QUANDO O REI NOS ENSINA A SERVIR
“Servindo uns aos outros como Cristo: A revolução silenciosa do amor cristão autêntico.”
“Pois também o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.” Marcos 10:45.
O Paradoxo Real da Grandeza
Em 1776, quando George Washington poderia ter se tornado governante perpétuo dos Estados Unidos, ele escolheu renunciar ao poder e retornar à vida privada. Esse gesto impressionou tanto o rei George III da Inglaterra que ele declarou: “Se ele fizer isso, será o maior homem do mundo”. A grandeza verdadeira sempre se manifesta através da renúncia, não da acumulação de poder. Muito antes de Washington, alguém havia demonstrado essa verdade de forma ainda mais radical: Jesus Cristo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10:45).
No reino de Deus, a lógica se inverte completamente. Enquanto o mundo busca ser servido, Cristo nos chama para uma revolução silenciosa: servindo uns aos outros como expressão suprema de nossa fé. Esta não é apenas uma sugestão pastoral, mas o próprio DNA da vida cristã autêntica.
Imagine, se conseguir, esta cena absurda: o Imperador Romano lavando os pés de seus escravos. Ou melhor ainda, o CEO da Apple servindo café aos funcionários da limpeza. Risível? Certamente. Impossível? Para a lógica deste mundo, absolutamente. Mas há um reino onde tal cena não apenas é possível, como é o próprio fundamento da realidade. É o reino onde o Rei supremo se inclina para lavar pés sujos, onde “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Marcos 10:45).
Você já parou para considerar a ironia devastadora desta declaração? O único que tinha todo direito de ser servido escolheu servir. E nós, que não temos direito algum, insistimos em ser servidos. Como observaria Lewis, somos mendigos exigindo ser tratados como reis, enquanto o verdadeiro Rei se alegra em ser nosso servo.
Esta é a revolução silenciosa do evangelho: servindo uns aos outros, não como tarefa penosa, mas como expressão mais pura de quem realmente somos – ou melhor, de quem fomos criados para ser.
A Arquitetura Original do Coração
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras” (Efésios 2:10). “Nós somos a obra-prima de Deus, criados para uma vida boa”. Mas o que significa esta “vida boa”? Não é a vida confortável que o mundo promete, mas a vida doadora que Cristo modela.
Fomos modelados para o serviço como peixes foram feitos para a água. Nossa alma tem sede de servir assim como nossos pulmões têm sede de ar. Pedro nos lembra: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4:10). Somos mordomos, não proprietários; canais, não reservatórios.
Mas então veio a queda, essa catástrofe cósmica que Agostinho chamou de “Incurvatus in se” – “curvado para dentro de si mesmo”. O egoísmo não é apenas um defeito de caráter; é a distorção fundamental de nossa natureza. O pecado nos fez esquecer que fomos feitos para a glória de Deus e o bem do próximo.
As Máscaras Sofisticadas do Eu
O coração humano, disse Jeremias, é “enganoso acima de todas as coisas” (17:9). E em nenhum lugar essa enganação é mais sutil do que quando transformamos até mesmo o serviço em uma plataforma para o ego. Permitam-me desmascarar cinco disfarces que o egoísmo usa para se infiltrar no serviço cristão:
Primeiro, a reciprocidade condicional. Servimos enquanto somos servidos, mas quando a balança pende contra nós, retiramos nossa generosidade como uma criança birrenta recolhendo seus brinquedos. Segundo, a espiritualização da mesquinhez. Deixamos de contribuir financeiramente usando desculpas teológicas elegantes. Terceiro, a falsa dicotomia entre dinheiro e tempo. Como se Deus nos desse escolhas múltiplas na prova da generosidade.
Quarto, a idolatria do próprio serviço. Servimos para ser vistos, reconhecidos, aplaudidos. É o farisaísmo travestido de humildade. Por fim, a irresponsabilidade piedosa. Assumimos compromissos na igreja com a mesma seriedade com que prometemos começar uma dieta na segunda-feira.
O Rei que se prostrou para levantar Outros
Mas eis que surge uma figura que desafia toda nossa compreensão de poder e grandeza. João Calvino capturou esta verdade com precisão cirúrgica: “Cristo, sendo rico, se fez pobre por nós, para que pela sua pobreza fôssemos enriquecidos” (2 Coríntios 8:9). Não é poesia piedosa; é realidade histórica. O Logos eterno trocou a adoração dos anjos pelo desprezo dos homens.
Jesus não precisou aprender a servir; Ele é serviço em essência. Como disse a Confissão de Westminster, Ele “humilhou-se, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz”. Esta humilhação não foi constrangimento divino, mas escolha deliberada. Cristo não ficou esperando que fizessem coisas por Ele; Ele se desgastou pelos outros.
E aqui está o ponto que deve nos deixar sem fôlego: quando servimos uns aos outros, não estamos apenas tentando imitar Cristo – estamos participando da própria vida de Cristo. Quando você lava a louça para a esposa cansada, quando você ensina uma criança na escola dominical, quando você visita um enfermo no hospital, ali está Cristo servindo através de você.
A Alegria Subversiva do Serviço
Servir não é a “medicina amarga” da vida cristã que devemos engolir para sermos santos. É o mel que Deus escondeu na rocha da abnegação. Cada ato de serviço genuíno é uma pequena morte de nosso ego e uma pequena ressurreição da imagem de Cristo em nós.
Como diz o hino antigo: “Quando servimos com alegria, / Cada trabalho é oração”. Servindo uns aos outros, testemunhamos ao mundo que existe um reino onde o amor vence o egoísmo, onde a grandeza se mede pela capacidade de se diminuir pelo bem do outro.
O Convite Final: Tornar-se Filho do Rei Servo
Paulo nos exorta: “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Filipenses 2:4). Não é negação do cuidado próprio, mas expansão da perspectiva. Quando servimos genuinamente, descobrimos que somos também os maiores beneficiários.
Qual o benefício de servir? Ficar mais parecido com Jesus. Cada ato de serviço é cinzel divino esculpindo a imagem de Cristo em nossa alma. Servindo uns aos outros, proclamamos ao mundo: “Pelo amor é que todos conhecerão que sois meus discípulos” (João 13:35).
Lembre-se: Deus vê cada copo de água fria oferecido em Seu nome. Ele sabe de cada lágrima enxugada, cada fardo compartilhado, cada momento em que você escolheu servir em vez de ser servido. E no final, descobriremos a verdade mais doce de todas: servindo uns aos outros, fomos nós os mais servidos pelo próprio Cristo.
Senhor Jesus, Tu que sendo Rei dos reis escolheste o avental do servo, ensina-nos a alegria subversiva do serviço. Perdoa nosso egoísmo sutil que busca ser servido ao invés de servir. Capacita-nos pelo Teu Espírito a usar nossos dons não para nossa glória, mas para edificação do Teu corpo. Que servindo uns aos outros, reflitamos Tua imagem gloriosa e experimentemos a alegria transformadora de nos tornarmos mais parecidos Contigo. Em Teu santo nome, Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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