A série The Chosen se firmou como um fenômeno cultural e espiritual sem precedentes entre as adaptações bíblicas contemporâneas. Lançada em 2017, a produção oferece uma representação dos eventos do Novo Testamento com uma abordagem profundamente humana e, ao mesmo tempo, teologicamente fiel. Programada para ter sete temporadas, The Chosen apresenta qualidade cinematográfica comparável a grandes produções de Hollywood, sendo inteiramente financiada por doações.
Embora inicialmente parecesse direcionada a um público cristão específico, a série rapidamente ultrapassou barreiras confessionais e culturais. Católicos, evangélicos e até pessoas sem filiação religiosa têm se reunido com entusiasmo para acompanhar a jornada de Jesus retratada na tela. O impacto global é inegável: atualmente, The Chosen está sendo exibida nos cinemas de mais de 40 países, incluindo o Brasil.
No Brasil, os números são impressionantes. A estreia da quinta temporada, há poucas semanas, atraiu 300 mil espectadores apenas no primeiro fim de semana, gerando mais de R$ 6,6 milhões em bilheteria. E o sucesso continua. Entre os dias 17 e 20 de abril, em pleno feriado, cerca de 199 mil pessoas foram aos cinemas assistir à série, com uma arrecadação de R$ 4,5 milhões apenas nesse período. Desde a estreia, The Chosen tem liderado ou ocupado as primeiras posições nas bilheteiras brasileiras, sendo o filme mais assistido no país no fim de semana de estreia, e ainda mantendo o segundo lugar mesmo após a terceira semana em cartaz.
Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno que transcende o entretenimento e toca profundamente a experiência espiritual de públicos diversos ao redor do mundo.
A visão teológica por trás de The Chosen
Dallas Jenkins, o criador da série, demonstrou notável compromisso com a integridade teológica ao reunir consultores de diferentes tradições cristãs: um padre católico, um rabino judeu messiânico e um teólogo evangélico. Esta colaboração garante que The Chosen, apesar de suas necessárias adaptações criativas, permaneça fiel à essência e à mensagem transformadora dos evangelhos.
A nota de The Chosen nos portais de avaliação de filmes e séries chega 9.1 de 10, com 58.000 mil avaliações e isso não é mera coincidência, mas o reflexo de uma produção que consegue equilibrar excelência artística com reverência ao texto sagrado. Ao explorar a humanidade dos personagens bíblicos, a série nos convida a reconhecer nossa própria jornada espiritual refletida nas transformações daqueles que encontraram Jesus.
Narrativa inovadora e fidelidade bíblica
A arte da extrapolação contextual
The Chosen emprega uma técnica narrativa que poderíamos chamar de “extrapolação contextual” — expandindo breves menções bíblicas em arcos narrativos completos e emocionalmente marcantes. Por exemplo, quando Lucas 5:4-5 relata:
“Quando acabou de falar, disse a Simão: ‘Vá para onde as águas são mais fundas’, disse ele, ‘e jogue as redes para a pesca’. Simão respondeu: ‘Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes’.”
A série transforma esta breve passagem em uma exploração profunda dos dilemas de Pedro: seu casamento sob pressão, dificuldades financeiras e a opressão romana. Assim, o texto bíblico ganha novas dimensões sem perder sua essência original.
Tensão dramática com propósito teológico
Enquanto produções hollywoodianas frequentemente distorcem narrativas bíblicas em busca de espetáculo, The Chosen utiliza tensão dramática para iluminar verdades teológicas. No segundo episódio da quinta temporada, a preparação para a cena da expulsão dos vendilhões do templo não serve apenas como entretenimento, mas como um poderoso comentário sobre a corrupção religiosa e as barreiras que impedem verdadeiros adoradores de se aproximarem de Deus.
Esta abordagem ecoa o método do próprio Jesus, que frequentemente utilizava parábolas e narrativas para transmitir verdades espirituais profundas de maneira acessível e memorável.
Jesus através dos olhos dos outros
Uma das estratégias mais brilhantes de The Chosen é revelar Jesus através do impacto que ele causa em outros personagens. No primeiro episódio, conhecemos Lilit (Maria Madalena) em seu estado de desespero, possuída por demônios e sem esperança. Jesus aparece apenas nos minutos finais, mas sua presença transformadora é magnificada pela radical mudança na vida de Madalena.
Esta técnica narrativa reflete uma verdade teológica fundamental: conhecemos Cristo não apenas pelo que lemos sobre ele, mas pela transformação que ele opera em nós e naqueles ao nosso redor. Como Paulo escreveu em 2 Coríntios 5:17: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!”
Liberdade criativa a serviço da verdade
O dilema da adaptação bíblica
Toda adaptação bíblica enfrenta o desafio de preencher lacunas narrativas enquanto permanece fiel ao texto sagrado. The Chosen assume liberdades criativas — alterando nomes, incluindo histórias originais e ajustando a sequência de eventos — sempre com o propósito de iluminar, nunca de contradizer, os princípios dos evangelhos.
