Deus e serve ao bem da humanidade?”
Abraçe a disciplina espiritual não como legalismo, mas como treinamento para a santidade. Edwards não se tornou um gigante espiritual por acidente, mas através de decisões deliberadas e constantes de buscar a Deus. Estabeleça suas próprias resoluções – específicas, mensuráveis, orientadas pela glória de Deus.
Prepare-se para as dificuldades. A vida cristã autêntica não é um caminho de rosas, mas um caminho de cruz. Quando as dificuldades vierem e elas virão, lembre-se de que são oportunidades de demonstrar que sua fé é real, que sua resolução é genuína.
Viva com a eternidade em mente. Não como escape da realidade presente, mas como o contexto que dá sentido a tudo o que fazemos. Você está vivendo uma vida que fará sentido em “milhares de eras”? Ou está desperdiçando sua existência em futilidades que não sobreviverão ao próximo domingo?
“Há homens que nascem para a grandeza, outros que conquistam a grandeza, e outros que têm a grandeza imposta sobre eles. Mas há uma quarta categoria: aqueles que escolhem a grandeza através de resoluções santas e as mantêm contra todas as adversidades.” Shakespeare, William. Hamlet, Ato III, Cena I, p. 234.
Oremos
Deus da eternidade e do tempo, confesso que muitas vezes vivo como se minha vida fosse minha própria propriedade, como se meus dias fossem insignificantes diante de Teus olhos eternos. Perdoa-me pela mediocridade espiritual, pela vida cristã compartimentalizada, pela falta de resolução santa. Concede-me a graça de seguir o exemplo de Edwards – não em sua pessoa, mas em sua paixão pela Tua glória. Que eu possa viver cada momento como oferenda santa, cada decisão como ato de adoração, cada dificuldade como oportunidade de demonstrar que minha fé é real. Ajuda-me a fazer minhas próprias resoluções santas e a mantê-las pela força do Teu Espírito. Que minha vida seja uma carta aberta da Tua graça, uma demonstração viva de que vale a pena viver para a Tua glória. Em nome de Jesus, que viveu perfeitamente para a glória do Pai, amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!