“O espetáculo que devora almas – Como as redes sociais sequestram nossa contemplação sagrada.”
“Digo a vocês que, no Dia do Juízo, as pessoas darão conta de toda palavra inútil que proferirem; porque, pelas suas palavras, você será justificado e, pelas suas palavras, você será condenado.” (Mateus 12:36-37). Cristo pronunciou estas palavras muito antes dos algoritmos aprenderem a capturar nossa atenção para lucro, mas sua advertência ecoa com urgência profética em nossa era digital. Se daremos conta de cada palavra ociosa, que diremos das horas ociosas perdidas nas redes sociais?
Uma geração que tem acesso instantâneo a bibliotecas inteiras de sabedoria cristã, mas que escolhe alimentar-se de migalhas digitais de entretenimento vazio. Como observaria C.S. Lewis, somos como crianças fazendo tortas de lama no quintal quando poderíamos estar desfrutando de férias na praia – satisfazendo-nos com prazeres inferiores porque não conhecemos os superiores.
A Arquitetura da Distração Espiritual
Vivemos numa época sem precedentes, onde o perigo das redes sociais não reside apenas no conteúdo que consumimos, mas na própria estrutura que consome nossa capacidade de contemplação, perdemos a arte de escutar sem pressa – aquela paciência de observar, admirar que permite que a voz de Deus penetre através do ruído da pressa moderna.
Considere a natureza dos espetáculos digitais que nos capturam diariamente. Não são meramente entretenimentos neutros, mas teatros cuidadosamente orquestrados para capturar e fragmentar nossa atenção. Todos nós desejamos encontrar deslumbramento, algo que seja encantador, que nos leve a um estado de espírito mais elevado, esse desejo foi criado para Deus, mas nossa geração o busca nas telas luminosas que prometem glória instantânea e entregam vazio digital.
O reformador João Calvino ensinou que fomos criados para contemplar a glória de Deus, mas nossos corações corrompidos pelo pecado buscam constantemente substitutos vãos para essa contemplação suprema. As redes sociais materializam perfeitamente essa verdade teológica: oferecem uma paródia da comunhão, uma imitação da contemplação, uma farsa da adoração.
O Controle Ilusório e a Tirania da Escolha
Nossa geração não está se perdendo por falta de opções espirituais, mas pelo excesso de opções carnais! O perigo das redes sociais não está apenas no que escolhemos ver, mas em nossa obsessão pela própria escolha.
Já não somos nós que buscamos espetáculos; algoritmos programados nos buscam com precisão cirúrgica, apresentando-se sem exigir mais que um toque na tela. Com a reprodução automática, perdemos até mesmo a pequena disciplina de escolher conscientemente o que consumimos. Tornamo-nos consumidores auto consumidos, compradores de atenção cuja vida recebe novo contorno pelas próximas notificações em nossos telefones.
Herman Bavinck, profetizou sobre como a modernidade criaria novas formas sutis de idolatria. As redes sociais exemplificam essa profecia: prometem conexão e entregam isolamento, prometem informação e entregam distração, prometem comunidade e entregam tribos digitais fragmentadas.
A Fome Insaciável por Glória Falsificada
“Pôs Deus a eternidade no coração do homem” (Eclesiastes 3:11), criando em nós um coração espaçoso, faminto e incansável por transcendência. Mas como “os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.” (Eclesiastes 1:8), nossa geração alimenta essa fome eterna com petiscos digitais que nunca satisfazem.
O perigo das redes sociais revela-se aqui em sua forma mais sutil: não apenas nos oferecem entretenimento, mas prometem satisfação sem fim. Cada “like” sussurra validação, cada compartilhamento oferece um momento de relevância, cada comentário promete conexão autêntica. Contudo, como “os olhos do homem nunca se satisfazem” (Provérbios 27:20), continuamos correndo os dedos pela tela, completamente embriagados, buscando no próximo post aquilo que somente Cristo pode oferecer.
