RESOLUÇÃO 05 – Jonathan Edwards

“O tempo como dom sagrado”

Efésios 5:15-16. “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus.”

RESOLUÇÃO 05. “Resolvo nunca perder um momento de tempo; mas aproveitá-lo da maneira mais proveitosa que eu puder.”

A santa urgência da vida

“O tempo é o tecido da vida. Desperdiçá-lo é desperdiçar a vida. Aproveitá-lo bem é usá-lo para a glória de Deus e o bem dos homens. É por isso que devemos ser muito cuidadosos sobre como gastamos nosso tempo, porque ele é o material com o qual a vida é construída.” Jonathan Edwards, Resoluções, p. 23.

Enquanto nos queixamos de sua escassez, desperdiçamos suas migalhas com a negligência de quem possui reservas eternas. Jonathan Edwards, aos vinte anos, compreendeu uma verdade que nos escapa: cada momento perdido é uma oportunidade de glorificar a Deus que se esvai para sempre. Sua quinta resolução ecoa como um desafio aos nossos corações: “nunca perder um momento de tempo; mas aproveitá-lo da maneira mais proveitosa que eu puder.”

Mas o que significa, verdadeiramente, não perder tempo? Será mera eficiência produtiva, ou há uma dimensão mais profunda, mais sagrada, no manejo dos nossos dias? A tensão reside aqui: vivemos como se fôssemos eternos, mas morremos como se fôssemos apenas vapor. Entre essas duas realidades paradoxais, somos chamados a descobrir o valor redentor de cada instante que Deus nos concede.

“A vida cristã autêntica é caracterizada por uma urgência santa – não a pressa ansiosa do mundo, mas a diligência de quem conhece o valor infinito de cada oportunidade de servir ao Senhor. O tempo é o único recurso verdadeiramente democrático: rico e pobre recebem exatamente a mesma quantidade a cada dia.” R.C. Sproul, A Santidade de Deus, p. 203.

O que temos feito de nossos dias?

Paulo nos exorta a “remir o tempo”, usando uma metáfora comercial que evoca a imagem de um comerciante astuto que reconhece uma oportunidade única no mercado. A palavra grega exagorazo sugere o ato de comprar de volta algo precioso que estava perdido. Que profundidade! Nosso tempo, corrompido pela queda, pelo pecado, pela futilidade, pode ser redimido, transformado em algo de valor eterno.

Edwards compreendia esta verdade com uma clareza que corta através das névoas da nossa complacência(Tendência usual para concordar com outra pessoa, buscando agradá-la ou tentando ser agradável) moderna. Sua resolução não nasceu de um perfeccionismo neurótico, mas de uma teologia robusta sobre a soberania divina e a brevidade humana. Para ele, cada momento era uma oportunidade de conhecer a Deus mais profundamente, de servi-lo mais fielmente, de crescer em santidade mais consistentemente.

“A vida é demasiado breve para ser desperdiçada em futilidades. Cada momento deve ser aproveitado para a glória de Deus e o bem de nossas almas. O cristão sábio faz de cada dia uma preparação para a eternidade, sabendo que logo prestará contas de sua mordomia temporal.” Martinho Lutero, Obras Selecionadas, p. 267.

A cultura contemporânea nos seduz com a ilusão de que o tempo é nosso para ser consumido em entretenimento perpétuo. Vivemos a era da distração infinita, onde redes sociais, streaming e jogos digitais conspiram para roubar não apenas nossos momentos, mas nossa própria capacidade de contemplação profunda. Edwards nos chama de volta à sobriedade espiritual: o tempo é um empréstimo divino, não um direito humano.

Mas há beleza nesta urgência. Não se trata de uma ansiedade produtivista que transforma a vida em uma corrida frenética contra o relógio. Antes, é a serenidade de quem descobriu que amar a Deus e ao próximo é a atividade mais proveitosa que existe. É encontrar em cada conversação uma chance de ministrar graça, em cada leitura uma oportunidade de renovação mental, em cada oração um momento de comunhão com o Eterno.

A resolução nos confronta com uma pergunta incômoda: se Jesus voltasse hoje, como explicaríamos o uso que fizemos das últimas vinte e quatro horas? Que frutos eternos brotaram do tempo que recebemos? Edwards vivia sob o peso glorioso desta prestação de contas, e isso transformou cada dia em uma oferenda.

“O tempo é o tecido da eternidade. Como o tecelão hábil aproveita cada fio para criar uma tapeçaria bela, assim o crente deve usar cada momento para formar um caráter que honre a Cristo. Não há tempo perdido na economia divina quando vivemos conscientemente na presença de Deus.” Abraham Kuyper, Calvinismo, p. 189.