Historicamente, esta prática tem raízes na tradição midráshica judaica e nas representações medievais dos mistérios bíblicos, que expandiam narrativas bíblicas para torná-las mais acessíveis e significativas para seu público. Assim como os grandes teólogos reformados buscaram tornar as doutrinas bíblicas relevantes para seu tempo sem comprometer sua essência, The Chosen busca transmitir verdades eternas em uma linguagem cinematográfica contemporânea.
Verossimilhança histórica e artística
Embora The Chosen apresente algumas imprecisões históricas — como a representação da cobrança de impostos por soldados romanos e certos aspectos do farisaísmo — a série alcança uma verossimilhança artística que serve ao seu propósito principal: aproximar o público da realidade do primeiro século e da mensagem transformadora de Jesus.
Como observou C.S. Lewis, “Deus está no negócio de usar coisas imperfeitas para seus propósitos perfeitos.” A imperfeição histórica ocasional não diminui o poder espiritual da série, que convida o espectador a uma reflexão profunda sobre o significado dos evangelhos para nossa vida cotidiana.
Impacto espiritual e cultural de The Chosen
Humanização do sagrado
O maior triunfo de The Chosen talvez seja sua capacidade de humanizar figuras bíblicas sem dessacralizá-las. Ao mostrar Pedro lutando com inseguranças, Mateus enfrentando rejeição social, ou Maria processando seu passado traumático, a série nos lembra que Deus escolheu trabalhar através de pessoas reais, com falhas reais.
Este aspecto da série ecoa a tradição reformada da “comum graça”, a ideia de que Deus trabalha através de meios ordinários e pessoas imperfeitas para realizar seus propósitos extraordinários. Como observou o teólogo Herman Bavinck: “A graça não anula a natureza, mas a restaura e a aperfeiçoa.”
Um convite à comunidade
Ao retratar a formação da primeira comunidade de seguidores de Jesus, The Chosen oferece um modelo poderoso para a igreja contemporânea. Vemos pessoas de diferentes origens sociais, políticas e religiosas unidas por seu encontro com Cristo, um lembrete oportuno de que o evangelho transcende nossas divisões humanas.
Como Paulo escreve em Gálatas 3:28: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos vocês são um em Cristo Jesus.” A série visualiza esta verdade teológica de maneira tangível e inspiradora.
The Chosen como ferramenta para reflexão teológica
The Chosen representa muito mais que entretenimento, é uma ferramenta valiosa para reflexão teológica e crescimento espiritual. Ao despertar curiosidade sobre os textos bíblicos e humanizar a narrativa do evangelho, a série convida tanto crentes quanto céticos a um encontro renovado com Jesus e sua mensagem.
Para os cristãos, The Chosen oferece uma oportunidade de redescobrir as familiares histórias bíblicas com nova profundidade emocional e contextual. Para os não-crentes, a série apresenta Jesus não como uma figura distante e mitológica, mas como uma pessoa real cujas palavras e ações merecem séria consideração.
Em um tempo de polarização religiosa e cultural, The Chosen nos lembra que no centro da fé cristã está uma pessoa, Jesus Cristo, cuja vida, morte e ressurreição continuam a transformar vidas hoje, assim como transformaram as vidas daqueles primeiros “escolhidos” há dois mil anos.
Perguntas frequentes sobre The Chosen
The Chosen é teologicamente precisa?
The Chosen busca ser fiel à essência teológica dos evangelhos, embora tome liberdades criativas para preencher lacunas narrativas. A série conta com consultores teológicos de diferentes tradições cristãs para garantir que, mesmo com adaptações, a mensagem central de Jesus permaneça intacta.
Por que The Chosen mostra detalhes que não estão na Bíblia?
A Bíblia frequentemente fornece relatos concisos de eventos, sem explorar motivações psicológicas, diálogos completos ou contexto histórico detalhado. The Chosen expande essas narrativas para criar uma experiência cinematográfica imersiva, ajudando o público a conectar-se emocionalmente com as histórias bíblicas, sem contradizer o texto sagrado.
Como cristãos devem abordar as adaptações criativas em The Chosen?
The Chosen é, acima de tudo, uma obra de arte — bela, comovente e cuidadosamente construída. Embora seja bem pesquisada e retrate com realismo o contexto da época de Jesus, ela não é perfeita nem pretende ser um substituto das Escrituras. Como toda produção artística, a série usa certa liberdade criativa para contar sua história, o que é natural nesse formato. Por isso, mesmo tratando dos mesmos eventos descritos nos Evangelhos, assistir à série não substitui a leitura da Bíblia — são experiências diferentes. O que The Chosen pode fazer, e faz com excelência, é despertar em muitos o desejo de se aproximar mais das Escrituras, da oração e de uma vida espiritual mais intencional. Em um mundo dominado por telas e distrações, é algo valioso termos um conteúdo com tamanha qualidade e valores tão sólidos.
The Chosen é adequada para estudos bíblicos em grupo?
The Chosen pode enriquecer estudos bíblicos ao oferecer um ponto de partida visual para discussões sobre o contexto histórico, cultural e relacional dos evangelhos. Recomenda-se, contudo, sempre retornar ao texto bíblico como autoridade final, usando a série como ferramenta para aprofundar, não substituir, o estudo da Escritura.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!