David Foster Wallace chamou nossa compulsão por telas de “um impulso religioso distorcido” – uma entrega de si que deveria estar reservada apenas para Deus. Quantos cristãos sinceros descobrem, para seu horror, que conseguem gastar horas consumindo conteúdo digital, mas lutam para manter quinze minutos de oração concentrada?
A Colonização da Vida Interior
Escolhemos nos entregar às vidas que vemos nas telas e que jamais poderíamos experimentar pessoalmente. O perigo das redes sociais não é apenas roubar nosso tempo, mas colonizar nossa imaginação. Escapamos para vidas que não são nossas, nos acomodamos às experiências de outros, vivendo dentro de simulações projetadas pelas vidas de influenciadores que nem conhecemos.
Na era do espetáculo digital, abandonamos os contornos sólidos de nossa existência, o lugar específico onde Deus nos colocou, as pessoas reais que Ele nos deu para amar, as responsabilidades concretas que Ele nos confiou. Perdemos nossa identidade como filhos de Deus e nosso lugar na comunidade real dos santos, preferindo a comunidade virtual dos seguidores, nos tornamos estrangeiros em nossa própria vida, turistas em nossa própria história, espectadores de nossa própria existência.
A Guerra Pela Atenção Sagrada
O perigo das redes sociais reside precisamente na formação involuntária de hábitos que fragmentam nossa capacidade de atenção, especialmente aquela atenção contemplativa necessária para a vida espiritual profunda.
“Portanto, tenham cuidado com a maneira como vocês vivem, e vivam não como tolos, mas como sábios, aproveitando bem o tempo, porque os dias são maus.” (Efésios 5:15-16)
As redes sociais, embora neutras em sua essência, se tornaram um campo fértil para distrações sutis e hábitos espiritualmente prejudiciais. O maior perigo não é apenas o conteúdo explícito, mas o quanto elas moldam silenciosamente nossos desejos, percepções e prioridades. A sabedoria, nesses dias maus, exige mais do que boas intenções: requer discernimento, disciplina e oração constante. Precisamos de olhos abertos e corações despertos, reconhecendo que cada minuto online pode ser uma semente de virtude ou vaidade. Viver como sábios, hoje, é usar até mesmo os meios digitais como instrumentos redimidos para a glória de Deus, e não como atalhos para a superficialidade.
A Transformação Através da Contemplação Sagrada
David Platt oferece o antídoto necessário: “Você não se torna parecido com Cristo sentando-se à frente de telas a semana inteira. Você se torna como Cristo quando contempla a glória de Cristo e expõe sua vida, momento a momento, à glória dele”, através da revelação de Deus na Escritura.
Para nos libertarmos das armadilhas no uso das redes sociais, somos chamados a uma disciplina totalmente estranha a este mundo: a contemplação diária da glória de Deus manifesta em Jesus Cristo.
A solução não está no isolamento total da tecnologia, mas na santificação de nosso uso dela. Precisamos desenvolver hábitos espirituais que nos mantenham centrados em Cristo enquanto navegamos responsavelmente por essa era digital. Nossa geração deve responder biblicamente aos desafios únicos das plataformas digitais.
A Esperança da Transformação Espiritual
O perigo das redes sociais é real e multifacetado, mas como cristãos não somos chamados ao desespero, mas à sabedoria bíblica e dependência do Espírito Santo. Nossa geração tem a responsabilidade única de demonstrar como a verdade eterna pode orientar nossa interação com tecnologias modernas.
Lembre-se: “de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo.” Se isso vale para palavras, quanto mais para horas inteiras perdidas em rolar infinitamente a tela de nossos celulares? Que possamos ser uma geração que contempla a glória de Cristo acima de todos os espetáculos temporais, encontrando n’Ele a satisfação que nenhuma tela pode oferecer.
Que nosso novo apetite nos conduza para Cristo, pois nenhum outro fator distingue tão claramente o apetite do cristão do apetite do mundo por espetáculos fabricados. Na contemplação de Sua glória, encontramos não apenas libertação do perigo das redes sociais, mas a verdadeira vida para a qual fomos criados.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!