Use bem o presente do tempo

“Quando finalmente compreendermos que cada momento é um presente de Deus, começaremos a viver com a reverência devida a quem manuseia coisas sagradas. O tempo bem usado se transforma em eternidade bem preparada. A vida temporal ganha significado quando vivida sob a perspectiva da vida eterna.” Eugene Peterson, Uma Obediência Longa na Mesma Direção, p. 156.

“Cristo é o Senhor do tempo. Ele entrou na história humana para redimir não apenas nossas almas, mas também nossos dias. Quando vivemos em união com Ele, cada momento se torna uma oportunidade de participar na obra redentora divina. Não há atividade mundana demais para ser santificada pela presença de Cristo.” Dietrich Bonhoeffer, O Custo do Discipulado, p. 298.

A resolução de Edwards nos traz de volta ao Evangelho. Cristo mesmo viveu uma vida de perfeita economia temporal – nunca apressado, nunca atrasado, sempre no tempo exato do Pai. Ele redimiu nosso tempo perdido, nossa procrastinação espiritual, nossa negligência sagrada. Na cruz, Ele transformou o momento mais sombrio da história humana no instante mais glorioso da redenção.

Por isso, nossa busca por aproveitar bem o tempo não é legalismo religioso, mas resposta amorosa à graça recebida. Não buscamos merecer a salvação através da produtividade espiritual, mas expressamos gratidão através da mordomia fiel. Cristo nos liberta tanto do desperdício quanto da ansiedade temporal.

A eternidade dará novo significado a cada momento bem vivido aqui. Cada palavra de encorajamento, cada ato de serviço, cada momento de adoração sincera será revelado como investimento em tesouros que não se corrompem. Edwards vislumbrou esta perspectiva eterna e isso transformou sua relação com o tempo presente.

Que possamos, como ele, viver cada dia como se fosse simultaneamente o primeiro e o último – com o frescor da esperança e a urgência da responsabilidade. O tempo realmente é um dom sagrado, e nossa resposta determina não apenas a qualidade desta vida, mas o peso da glória na próxima.

“A eternidade não é simplesmente tempo prolongado, mas uma qualidade diferente de existência. No entanto, é aqui, no tempo, que nos preparamos para aquela realidade eterna. Cada momento vivido na dependência de Deus é uma antecipação da vida celestial.” C.S. Lewis, O Peso da Glória, p. 143.

E agora, como viveremos?

Como, então, podemos viver a Resolução 5 de Edwards em nossos dias?

Desenvolva uma consciência temporal santificada. Isso significa começar cada manhã perguntando não “o que quero fazer hoje?”, mas “como posso glorificar a Deus hoje?”. Significa avaliar nossas atividades não apenas por sua eficiência, mas por seu valor eterno.

Praticamente, isso pode envolver criar ritmos diários de oração e leitura bíblica que ancoram nossos dias na Palavra de Deus. Pode significar ser mais intencional em nossas conversações, vendo cada encontro como oportunidade de ministrar graça. Pode exigir a coragem de eliminar atividades que, embora não sejam necessariamente pecaminosas, são simplesmente vazias de propósito redentor.

Em seus relacionamentos, esteja verdadeiramente presente – não fisicamente apenas, mas mental e espiritualmente engajado. Em nosso trabalho, somos convidados a excelência como forma de testemunho. No descanso, somos ensinados que até mesmo o lazer pode ser um ato de adoração quando vivido na gratidão e na presença de Deus.

A tecnologia moderna requer sabedoria especial, pois as redes sociais e entretenimentos digitais podem ser ferramentas úteis ou ladrões de tempo, dependendo de como os abordamos. Edwards nos ajudaria a perguntar: estas atividades me aproximam de Deus e do próximo, ou me afastam deles? Contribuem para meu crescimento espiritual ou o impedem?

Essa resolução nos chama a viver uma esperança escatológica ativa. Não desperdiçamos tempo porque sabemos que Deus está preparando todas as coisas para o dia final. Cada momento redimido é investimento no Reino que há de vir, cada palavra de amor uma antecipação da eternidade onde o tempo cederá lugar à plenitude perfeita da presença divina.

Oremos

Senhor do tempo e da eternidade, confessamos que tratamos muitas vezes teus dias como se fossem nossos, tuas horas como se as possuíssemos. Perdoa nossa negligência e desperdício do dom sagrado que é o tempo. Concede-nos a sabedoria de Jonathan Edwards para ver cada momento como oportunidade de Te conhecer melhor e Te servir mais fielmente. Livra-nos tanto da pressa ansiosa quanto da procrastinação espiritual. Ensina-nos a viver com a urgência santa de quem conhece o valor eterno de cada instante. Que nossa mordomia temporal seja expressão de gratidão pela salvação que recebemos em Cristo. Que cada dia seja vivido na consciência de Tua presença, cada tarefa executada para Tua glória, cada relacionamento nutrido como reflexo de Teu amor. Em nome de Jesus, o Senhor do tempo. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.